1. Terminado o primeiro turno das eleições de 2016, apresentamos
alguns elementos iniciais para a produção de um balanço político acerca
de seus resultados verificados. É verdade que algumas peças importantes
do tabuleiro eleitoral ainda serão movimentadas no segundo turno e podem
potencializar ou enfraquecer alguns aspectos aqui expostos. Mas já é
possível definir o sentido geral dos resultados obtidos no primeiro
turno.
2. A eleição municipal ocorreu sob o signo do impeachment. Ainda que
os 144 milhões de brasileiros chamados a votar tendessem a procurar
respostas para seus problemas mais urgentes, especialmente nas grandes
cidades e capitais, sem sombra de dúvida o ambiente político esteve
profundamente contaminado pela deposição de Dilma Roussef. Basta lembrar
que, às vésperas do pleito ainda estavam sendo patrocinadas operações
da Lava Jato visando potencializar sua influência sobre os resultados
eleitorais.
3. Assim, o clima geral das eleições no primeiro turno foi construído
em torno da disputa de narrativa sobre a crise brasileiro, seus
responsáveis e as saídas propostas ou efetivadas – entre elas, o
impeachment. O resultado mostra claramente que o discurso conservador
contra a esquerda cativou parcela do eleitorado e influenciou seu olhar
sobre as candidaturas. No geral, quanto mais identificado com Partido
dos Trabalhadores, mais dificuldades. Não por acaso, em inúmeras cidades
verificamos velhas raposas trasvestidas de novidade. A busca pelo novo
foi capturada, em grande parte, por candidatos que representam a velha
política, como é o caso de João Dória, em São Paulo.
4. No campo da esquerda quem disputou em melhores condições o
simbolismo do “novo” foi o PSOL. Mas seu potencial foi tremendamente
diminuído pelas mudanças na legislação eleitoral que retiraram quase
todas as suas candidaturas dos debates de rádio e TV fizeram desaparecer
seus programas no horário eleitoral gratuito, com inserções que
variavam entre 10 e 15 segundos. Assim, a tática de Eduardo Cunha foi
parcialmente bem-sucedida: candidatos que poderiam representar uma
alternativa foram, na prática, excluídos do processo eleitoral.
5. Consideramos que as forças da velha direita foram vitoriosas no
primeiro turno, elegendo a maioria dos prefeitos e vereadores. O PSDB
venceu em importantes capitais; o PMDB manteve o interior do país sob
sua influência e, no geral, a base partidária do impeachment conquistou
condições de governabilidade para aprofundar seu projeto conservador.
6. O grande derrota eleitoral foi o PT. Não somente por que diminuiu o
número de cidades que irá governar de forma muito significativa,
perdendo São Paulo e ficando de fora das mais importantes disputas do
segundo turno, com exceção de Recife. Mas também porque não pode
reverter a narrativa de que o partido é o principal (senão único)
culpado pela corrupção existente no país. Essa derrota, sem dúvida,
atinge toda a esquerda, mesmo que setores, como PSOL, nada tenham a ver
com os erros cometidos;
7. Diante da crise vivida pelo PT, outros partidos buscaram ocupar o
espaço à esquerda. Entre essas legendas, coube ao PSOL, lançando
candidaturas em quase todas as capitais, se apresentar como o mais
dinâmico polo aglutinador do voto de esquerda que deseja mudanças e
acredita numa nova etapa da luta pela democracia e justiça social no
Brasil. E os resultados do primeiro turno mostram um bom começo nesta
tarefa.
8. As candidaturas do partido em várias capitais conseguiram romper o
isolamento imposto pela legislação eleitoral. Foi assim que Luciana
conquistou 12% dos votos e liderou as pesquisas durante boa parte da
disputa. O mesmo ocorreu com Elson Pereira, alcançou 20% em
Florianópolis, e com o Procurador Mauro, que obteve 24% dos votos em
Cuiabá. Em duas capitais importantes estamos no segundo turno: Rio de
Janeiro, com Marcelo Freixo (18%) e em Belém, com Edmilson Rodrigues
(29,5%). Além deles, conseguimos emplacar o deputado estadual Raul
Marcelo no segundo turno em Sorocaba (SP). Em outras cidades também
tivemos boas votações, exemplo de Nova Friburgo, com Glauber Braga, e
Niterói, com Flávio Serafini.
9. Além disso, destacamos a ampliação de nossa bancada de vereadores
em todo o país, especialmente em importantes capitais, e a eleição de
dois novos prefeitos, nas cidades de Janduís e Jaçana, ambas no Rio
Grande do Norte. Em todos os casos as candidaturas do PSOL conseguiram
cativar os votos progressistas. Mesmo onde o discurso do voto útil nos
afetou, como no caso de São Paulo, Luiza Erundina encarnou a disposição
do PSOL de impulsionar o processo de reorganização da esquerda
brasileira.
10. O segundo turno, caso aconteçam vitórias psolistas nas três
cidades em que disputamos, colocará o partido com reais condições de se
tornar um novo polo aglutinador. Todo o movimento social estará atento
às inovações de seus governos, esperando caminhos diferentes dos que
deram errado em outras experiências de esquerda.
11. Um recomeço para a esquerda, menor do que as necessidades do
momento, mas certamente um sopro de ventos novos no meio de um avanço
conservador.
Executiva Nacional do PSOL
Brasília, 11 de outubro de 2016.
Disponível em: http://www.psol50.org.br/blog/2016/10/11/um-recomeco-para-a-esquerda-nota-da-executiva-nacional-do-psol/
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