Éramos para estar em chamas diante de toda a covardia que enfrentamos. É
ínfimo um relato da perspectiva indignada de quem lê a notícia, mas
ainda mais covarde é fingir não ver, é deixar de sentir.
Sara Fernandes - estudante de serviço social
Olhos fixos e incrédulos.
Mãos trêmulas.
Coração acelerado.
Sangue esquenta.
Sangue esfria.
Esquenta, esfria.
Mãos trêmulas.
Coração acelerado.
Sangue esquenta.
Sangue esfria.
Esquenta, esfria.
Todas as sensações.
Sensação nenhuma.
O ódio de tudo.
O rombo no peito dilacerado num vazio de nada.
Sensação nenhuma.
O ódio de tudo.
O rombo no peito dilacerado num vazio de nada.
Silencia a mente.
Paralisa o corpo.
Por mais que seja recorrente, mesmo que frequente, é sempre indigesto.
Nem água passa.
Paralisa o corpo.
Por mais que seja recorrente, mesmo que frequente, é sempre indigesto.
Nem água passa.
Todas as vezes, por alguns instantes, o fôlego some e parece que não vai voltar.
Já virou ritual olhar as notícias e começar o dia chorando as vidas perdidas.
Já é cotidiano habitual passar pela banca de jornal e voltar a
caminhar com o nó atravessado na garganta, ouvir as conversas de
conhecidos e amigos ou andar pelas ruas e ver as desgraças e injustiças
feitas pelo Estado genocida.
Não tenho mãos para contar quantos poemas e desabafos escrevi em
vômito de lágrimas e gritos estrangulados pra tentar contornar os
desejos mórbidos e encontrar algum fragmento de esperança pra prosseguir
em luta pelo dia que vem.
Mais ainda.
Não tenho mãos para contar quantas vezes não consigo alcançar a dor inimaginável das mães e pais que sangram e choram pelos seus filhos, o vazio no peito de ver suas vidas, esforços e sonhos destruídos por um sistema violentamente imundo, o sofrimento que rasga a existência de quem labuta exaustivamente e ao chegar em casa encontra seu filho estirado na rua, na calçada ou DENTRO DA ESCOLA, assassinado por mãos corruptas e sujas, nessa realidade fétida que estamos entranhados.
Não tenho mãos para contar quantas vezes não consigo alcançar a dor inimaginável das mães e pais que sangram e choram pelos seus filhos, o vazio no peito de ver suas vidas, esforços e sonhos destruídos por um sistema violentamente imundo, o sofrimento que rasga a existência de quem labuta exaustivamente e ao chegar em casa encontra seu filho estirado na rua, na calçada ou DENTRO DA ESCOLA, assassinado por mãos corruptas e sujas, nessa realidade fétida que estamos entranhados.
Éramos para estar em chamas diante de toda a covardia que enfrentamos.
É ínfimo um relato da perspectiva indignada de quem lê a notícia, mas ainda mais covarde é fingir não ver, é deixar de sentir.
É ínfimo um relato da perspectiva indignada de quem lê a notícia, mas ainda mais covarde é fingir não ver, é deixar de sentir.
Em meio a toda descrença na humanidade, o enorme vazio no peito e a
imensa vontade de desistência e sumir, o fôlego que vem é pra fazer um
pedido.
Que toda a nossa dor se transforme em luta.
Que toda a nossa dor se transforme em luta.
Que toda falta de esperança e ódio se transforme em fome por justiça,
porque a Maria Eduarda, todas as crianças e jovens negros e pobres, e
tantos outros, não se tornarão apenas estatísticas, mas lembraremos
sempre desses guerreiros e vingaremos suas vidas interrompidas.
Toda solidariedade às famílias.
Disponível em: http://www.esquerdadiario.com.br/Maria-Eduarda-presente-cronica-de-uma-dor-incuravel
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