O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha,
foco de ação do PSOL
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
O PSOL quer ingressar nesta semana com uma ação para tentar derrubar a
brecha que permite o pagamento de supersalários a ex-congressistas que
estão hoje no primeiro escalão do governo de Michel Temer e no Tribunal
de Contas da União.
Os focos da ação —uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental) no Supremo Tribunal Federal— são os ministros Eliseu
Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Governo).
O primeiro teve, em setembro, um total bruto de R$ 50,3 mil com salário
de ministro e aposentadoria parlamentar. O segundo, R$ 51,3 mil brutos.
Os valores estouram em quase R$ 20 mil o teto remuneratório do
funcionalismo, que é o subsídio pago aos ministros do Supremo, de R$
33,8 mil.
Padilha, que tem 70 anos, recebe R$ 19,4 mil de aposentadoria da Câmara
–teve quatro mandatos–, mais o salário de ministro de R$ 30,9 mil.
Geddel, que tem 57 anos, recebe um pouco mais da Câmara, R$ 20,4 mil
(ele acumula cinco mandatos).
Os dois ministros estão na linha de frente para defender a reforma da
Previdência desenhada pelo governo Temer. A proposta de emenda
constitucional alterando as regras de aposentadoria deve ser enviada ao
Congresso após as eleições e terá como foco o endurecimento de normas de
acesso à aposentadoria.
A brecha para o recebimento de valores acima do teto foi dada pelo TCU,
órgão auxiliar do Congresso, que também tem dois ministros acumulando
aposentadoria e subsídios com soma acima do limite.
José Múcio Monteiro, 68, recebe brutos R$ 32 mil de subsídio e R$ 26,1
mil de aposentadoria parlamentar (total de R$ 58,2 mil). Augusto Nardes,
64, ganha R$ 32 mil de subsídio, mais R$ 14,6 mil de aposentadoria
parlamentar (total de R$ 46,6 mil). Ambos são ex-deputados.
BRECHA
A decisão do TCU –que não teve a participação desses dois ministros– tem
como base, em linhas gerais, o entendimento de que o IPC (o antigo
Instituto de Previdência dos Congressistas) era um plano de Previdência
fechado e privado, embora o rombo com sua extinção, no final dos anos
1990, tenha sido assumido pelos cofres públicos.
Com base nesse entendimento, o TCU usa resoluções do Conselho Nacional
de Justiça que excluem do cálculo do teto "benefícios percebidos de
planos de Previdência instituídos por entidades fechadas, ainda que
extintas".
Chefe de Padilha e Geddel, o presidente Temer, 76, também teria valores
de subsídio e aposentadoria (é procurador inativo do Estado de São
Paulo) que extrapolariam os R$ 33,8 mil, mas no seu caso é aplicado o
abate-teto.
Seu contracheque de presidente de setembro, primeiro mês que exerceu o
cargo como efetivo, marcou remuneração bruta de R$ 30,9, já com desconto
de R$ 23,8 mil.
"Com todo esse discurso de equilíbrio das contas e contenção de gastos, é
patético que o governo tenha dois de seus principais ministros
extrapolando o teto", diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
O PSOL, que é da oposição, diz que pedirá uma decisão liminar em sua
ADPF para tentar barrar imediatamente os pagamentos. Importantes
decisões do STF nos últimos anos foram tomadas em resposta a ADPFs,
entre elas a anulação da Lei de Imprensa e a manutenção da Lei da
Anistia.
OUTRO LADO
Os ministros Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima não quiseram se
manifestar sobre os valores recebidos acima do teto constitucional, nem
veem algum constrangimento ao defender regras mais duras para a
concessão de aposentadoria à população em geral.
"Nada a declarar sobre o tema", respondeu Padilha. A assessoria de Geddel disse que ele não iria se manifestar.
A assessoria do TCU ressaltou que José Múcio Monteiro e Augusto Nardes
não participaram de nenhum dos julgamentos que abordaram a questão. E
que o entendimento do tribunal é baseado em resoluções do CNJ.
"O TCU entende, desde 1993, que o IPC [antigo Instituto de Previdência
dos Congressistas] se trata de Previdência privada, ou seja, os
parlamentares contribuíam com recursos próprios e o dinheiro era
investido, embora o risco atuarial fosse do poder público", informa a
assessoria em nota.
O texto afirma que o assunto voltou a ser discutido em 1997 e em 2013,
com igual conclusão, e que o tribunal segue resoluções do CNJ (Conselho
Nacional de Justiça).
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/10/1825401-psol-questiona-supersalario-de-ministros-do-governo-temer.shtml
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