“Apesar do final oficial da ditadura militar, nós estamos sempre a um passo de retorno”, afirmou o filósofo e professor de Ética da Unicamp, Roberto Romano.
Assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) é ataque à democracia, alertam especialistas e politicos.
Além de uma violação de direitos humanos, o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) foi visto como um ataque à democracia por especialistas e políticos. Crítica à intervenção federal no Rio de Janeiro, Marielle denunciou nos últimos dias ações de violência da Polícia Militar em operações na Favela de Acari, na Zona Norte do Rio. Ela foi morta na noite de quarta-feira (14), com 4 tiros na cabeça.
Para o filósofo e professor de Ética da Unicamp, Roberto Romano, o
crime é um indicativo de fragilidade das instituições democráticas no
Brasil. "Apesar do final oficial da ditadura militar,
nós estamos sempre a um passo de retorno. Com eventos como o de
quarta-feira, essa distância entre Estado democrático e Estado de
exceção diminuiu enormemente", afirmou o especialista ao HuffPost
Brasil.
O filósofo lembra que antes do golpe fascista na Europa, o
assassinato de políticos progressistas foi a regra. "Então, quando você
começa a ter políticos que defendem causas populares sendo assassinados,
você já tem uma previsão do que pode acontecer em termos de mudança de
regime", alertou.
Para Romano, o caso pode ser comparado ao assassinato da missionária
americana Dorothy Stang em 2005 no Pará, o que revela as lacunas dos
avanços de direitos humanos no Brasil.
De acordo com o filósofo, o episódio deveria promover uma mudança no
tratamento à crise de segurança, com medidas de médio e longo prazo,
como melhora da educação e polícias de redução da desigualdade social.
"A forma como o governo federal está tratando o caso mostra que não está
assumindo sua responsabilidade para modificar a situação", afirmou.
Assassinato de Marielle não muda intervenção no Rio
Nesta quinta-feira (15), o presidente Michel Temer e ministros lamentaram o crime, mas afirmaram que ele não altera a intervenção no Rio. Titular da Secretaria de Governo, Carlos Marun
afirmou que "imbecil é quem imaginou que em 30 dias nós teríamos
solucionado a questão da violência no Rio de Janeiro" e que bandidos não
vão intimidar o governo.
A morte da vereadora é só mais uma evidência de que nós estamos no caminho certo ao decretarmos uma intervenção que recupere o sentido de autoridade no estado do Rio de Janeiro. É um crime bárbaro.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann,
foi deslocado para acompanhar as investigações de perto. O secretário
de Segurança do Rio, general Richard Nunes, por sua vez, determinou à
Divisão de Homicídios uma ampla investigação sobre o crime.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge,
determinou a instauração de um procedimento para federalizar a
investigação. Integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP) acompanham a apuração no Rio.
Assassinato de Marielle e violência no Rio
Para o Observatório da Intervenção, o assassinato de Marielle
representa um novo patamar de agravamento da crise de segurança no Rio.
"Independentemente da motivação dos autores da execução, o que houve
ontem foi um assassinato político", diz texto assinado pela coordenadora
do observatório, a especialista em segurança pública Silvia Ramos. O
grupo de pesquisadores é coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania (CESeC) com outras entidades.
Trata-se de um novo degrau de aprofundamento das dinâmicas de violência no Rio de Janeiro, inaugurando uma nova modalidade de homicídio, o homicídio estritamente político. A morte de Marielle representa uma ameaça aos ativistas de favelas, às lideranças comunitárias e aos defensores de direitos.
O grupo cobrou respostas da Polícia Militar, pela suspeita de atuação
de seus integrantes, da Polícia Civil do Rio, responsável pelas
investigações, e dos comandantes da intervenção. Em nota, o Gabinete da
Intervenção afirmou que o general Braga Netto repudia as ações
criminosas. "Ele se solidariza com as famílias e amigos. O interventor
federal acompanha o caso em contato permanente com o Secretário de
Estado de Segurança", diz o texto.
Próximo a Marielle, que trabalhou em sua campanha em 2006, o deputado
estadual Marcelo Freixo (PSol) reforçou a cobrança pelas investigações e
disse que as características do crime "são muito nítidas de execução".
"Esse é um crime contra a democracia no Rio de Janeiro", afirmou.
Em entrevista à Pavio em fevereiro, a própria vereadora afirmou que o
acirramento do clima após a intervenção coloca em risco a democracia.
"O processo de democratização está ameaçado por causa do que está
colocado: servidor, saúde, caos em varias áreas e intervenção na
segurança, o que ajuda a controlar ainda mais o que vinha sendo
controlado antes", afirmou.
Em entrevista inédita, vereadora assassinada avisou: ‘democracia está ameaçada’
https://www.youtube.com/watch?v=h9oC94oOAdA
Polícia investiga execução de Marielle
De acordo com as primeiras investigações, bandidos em um carro
emparelharam ao lado do veículo onde estava a vereadora e dispararam.
Marielle estava acompanhada do motorista Anderson Pedro Gomes, também
executado, e de uma de suas assessoras.
Relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para
acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal na área de
segurança do Rio, Marielle denunciou nos últimos dias ações de violência
da Polícia Militar em operações na Favela de Acari, na Zona Norte do
Rio.
No sábado (10), ela compartilhou em seu perfil no Facebook o relato
de que policiais do 41º Batalhão da PM do Rio teriam aterrorizado
moradores da comunidade. "Precisamos gritar para que todos saibam o está
acontecendo em Acari nesse momento." De acordo com o texto, 2 jovens
teriam sido mortos.
Freixo não descartou que o crime tenha sido motivado por esse ato,
mas minimizou a possibilidade. Ele citou que diversas pessoas fizeram
denúncias semelhantes.
Disponível em: https://www.huffpostbrasil.com/2018/03/16/ataque-a-democracia-o-impacto-do-assassinato-da-vereadora-marielle_a_23387067/
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