"Como o número absoluto de jovens está diminuindo, este seria o
momento para se investir nos direitos da juventude, permitindo uma
tranquila e avançada transição para a vida adulta. O Brasil precisaria
“enriquecer” antes de envelhecer. O futuro do país depende do avanço
qualitativo da inserção social das novas gerações", escreve José Eustáquio Diniz Alves,
doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em
População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de
Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 18-12-2017.
Eis o artigo.
O futuro de qualquer nação depende de uma população com alto nível educacional e uma boa inserção no mercado de trabalho.
Indivíduos com maior qualificação tendem a ser trabalhadores mais
produtivos. A produtividade do trabalho é condição essencial para o
aumento da produção da riqueza per capita. Ou seja, um país com alto
padrão de bem-estar
é aquele que aproveita o potencial produtivo de sua população,
aumentando a quantidade de bens e serviços gerados por unidade de
trabalho (com respeito ao meio ambiente). Por isto, existem duas
bandeiras que são fundamentais para o progresso nacional: 1) educação de
qualidade para todos; e 2) pleno emprego e trabalho decente.
Dar educação de qualidade para todos e
garantir altas taxas de atividade – como mecanismos de efetivação da
cidadania e de criação das bases materiais de uma economia produtiva e
próspera – são pré-condições para a riqueza das nações.
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Dar educação de qualidade para todos e garantir
altas taxas de atividade – como mecanismos de efetivação da cidadania e
de criação das bases materiais de uma economia produtiva e próspera –
são pré-condições para a riqueza das nações. Este processo – chamado de
desenvolvimento – não é simples e só se efetiva durante muitas décadas
ou até mesmo séculos. São necessárias melhorias incrementais por várias
gerações para implementar um processo de mobilidade social ascendente
intergeracional. O princípio básico do progresso de longo prazo é que os
jovens superem os adultos e idosos em cidadania e produtividade (maior
quantidade e maior qualidade na educação e no emprego). Diante de tudo
isto, é preocupante acompanhar o que está acontecendo no Brasil. Em 2016, um quarto dos jovens estavam fora da escola e do mercado de trabalho. O percentual de jovens (16 a 29 anos) que nem estudavam nem estavam ocupados no Brasil (os chamados “nem-nem”)
aumentou de 22,7%, em 2014 para 25,8% em 2016, representando um
montante de 11,6 milhões de jovens. Este aumento ocorreu em todas as
regiões do país, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), de 2017, do IBGE.
A maior incidência de jovens
que não estudavam e nem estavam ocupados (ou mesmo procurando emprego)
ocorre entre jovens com o ensino fundamental incompleto ou equivalente,
entre aqueles de cor preta ou parda (os negros), entre as mulheres e
entre a população pobre. Assim, o fenômeno dos jovens nem-nem reforça os diferenciais de gênero, de raça e de classe, acentuando os problemas de exclusão e desigualdade social do Brasil.
Se a situação está ruim para os jovens, está pior para as crianças e pré-adolescentes. Ainda segundo o IBGE, o Brasil
tinha 42,1 milhões de indivíduos de zero a 14 anos de idade em 2016.
Desses, 42,4% estavam na pobreza e viviam com renda domiciliar per
capita diária inferior a US$ 5,50 (R$ 387,07 por mês). As crianças
pobres quando crescerem terão como perspectiva engrossar o contingente
de jovens nem-nem, reforçando o ciclo intergeracional da pobreza.
A falta de alternativas para crianças e jovens não é uma novidade e
nem um drama recente. Na verdade, a juventude brasileira foi às ruas em
grandes manifestações de massa em junho de 2013 protestando contra a
incompetência do governo e a falta de perspectivas no transporte, na
educação, no mercado de trabalho, etc. Os jovens também protestaram
contra a manipulação e a corrupção ocorridas nos grandes eventos (Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas).
De lá para cá as coisas pioraram ainda mais e agora – diante da
profunda crise dos partidos políticos e a desmobilização geral da
sociedade civil – só restam as manifestações de ódio e de desencanto nas
redes sociais. Neste ano em que a palavra ‘youthquake’ (revolução
promovida por jovens) foi eleita como destaque pelo dicionário Oxford, o
aumento da pobreza e o crescimento dos jovens nem-nem no Brasil mostram o quanto o país está devendo às suas crianças e aos seus jovens.
