Os pais de um bebê que padecia com anemia em um hospital jamais
imaginariam que o sangue doado à criança vinha de uma mulher
transgênero. Rekha, nome fictício de uma mulher transgênero habitante
da Índia, cedeu alguns minutos do seu tempo para salvar uma vida e
ganhou a admiração e respeito dos pais da criança, enquanto eles ainda
não a conheciam.
Dias depois da doação de sangue e respectiva recuperação do
bebê, os pais foram até a casa de Rekha para agradecê-la pessoalmete. Ao
perceberem que a doradora se tratava de uma mulher trans, o casal
recuou imediatamente e nem sequer permitiu que Recka conhecesse a
criança. No dia seguinte a criança estava abandonada na porta da casa da
doadora, que a levou até o hospital que confirmou que se tratava da
mesma criança que recebera seu sangue.
O bebê deixado na casa de Rekha trazia em seu berço um
bilhete que exprimia toda a intolerância dos pais da criança. O papel
dizia que a menina não era mais digna de pertencer àquela família por
ter sangue de um transgênero correndo em suas veias, podendo ser “um
deles”. Diante daquela situação de abandono e discriminação, Rekha
acolheu a criança e decidiu adotá-la. Isso aconteceu há 6 anos.
Rekha se identificou com o triste destino da criança por ter
sido o mesmo que ela viveu: o abandono. Seus pais a abandonaram quando
ela ainda era uma criança e estava começando a entender sua transição,
quando não se sentia mais como menino. Ao encontrar a menina abandonada
em sua casa e entendendo que se tratava de discriminação, Rekha decidiu
que não deixaria a pequena sofrer o mesmo que ela. "Eu mesma senti a dor
de ser rejeitada pela própria família. Eu acho que estou ligada a ela
por esse vínculo", disse Rekha.
A história da doadora e o bebê que agora é sua filha, foi
publicada no site “The Stories of Change” e ilustra a dificuldade
encontrada pela população LGBT para doarem sangue. Apesar de sua rotina
feliz com a filha que hoje tem seis anos e frequenta normalmente a
escola pública, Rekha nunca mais conseguiu doar sangue temendo passar
por algum constragimento ou violência.
A discriminação ao doar sangue é comumente enfrentada pela
população LGBT na Índia. A Organização Nacional de Controle da AIDS
(NACO) considera a comunidade LGBT como um grupo de alto risco de
infecção. Essas resoluções sustentam um argumento social de exclusão dos
LGBT e incentiva a onda social de discriminação e violência.
"Antes de esperar que as pessoas nos ajudem nesta causa,
queremos que eles resolvam o próprio problema de discriminar a
comunidade LGBTQ.”, diz Rekha, que se tornou uma ativista de luta para a
inclusão dos LGBT como doadores de sangue. Para ela e o também ativista
Srini Ramaswami, não há critérios na proibição da população LGBT de
doar sangue, apenas o argumento de que são um grupo que facilita a
infecção pelo HIV. Os ativistas acreditam que a proibição não é apenas
pela tentativa de evitar a infecção pelo HIV, mas sim uma forma de
colocar os LGBT no rol dos promíscuos e desprezíveis. Esse argumento de
Rekha e Srini é sustentado por uma pesquisa da entidade de apoio à
pessoas com HIV, Avert, que diz que na Índia, 87% das novas infecções
no ano de 2015 aconteceram via sexo heterossexual.
Um outro problema sobre doação de sangue ainda põe em risco a
vida da comunidade LGBT. Na Índia, muitos bancos de sangue se recusam a
fornecer o material para os LGBT e, a própria comunidade, desencorajada
de doar, acaba se ausentando de ajudar um dos seus. Sobre a organização
Khoon, para angariar doações para LGBT, Rekha afirma que “só esperamos
que o sistema facilite a nossa comunidade o envio de sangue sempre que
precisamos disso ". Para fazer conhecer ou apoiar o movimento, basta
acessar a página no Facebook da Rehka ou enviar um e-mail para khoonhelpline@gmail.com.
Disponível em: http://revistaladoa.com.br/2017/12/noticias/india-crianca-abandonada-pelos-pais-ao-receber-transfusao-sangue-pessoa-trans
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