terça-feira, 19 de dezembro de 2017

GERAÇÃO PERDIDA: CRESCE O NÚMERO DE JOVENS NEM-NEM NO BRASIL

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"Como o número absoluto de jovens está diminuindo, este seria o momento para se investir nos direitos da juventude, permitindo uma tranquila e avançada transição para a vida adulta. O Brasil precisaria “enriquecer” antes de envelhecer. O futuro do país depende do avanço qualitativo da inserção social das novas gerações", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 18-12-2017.

Eis o artigo.

O futuro de qualquer nação depende de uma população com alto nível educacional e uma boa inserção no mercado de trabalho. Indivíduos com maior qualificação tendem a ser trabalhadores mais produtivos. A produtividade do trabalho é condição essencial para o aumento da produção da riqueza per capita. Ou seja, um país com alto padrão de bem-estar é aquele que aproveita o potencial produtivo de sua população, aumentando a quantidade de bens e serviços gerados por unidade de trabalho (com respeito ao meio ambiente). Por isto, existem duas bandeiras que são fundamentais para o progresso nacional: 1) educação de qualidade para todos; e 2) pleno emprego e trabalho decente.



Dar educação de qualidade para todos e garantir altas taxas de atividade – como mecanismos de efetivação da cidadania e de criação das bases materiais de uma economia produtiva e próspera – são pré-condições para a riqueza das nações. Este processo – chamado de desenvolvimento – não é simples e só se efetiva durante muitas décadas ou até mesmo séculos. São necessárias melhorias incrementais por várias gerações para implementar um processo de mobilidade social ascendente intergeracional. O princípio básico do progresso de longo prazo é que os jovens superem os adultos e idosos em cidadania e produtividade (maior quantidade e maior qualidade na educação e no emprego). Diante de tudo isto, é preocupante acompanhar o que está acontecendo no Brasil. Em 2016, um quarto dos jovens estavam fora da escola e do mercado de trabalho. O percentual de jovens (16 a 29 anos) que nem estudavam nem estavam ocupados no Brasil (os chamados “nem-nem”) aumentou de 22,7%, em 2014 para 25,8% em 2016, representando um montante de 11,6 milhões de jovens. Este aumento ocorreu em todas as regiões do país, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), de 2017, do IBGE.
A maior incidência de jovens que não estudavam e nem estavam ocupados (ou mesmo procurando emprego) ocorre entre jovens com o ensino fundamental incompleto ou equivalente, entre aqueles de cor preta ou parda (os negros), entre as mulheres e entre a população pobre. Assim, o fenômeno dos jovens nem-nem reforça os diferenciais de gênero, de raça e de classe, acentuando os problemas de exclusão e desigualdade social do Brasil.
Se a situação está ruim para os jovens, está pior para as crianças e pré-adolescentes. Ainda segundo o IBGE, o Brasil tinha 42,1 milhões de indivíduos de zero a 14 anos de idade em 2016. Desses, 42,4% estavam na pobreza e viviam com renda domiciliar per capita diária inferior a US$ 5,50 (R$ 387,07 por mês). As crianças pobres quando crescerem terão como perspectiva engrossar o contingente de jovens nem-nem, reforçando o ciclo intergeracional da pobreza.





A falta de alternativas para crianças e jovens não é uma novidade e nem um drama recente. Na verdade, a juventude brasileira foi às ruas em grandes manifestações de massa em junho de 2013 protestando contra a incompetência do governo e a falta de perspectivas no transporte, na educação, no mercado de trabalho, etc. Os jovens também protestaram contra a manipulação e a corrupção ocorridas nos grandes eventos (Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas).
De lá para cá as coisas pioraram ainda mais e agora – diante da profunda crise dos partidos políticos e a desmobilização geral da sociedade civil – só restam as manifestações de ódio e de desencanto nas redes sociais. Neste ano em que a palavra ‘youthquake’ (revolução promovida por jovens) foi eleita como destaque pelo dicionário Oxford, o aumento da pobreza e o crescimento dos jovens nem-nem no Brasil mostram o quanto o país está devendo às suas crianças e aos seus jovens.
A nação brasileira está comprometendo o futuro de suas crianças e desperdiçando o potencial de, pelo menos, um quarto de sua juventude. Jovens frustrados serão adultos frustrados e decepcionados. E o pior, jovens sem perspectiva de ascensão social tendem a ser vítimas do crime e das mortes violentas. Os dados mostram que as taxas mais altas de mortes por causas violentas, no Brasil e na América Latina, acontecem entre a população de 15 a 29 anos.

