quarta-feira, 12 de outubro de 2016

UM RECOMEÇO PARA A ESQUERDA – NOTA DA EXECUTIVA NACIONAL DO PSOL

Um recomeço para a esquerda – nota da Executiva Nacional do PSOL 

1. Terminado o primeiro turno das eleições de 2016, apresentamos alguns elementos iniciais para a produção de um balanço político acerca de seus resultados verificados. É verdade que algumas peças importantes do tabuleiro eleitoral ainda serão movimentadas no segundo turno e podem potencializar ou enfraquecer alguns aspectos aqui expostos. Mas já é possível definir o sentido geral dos resultados obtidos no primeiro turno.

2. A eleição municipal ocorreu sob o signo do impeachment. Ainda que os 144 milhões de brasileiros chamados a votar tendessem a procurar respostas para seus problemas mais urgentes, especialmente nas grandes cidades e capitais, sem sombra de dúvida o ambiente político esteve profundamente contaminado pela deposição de Dilma Roussef. Basta lembrar que, às vésperas do pleito ainda estavam sendo patrocinadas operações da Lava Jato visando potencializar sua influência sobre os resultados eleitorais.

3. Assim, o clima geral das eleições no primeiro turno foi construído em torno da disputa de narrativa sobre a crise brasileiro, seus responsáveis e as saídas propostas ou efetivadas – entre elas, o impeachment. O resultado mostra claramente que o discurso conservador contra a esquerda cativou parcela do eleitorado e influenciou seu olhar sobre as candidaturas. No geral, quanto mais identificado com Partido dos Trabalhadores, mais dificuldades. Não por acaso, em inúmeras cidades verificamos velhas raposas trasvestidas de novidade. A busca pelo novo foi capturada, em grande parte, por candidatos que representam a velha política, como é o caso de João Dória, em São Paulo.

4. No campo da esquerda quem disputou em melhores condições o simbolismo do “novo” foi o PSOL. Mas seu potencial foi tremendamente diminuído pelas mudanças na legislação eleitoral que retiraram quase todas as suas candidaturas dos debates de rádio e TV fizeram desaparecer seus programas no horário eleitoral gratuito, com inserções que variavam entre 10 e 15 segundos. Assim, a tática de Eduardo Cunha foi parcialmente bem-sucedida: candidatos que poderiam representar uma alternativa foram, na prática, excluídos do processo eleitoral.

5. Consideramos que as forças da velha direita foram vitoriosas no primeiro turno, elegendo a maioria dos prefeitos e vereadores. O PSDB venceu em importantes capitais; o PMDB manteve o interior do país sob sua influência e, no geral, a base partidária do impeachment conquistou condições de governabilidade para aprofundar seu projeto conservador.

6. O grande derrota eleitoral foi o PT. Não somente por que diminuiu o número de cidades que irá governar de forma muito significativa, perdendo São Paulo e ficando de fora das mais importantes disputas do segundo turno, com exceção de Recife. Mas também porque não pode reverter a narrativa de que o partido é o principal (senão único) culpado pela corrupção existente no país. Essa derrota, sem dúvida, atinge toda a esquerda, mesmo que setores, como PSOL, nada tenham a ver com os erros cometidos;

7. Diante da crise vivida pelo PT, outros partidos buscaram ocupar o espaço à esquerda. Entre essas legendas, coube ao PSOL, lançando candidaturas em quase todas as capitais, se apresentar como o mais dinâmico polo aglutinador do voto de esquerda que deseja mudanças e acredita numa nova etapa da luta pela democracia e justiça social no Brasil. E os resultados do primeiro turno mostram um bom começo nesta tarefa.

8. As candidaturas do partido em várias capitais conseguiram romper o isolamento imposto pela legislação eleitoral. Foi assim que Luciana conquistou 12% dos votos e liderou as pesquisas durante boa parte da disputa. O mesmo ocorreu com Elson Pereira, alcançou 20% em Florianópolis, e com o Procurador Mauro, que obteve 24% dos votos em Cuiabá. Em duas capitais importantes estamos no segundo turno: Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo (18%) e em Belém, com Edmilson Rodrigues (29,5%). Além deles, conseguimos emplacar o deputado estadual Raul Marcelo no segundo turno em Sorocaba (SP). Em outras cidades também tivemos boas votações, exemplo de Nova Friburgo, com Glauber Braga, e Niterói, com Flávio Serafini.

9. Além disso, destacamos a ampliação de nossa bancada de vereadores em todo o país, especialmente em importantes capitais, e a eleição de dois novos prefeitos, nas cidades de Janduís e Jaçana, ambas no Rio Grande do Norte. Em todos os casos as candidaturas do PSOL conseguiram cativar os votos progressistas. Mesmo onde o discurso do voto útil nos afetou, como no caso de São Paulo, Luiza Erundina encarnou a disposição do PSOL de impulsionar o processo de reorganização da esquerda brasileira.

10. O segundo turno, caso aconteçam vitórias psolistas nas três cidades em que disputamos, colocará o partido com reais condições de se tornar um novo polo aglutinador. Todo o movimento social estará atento às inovações de seus governos, esperando caminhos diferentes dos que deram errado em outras experiências de esquerda.

11. Um recomeço para a esquerda, menor do que as necessidades do momento, mas certamente um sopro de ventos novos no meio de um avanço conservador.

Executiva Nacional do PSOL
Brasília, 11 de outubro de 2016.

Disponível em:  http://www.psol50.org.br/blog/2016/10/11/um-recomeco-para-a-esquerda-nota-da-executiva-nacional-do-psol/

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