Vídeos de recrutamento garantem que as forças armadas britânicas estão abertas a gays, mulheres e muçulmanos.

Mesmo os espaços tradicionalmente mais avessos às minorias podem se
abrir à diversidade. É o que querem provar as forças armadas britânicas,
que recentemente lançaram uma campanha voltada especificamente ao
recrutamento de mais mulheres, pessoas LGBT e muçulmanos.
A campanha, entitulada Belonging 2018 (“Pertencimento 2018”)
consiste de cinco animações, narradas por soldades reais. Os vídeos
buscam responder questões como “Posso ser gay no exército?”, “Posso
praticar minha fé no exército?” e “Vão me dar ouvidos no exército?”
(esse último, voltado às mulheres). Outros dois vídeos buscam combater a
masculinidade tóxica que é comumente associada às forças armadas: “Eu
tenho que ser um super-herói para entrar no exército?” (para quem não
está em forma) e “O que acontece se eu ficar emocionado no exército?”.
UK Army Ad: ‘This is Belonging 2018’.
https://www.youtube.com/watch?v=Q1vCe3BAnws
O exército britânico, garantem os vídeos, é um lugar que dá
oportunidades iguais a pessoas de todos os gêneros, e em que um soldado
pode sentir-se à vontade para comentar que namora outro homem, assim
como seus colegas comentam sobre suas namoradas. As diferentes religiões
todas têm lugar, e práticas como as cinco orações diárias dos
muçulmanos são respeitadas.

Posso rezar no exército?
A campanha vem em decorrência nas mudanças demográficas e culturais
do Reino Unido. O general Sir Nick Carter, chefe do exército britânico, explicou no programa Today da BBC Radio 4:
“os recrutas do exército tradicionalmente são homens brancos e jovens
entre os 16 e 25 anos, mas as mudanças demográficas do país fazem com
que já não haja mais tantas pessoas nesse perfil quanto antes. Nossa
sociedade está se transformando, e acho que é absolutamente adequado
que, portanto, nós tentemos alcançar uma base mais ampla, para conseguir
os talentos necessários para manter nossa força de combate.”

“Vão me dar ouvidos?”
Infelizmente as críticas daqueles que ainda pensam com a cabeça do
século passado também acontecem no Reino Unido. “O exército, assim como o
resto do governo, está se deixando levar para o caminho do
politicamente correto”, reclamou o coronel aposentado Richard Kemp no programa BBC Breakfast.
“O que é mais importante é que o exército esteja repleto de soldados. É
secundário se esse exército reflete a composição da sociedade”.

Posso me emocionar no exército?
Outras críticas muito mais razoáveis foram feitas a outra prática de
recrutamento do exército: aceitar candidatos entre os 16 e 18 anos. “É
positivo que as forças armadas estejam considerando maneiras de serem
mais inclusivas e mostrar que a saúde emocional dos soldados é uma
prioridade”, apontou Reem Abu-Hayyeh, membro da organização Medact. “No
entanto, nossas pesquisas demonstram que os jovens recrutados pelo
exército correm riscos maiores de estresse pós-traumético, automutilação
e suicídio. O Reino Unido é um dos poucos países que ainda recruta
pessoas com 16 anos para o exército. A melhor maneira do exército
proteger a juventude é não recrutar ninguém com menos de 18 anos.”
Way Sharrocks, um ex-soldado que hoje atua na organização Peace
Pledge Union, concorda e aponta inconsistências entre a campanha e a
realidade: “punições físicas brutais são lugar-comum. O medo de se
questionar ordens é forjado logo cedo, e o exército faz uso de técnicas
sofisticadas para remover a aversão a matar. Tudo isso tem efeitos
negativos na saúde mental dos soldados.” Se campanha como a Belonging 2018
são sinais de que a cultura no exército está evoluindo, práticas
desumanizantes como estas provam que ainda há muito o que ser feito.
Disponível em: http://ladobi.uol.com.br/2018/01/exercito-britanico-belong-2018/
Nenhum comentário:
Postar um comentário