O Brasil passa pelo processo da transição demográfica, com a consequente mudança na estrutura etária e a redução da razão de dependência. O país vive o seu melhor momento demográfico da história.

O Brasil passa pelo processo da transição demográfica, com a consequente mudança na estrutura etária e a redução da razão de dependência. O país vive o seu melhor momento demográfico da história. Com a efetivação do bônus demográfico, seria o momento para dar um salto no processo de desenvolvimento humano. Segundo o demógrafo americano Richard Easterlin “coortes menores tendem a ter melhores oportunidades no mercado de trabalho e na educação”. Portanto, o Brasil, que vive uma janela de oportunidade demográfica, teria uma chance única de avançar com a inclusão social de seus adolescentes e jovens, construindo hoje, o futuro de seu povo.
Como o número absoluto de jovens está diminuindo, este seria o momento para se investir nos direitos da juventude, permitindo uma tranquila e avançada transição para a vida adulta. O Brasil precisaria “enriquecer” antes de envelhecer. O futuro do país depende do avanço qualitativo da inserção social das novas gerações. Porém, o crescimento da geração nem-nem é um prenúncio de tempos sombrios. A atual crise brasileira está parindo uma geração perdida. Se este processo não for revertido rapidamente, o Brasil também terá o seu futuro jogado fora.

Disponível em:  http://www.ihu.unisinos.br/574746-geracao-perdida-cresce-o-numero-de-jovens-nem-nem-no-brasil 

3 comentários:

  1. Essa geração está sendo abalada pelo que ouve e vê, precisamos saber o que ou quem está motivando essa geração deixar de lutar pelo seus objetivos.

    Quando nós adultos olhamos esse panorama globalizado e o que está sendo apresentado não suportamos, imaginem essa geração que acredita não ter esperança.

    Muitos adultos cometem suicídio por não conseguirem realizar o óbvio.

    Acredito que para muitos de nós não justifica o ato, fiquemos no lugar dessa geração!

    Estamos apresentando uma sociedade e cultura morta. São detalhes e conteúdos para ser avaliado e pesquisado.

    Eles precisam de restauração.

    Tudo começa de cima para baixo, e o que estão ou estamos apresentando para eles

    Creio que eles não se sentem pessoas especiais.

    São muitas perguntas sem respostas, eles precisam de força para recomeçar.

    Diante dessas ondas eles enxergam tsunami.

    É difícil caminhar, há coisas no coração que precisam transformar.

    😩Fico triste! Oriento da criança ao idoso e estão sujeitos abalos emocionais afetivos, profissional e relacionais.
    @Mara Martins
    Cadê às oportunidades? Estão elas?
    Muito se fala, prática zero.
    Li o artigo, precisamos nos unir e sair das teorias psicopedagógicas
    Tenho muito para escrever dados das minhas vivências.

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  2. A mídia ensina os desvalores, ensinam os indivíduos seguir o desejo do coração e com isso vivem pela metade.

    O coração lamentavelmente é enganoso. Nosso pensar deve ser pela mente e aprender renovar diariamente.
    Tenho muito para escrever e o tempo não permite.
    Combato o ensino quando os alunos sentam nas carteiras escolares um olhando para cabeça do colega da frente. Como iremos formar um sujeito com espírito de equipe?
    O ensino começa pelo córtex cerebral e pelos olhares.
    O aprender deve ser em formato de "U" ou círculo.
    Nesse modelo conseguem interagir, serem assertivos, desenvolver empatia, resignificar e superar os obstáculos e serem resilientes.
    Tudo tem sua gênesis.

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