São Paulo (SP) – Lideranças da Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil (IEAB) tornaram público o posicionamento da igreja
sobre dois temas que têm pautado as discussões políticas no Brasil:
reforma da previdência e trabalhista. Em um texto claro e muito bem
redigido, bispos anglicanos ampliam o debate e conclamam o povo
brasileiro “à mobilização em favor dos direitos das pessoas
trabalhadoras, das melhores condições de trabalho e do amparo justo
especialmente para mais pobres e vulneráveis de nossa sociedade”. A
carta finaliza com uma pergunta inquietante: “Como poderemos ter paz, se
promovemos a injustiça, a morte e a exclusão?”
Leia o texto na íntegra:
Carta Aberta sobre a Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista
Como Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil,
manifestamos, por meio desta nossa preocupação através deste
posicionamento profético e pastoral diante do Projeto de Reforma da
Previdência (PEC 287/2016), Projeto de Reforma Trabalhista, e a
recentemente aprovada Lei da Terceirização, questionada pelo Ministério
Público no Supremo Tribunal Federal.
A Reforma da Previdência
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) enviou para todas as
igrejas membro um estudo feito pela ANIFP (Associação Nacional de
Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil) e pelo DIESE
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos),
sob o título “Previdência: reformar para excluir?”. Neste estudo fica
amplamente demonstrado que:
1) A política de “austeridade econômica” que promove “o corte nos
gastos públicos, sem poupar as políticas sociais e os investimentos,
acompanhado por aumento das taxas de juros e por restrição severa do
crédito, contribuiu para (…) uma depressão econômica”, com diminuição de
contribuições para a Previdência Social.
2) Que a ANFIP demonstra que “a Seguridade Social é superavitária
mesmo com a crescente subtração das suas receitas pela incidência da
Desvinculação das Receitas da União (DRU)(…) com as desonerações
tributárias concedidas pela área econômica do governo sobre as suas
principais fontes de financiamento”.
3) Que aposentadoria por idade, 60 anos para a mulher e 65 anos para o
homem, já está estabelecida no artigo 201 da Constituição de 1988, é
que “atualmente 53% das aposentadorias são por idade, contra 29% por
tempo de contribuição e 18% por invalidez”.
4) Em caso da invalidez, o projeto exige “incapacidade permanente”,
com 51% da remuneração mais um porcentual por ano contribuído, o que,
além de deixar estas pessoas necessitadas em situação precária não
ampara as vítimas de acidentes de trabalho ou a chamadas “doenças
profissionais”.
5) A não consideração de uma série de desigualdades como: entre
homens e mulheres (sendo que as mulheres têm maiores dificuldades para
encontrar emprego, com menor remuneração e, geralmente, dupla jornada);
entre o meio rural e urbano (sendo que o benefício previdenciário tem
permitido às pessoas a permanência no meio rural e tem apoiado o
desenvolvimento a 88% dos municípios do país, com menos de 50 mil
habitantes) e entre expectativa de vida e saúde (considerando as
diferenças regionais, e as atividades laborais), entre outras.
6) O fim da vinculação do piso da aposentadoria ao salário mínimo
condenará à miséria a 28,3 milhões de pessoas que recebem benefícios
diretos e suas famílias, além de mais 40 milhões de pessoas amparadas
pelo seguro desemprego e outros benefícios.
O impacto de uma reforma desta índole para a Previdência Social do
Brasil é desumano, cruel e devastador, com consequências que levarão
para a miséria extrema a milhões de pessoas, e forçarão outros tantos
milhões a trabalharem até sua morte, desamparando suas famílias. O
Brasil que já destaca pela injusta distribuição da riqueza entre pessoas
ricas e pobres verá aumentada esta desigualdade.
Reforma Trabalhista e flexibilização da negociação coletiva e terceirização
O mesmo estudo, antes mencionado, afirma que “liberação da
terceirização, inclusive com a possibilidade de ‘terceirização em
cadeia’ e intensificação da rotatividade, e a prevalência do negociado
sobre o legislado apontam no sentido contrário, de enfraquecimento da
remuneração do trabalho e de expansão das formas informais e ilegais de
contratação”.
Quando a terceirização é aplicada a educação, saúde e segurança,
servirá como caminho de evasão de responsabilidades públicas sobre estes
setores, e o progressivo desamparo da população.
Por que nos manifestar
O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, declara bem-aventuradas, as
pessoas que tem “fome e sede de justiça” por que é elas serão fartas!
(Mateus 5.9), e a Carta de Tiago nos lembra “Ora, o fruto da justiça
semeia-se na paz, para os que exercitam a paz.” (3.18). Portanto, não
podemos nos omitir diante desta tragédia humanitária que estas reformas
promovem. Trata-se, pela sua simples proposição em um desrespeito e uma
violenta ameaça para este país. Sinal de governantes ilegítimos que, não
conseguindo defender esta agenda em um processo democrático com
participação popular ampla, o fazem usurpando os poderes que pertencem
ao conjunto de cidadãs e cidadãos do Brasil.
Cremos que, pela união das forças de todas as pessoas de boa vontade,
este haverá reversão deste quadro. Conclamando assim à mobilização em
favor dos direitos das pessoas trabalhadoras, das melhores condições de
trabalho e do amparo justo especialmente para mais pobres e vulneráveis
de nossa sociedade. Como poderemos ter paz, se promovemos a injustiça, a
morte e a exclusão?
Dom Francisco de Assis da Silva, Bispo Primaz e Diocesano da Sul Ocidental
Dom Naudal Gomes, Bispo da Diocese Anglicana de Curitiba
Dom Filadelfo Oliveira, Bispo da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Dom Mauricio Andrade, Bispo da Diocese Anglicana de Brasilia
Dom Saulo Barros, Bispo da Diocese Anglicana da Amazônia
Dom Renato Raatz, Bispo da Diocese Anglicana de Pelotas
Dom Flavio Irala, Bispo da Diocese Anglicana de São Paulo
Dom Humberto Maiztegui, Bispo da Diocese Meridional
Dom João Peixoto, Bispo da Diocese Anglicana do Recife
Dom Eduardo Grillo, Bispo Coadjuntor da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Dom Clóvis Rodrigues, Emérito
Dom Almir dos Santos, Emérito Dom Celso Franco, Emérito
Dom Naudal Gomes, Bispo da Diocese Anglicana de Curitiba
Dom Filadelfo Oliveira, Bispo da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Dom Mauricio Andrade, Bispo da Diocese Anglicana de Brasilia
Dom Saulo Barros, Bispo da Diocese Anglicana da Amazônia
Dom Renato Raatz, Bispo da Diocese Anglicana de Pelotas
Dom Flavio Irala, Bispo da Diocese Anglicana de São Paulo
Dom Humberto Maiztegui, Bispo da Diocese Meridional
Dom João Peixoto, Bispo da Diocese Anglicana do Recife
Dom Eduardo Grillo, Bispo Coadjuntor da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Dom Clóvis Rodrigues, Emérito
Dom Almir dos Santos, Emérito Dom Celso Franco, Emérito
Com informações do CONIC
Disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?p=130062
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