Inquérito aponta sucessão de erros e força desproporcional na ação
realizada em 2013; delegada que arquivou investigação interna será
processada
.
Cruzes marcam protesto indígena em frente ao Congresso Nacional, em 2012
Três anos depois da morte do indígena Oziel Gabriel, durante uma ação de reintegração de posse na Fazenda Buriti, em Sidrolândia, 80 km ao sul de Campo Grande, o Ministério Público Federal no Mato Grosso do Sul concluiu que o Terena de
35 anos foi morto por um tiro disparado por um policial federal. Como a
munição específica não foi encontrada, impossibilitando a identificação
do autor do disparo, o inquérito policial foi arquivado.
De acordo com o MPF, Oziel foi morto por munição 9 mm da marca CBC, com encamisamento tipo Gold, de uso exclusivo da Polícia Federal. Ele estava atrás de uma árvore, portando faca, arco e flecha, a cerca de 100 metros de distância do pelotão de policiais. Não oferecia perigo, segundo o MPF, aos policiais militares e federais envolvidos na ação ocorrida naquele dia em Sidrolândia.
A violência do episódio, afirma o Ministério Público, foi resultado de uma "operação policial fracassada, com graves erros", que não seguiu procedimentos padrões. Segundo o MPF, o planejamento foi realizado exclusivamente com informações obtidas pela PF e fotos de satélite adquiridas na internet, sem qualquer tipo de levantamento de campo.
Ainda segundo o MPF, as informações foram repassadas à tropa da Polícia Militar e aos federais em momentos e locais diferentes. Não havia comando único nem comunicação via rádio entre as corporações. Assim, os policiais agiram isoladamente.
Processo contra delegada
Mesmo diante dos indícios de que a operação policial não seguiu padrões estabelecidos, a sindicância interna da PF chegou à conclusão de que não houve irregularidade na operação. Em parecer, a delegada federal Juliana Resende Silva de Lima, responsável pela investigação, afirmou que “em que pese as consequências indesejáveis da ação – ferimentos e morte de uma pessoa – a operação obedeceu integralmente o detalhado planejamento elaborado”.
O parecer pelo arquivamento foi acatado pela Superintendência da PF. Ocorre que Juliana Resende Silva de Lima era casada com Eduardo Jaworski de Lima, também delegado e um dos comandantes da "operação fracassada" que provocou a morte de Oziel Gabriel.
De acordo com o MPF, Oziel foi morto por munição 9 mm da marca CBC, com encamisamento tipo Gold, de uso exclusivo da Polícia Federal. Ele estava atrás de uma árvore, portando faca, arco e flecha, a cerca de 100 metros de distância do pelotão de policiais. Não oferecia perigo, segundo o MPF, aos policiais militares e federais envolvidos na ação ocorrida naquele dia em Sidrolândia.
A violência do episódio, afirma o Ministério Público, foi resultado de uma "operação policial fracassada, com graves erros", que não seguiu procedimentos padrões. Segundo o MPF, o planejamento foi realizado exclusivamente com informações obtidas pela PF e fotos de satélite adquiridas na internet, sem qualquer tipo de levantamento de campo.
Ainda segundo o MPF, as informações foram repassadas à tropa da Polícia Militar e aos federais em momentos e locais diferentes. Não havia comando único nem comunicação via rádio entre as corporações. Assim, os policiais agiram isoladamente.
O MPF afirma que o planejamento da Polícia Federal excluiu
deliberadamente a participação da Funai e do próprio MPF da operação,
contrariando normas vigentes, "suprimindo a fase de negociação e
resultando no emprego de força policial desproporcional à conduta dos
indígenas."
Os registros em vídeo comprovam, segundo o MPF, que a
negociação foi limitada a uma única frase dirigida aos indígenas e levou
apenas dois minutos: “Pessoal. Nós viemos cumprir a ordem...e aí?”.
Para o MPF, “qualquer análise superficial das atuais
doutrinas policiais, da legislação e orientações nacionais ou dos
instrumentos internacionais sobre o uso de força denuncia a vital
importância da fase de negociação e seu exaurimento na atuação policial,
usando de todos os meios disponíveis para tanto, visando sempre a
solução pacífica dos conflitos e fazendo uso da força somente em
situações absolutamente excepcionais”.
Além de 82 policiais militares do Batalhão de Choque, o
efetivo na reintegração era de 70 policiais federais, mas apenas 15
haviam participado de treinamentos de armamento e tiro em época recente,
de acordo com os procuradores.
No ápice da ação, o número de indígenas foi estimado pelo
MPF entre 1,5 mil e 2 mil pessoas. Durante o conflito, afirmam os
procuradores, houve o acionamento emergencial de uma aeronave e mais 22
policiais militares e dois policiais federais foram enviados às pressas
até a sede da PF, a 80 quilômetros de distância, para buscar mais
armamento e munições não letais, que haviam acabado.
Segundo a investigação, a espera por reforço foi de cerca
de duas horas e, enquanto isso, as forças policiais ficaram
estacionadas, sendo agredidas pelos indígenas, cada vez mais numerosos,
e, por vezes, diante da inexistência de instrumentos menos letais
disponíveis, disparando com armas de fogo, ainda que inobservando as
regras técnicas. A morte de Oziel Gabriel e os ferimentos mais graves
aconteceram neste intervalo.
Além de Oziel Gabriel, o episódio deixou sete vítimas
não fatais de arma de fogo (quatro policiais, dois indígenas e um cão
militar), nove policiais feridos por pedras e 19 indígenas feridos por
munição de elastômero, totalizando 36 vítimas.
Diante da impossibilidade de encontrar o indivíduo culpado pelo tiro
que matou o indígena, o inquérito de investigação foi arquivado. O MPF
decidiu, então, expedir uma recomendação à Superintendência da PF
em Mato Grosso do Sul, especificando detalhadamente toda a legislação
nacional e internacional que rege os procedimentos que devem ser
seguidos em casos de reintegração de posse de áreas coletivas e controle
de distúrbios civis, além do uso de armamento naquelas situações. Processo contra delegada
Mesmo diante dos indícios de que a operação policial não seguiu padrões estabelecidos, a sindicância interna da PF chegou à conclusão de que não houve irregularidade na operação. Em parecer, a delegada federal Juliana Resende Silva de Lima, responsável pela investigação, afirmou que “em que pese as consequências indesejáveis da ação – ferimentos e morte de uma pessoa – a operação obedeceu integralmente o detalhado planejamento elaborado”.
O parecer pelo arquivamento foi acatado pela Superintendência da PF. Ocorre que Juliana Resende Silva de Lima era casada com Eduardo Jaworski de Lima, também delegado e um dos comandantes da "operação fracassada" que provocou a morte de Oziel Gabriel.
Para o MPF, "a delegada cometeu ato de improbidade ao não
se declarar impedida de elaborar o parecer, mesmo sendo esposa de um dos
principais interessados no arquivamento." Diante disso, os procuradores
ajuizaram ação de improbidade administrativa contra a delegada, que
tramita na Justiça Federal de Campo Grande.
A pena prevista inclui ressarcimento integral do dano, se
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/policia-federal-matou-indigena-oziel-gabriel-conclui-o-mpf
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