Texto da colaboradora Thaisa Alves.
Poderia falar aqui sobre a atual conjuntura política e sobre o incêndio causado no país por um juiz nada imparcial. Entretanto, o que me preocupa – pela trigésima vez – é a misoginia presente nos discursos que atacam a nossa presidente. Qualquer assunto relacionado à mulher fica para depois quando se coloca a política em evidência, e é por isso que precisamos falar de Dilma Rousseff.
Não vou colocar aqui toda a trajetória percorrida por essa mulher até a chegada à presidenta da república. Todos sabem que Dilma sofreu bastante durante a ditadura, física e psicologicamente. Mas chegar à presidência fez com que ela continuasse sofrendo ataques. Eu era criança na era FHC, mas sempre fui muito curiosa e lembro perfeitamente de que a conduta sexual de Fernando Henrique Cardoso nunca foi assunto comentado. Lula chegou e, apesar de ser tratado como “o nordestino alcoólatra e analfabeto”, sua vida sexual também não foi posta em jogo.
Aí chegou a vez de Dilma, primeira mulher a ocupar o cargo. Independente de não concordar com muitas de suas medidas enquanto presidenta, não posso deixar de dizer que ver uma mulher nesse cargo fez com que muitas meninas passassem a ter consciência de que é possível fazer qualquer coisa, mesmo em um país onde as mulheres – apesar de maioria na população – não ocupam metade das cadeiras na política. O que me preocupa muito é a forma como os homens tratam a figura política de Dilma. E mais ainda, a sua vida sexual. A quem interessa saber se Dilma tem relações sexuais ou não?
Eu queria deixar bem nítido que esse machismo cansa, mas o feminismo persiste e continuará persistindo. Não seremos vencidas pelo cansaço. Eu não serei. Se atacarem Dilma Rousseff mil vezes, eu a defenderei duas mil. Mulher nenhuma merece passar por todo esse estresse. Há mais de um ano Dilma assumiu seu cargo novamente, tendo sido democraticamente eleita, e ainda não conseguiu governar em paz. Puta, vadia, piranha, vagabunda, anta, presidANTA são só alguns dos xingamentos misóginos que ela recebe, além da imagem do seu rosto ter sido usada em adesivos de carro com posições de cunho sexual.
Criticar a gestão de Dilma é uma coisa, mas criticar a pessoa Dilma Rousseff achando que está fazendo altas críticas ao governo é misógino e ameaçá-la de morte é crime. A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil, casos e mais casos de feminicídio e violência doméstica são divulgados todos os dias a todo momento. O Brasil é mais um país machista, repleto de misoginia e cidadãos que se escondem atrás do véu chamado “gente de bem”, mas não passam de fascistas prontos a guilhotinar qualquer pessoa por divergências de opinião e prontos a queimar em praça pública a “bruxa” eleita para comandar um espaço predominantemente masculino.
Dilma é retratada como encalhada, lésbica (como se isso fosse algo pejorativo) e mulher-macho por sua postura firme, apesar de todos os ataques que vem sofrendo. Vejo suas entrevistas, pronunciamentos e tenho vontade de abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem. Seu semblante mostra o cansaço, mas também a resiliência. E nem o fato de ela ser mãe e avó, figuras sociais culturalmente reverenciadas, é suficiente para que seja tratada com respeito.
Ontem uma hashtag machista dizia que Lula havia perdido seu dedo em uma parte íntima do corpo de Dilma. Foi um dos assuntos mais comentados no Twitter e isso mostra como não existe vergonha por parte dessas pessoas. Tratam Dilma e seu corpo como se fossem públicos. Arrisco dizer que foram as mesmas pessoas que tentaram incitar o ódio das feministas pra cima de Lula, quando o mesmo referiu-se às mulheres militantes como “mulheres de grelo duro”, implicando que se tratariam de mulheres fortes.
Dilma se mostra uma mulher extremamente forte ao aguentar todos os ataques, mas é bom deixar claro que ela não está sozinha. Nenhuma mulher está. É bom que não mexam com Dilma. O machismo não dorme e a militância do grelo duro mandou avisar que misoginia não passará!
Mexeu com uma, mexeu com todas!
Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2016/03/22/o-machismo-ataca-de-todos-os-lados/
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