A nação brasileira está comprometendo o futuro de suas crianças e
desperdiçando o potencial de, pelo menos, um quarto de sua juventude.
Jovens frustrados serão adultos frustrados e decepcionados. E o pior,
jovens sem perspectiva de ascensão social tendem a ser vítimas do crime e
das mortes violentas. Os dados mostram que as taxas mais altas de
mortes por causas violentas, no Brasil e na América Latina, acontecem entre a população de 15 a 29 anos.
O Brasil passa pelo processo da transição demográfica, com a consequente
mudança na estrutura etária e a redução da razão de dependência. O país
vive o seu melhor momento demográfico da história.
O Brasil passa pelo processo da transição demográfica,
com a consequente mudança na estrutura etária e a redução da razão de
dependência. O país vive o seu melhor momento demográfico da história.
Com a efetivação do bônus demográfico, seria o momento para dar um salto
no processo de desenvolvimento humano. Segundo o demógrafo americano Richard Easterlin “coortes menores tendem a ter melhores oportunidades no mercado de trabalho e na educação”. Portanto, o Brasil,
que vive uma janela de oportunidade demográfica, teria uma chance única
de avançar com a inclusão social de seus adolescentes e jovens,
construindo hoje, o futuro de seu povo.
Como o número absoluto de jovens está diminuindo, este seria o
momento para se investir nos direitos da juventude, permitindo uma
tranquila e avançada transição para a vida adulta. O Brasil
precisaria “enriquecer” antes de envelhecer. O futuro do país depende
do avanço qualitativo da inserção social das novas gerações. Porém, o
crescimento da geração nem-nem é um prenúncio de tempos sombrios. A
atual crise brasileira
está parindo uma geração perdida. Se este processo não for revertido
rapidamente, o Brasil também terá o seu futuro jogado fora.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/574746-geracao-perdida-cresce-o-numero-de-jovens-nem-nem-no-brasil
Essa geração está sendo abalada pelo que ouve e vê, precisamos saber o que ou quem está motivando essa geração deixar de lutar pelo seus objetivos.
ResponderExcluirQuando nós adultos olhamos esse panorama globalizado e o que está sendo apresentado não suportamos, imaginem essa geração que acredita não ter esperança.
Muitos adultos cometem suicídio por não conseguirem realizar o óbvio.
Acredito que para muitos de nós não justifica o ato, fiquemos no lugar dessa geração!
Estamos apresentando uma sociedade e cultura morta. São detalhes e conteúdos para ser avaliado e pesquisado.
Eles precisam de restauração.
Tudo começa de cima para baixo, e o que estão ou estamos apresentando para eles
Creio que eles não se sentem pessoas especiais.
São muitas perguntas sem respostas, eles precisam de força para recomeçar.
Diante dessas ondas eles enxergam tsunami.
É difícil caminhar, há coisas no coração que precisam transformar.
😩Fico triste! Oriento da criança ao idoso e estão sujeitos abalos emocionais afetivos, profissional e relacionais.
@Mara Martins
Cadê às oportunidades? Estão elas?
Muito se fala, prática zero.
Li o artigo, precisamos nos unir e sair das teorias psicopedagógicas
Tenho muito para escrever dados das minhas vivências.
A mídia ensina os desvalores, ensinam os indivíduos seguir o desejo do coração e com isso vivem pela metade.
ResponderExcluirO coração lamentavelmente é enganoso. Nosso pensar deve ser pela mente e aprender renovar diariamente.
Tenho muito para escrever e o tempo não permite.
Combato o ensino quando os alunos sentam nas carteiras escolares um olhando para cabeça do colega da frente. Como iremos formar um sujeito com espírito de equipe?
O ensino começa pelo córtex cerebral e pelos olhares.
O aprender deve ser em formato de "U" ou círculo.
Nesse modelo conseguem interagir, serem assertivos, desenvolver empatia, resignificar e superar os obstáculos e serem resilientes.
Tudo tem sua gênesis.
Precisamos de renovo.
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