Um aluno de jornalismo me perguntou, discretamente, qual era a maior crítica que eu ouvia por conta do blog. E, antes que respondesse, emendou: considerando as críticas dos que concordam com você.
A pergunta não é fácil porque você tende a guardar mais as ameaças, xingamentos, maldições, pragas e afins, até para ter o que conversar com o analista, do que outras coisas.
Após refletir um pouco, respondi que era a falta de opinião sobre um determinado assunto.
Este blog completará dez anos no final de 2016, caso este humilde missivista chegue vivo até lá (minha mãe sempre ensinou a não comemorar aniversário antes para não dar zica – com “c''). Durante esse tempo, ele acabou reunindo uma comunidade em seu entorno que, de certa forma, utiliza as análises deste jornalista para balizar o debate – concordando, discordando, agonizando, ruminando, enfim.
Quando ocorre um fato de interesse público, há uma cobrança de um número significativo de leitores por uma análise sobre esse fato. Daí, diante de certos silêncios, uns se frustram. Outros me acusam de estar fazendo o jogo do governo ou da oposição. Há ainda os que dizem que tenho medo de expor o que penso.
O problema é que, não sei se vocês perceberam, este blog aborda uma temática específica – direitos humanos. Que, por ser assunto transversal, também acaba trabalhando com política, economia, sociedade, cultura, esportes. Isso dá a impressão de que ele trata de tudo um pouco quando, na verdade, são os direitos humanos que estão em toda a parte. Isso não significa, contudo, que vá abordar qualquer aspecto da política nacional ou qualquer decisão do Supremo Tribunal Federal.
E não é por uma questão puramente formal. É que acredito, verdadeiramente, que outros colegas podem dar uma contribuição maior ao tema do que eu nesses momentos. Ou seja, quero mais ouvir do que falar.
Decerto poderia fazer uma reportagem e ouvir diferentes pontos de vista, construindo um texto com versões sobre o assunto demandado pelos leitores. Mas, novamente, há jornalistas e especialistas nessas áreas (não pitaqueiros de plantão) com mais fontes e experiência sobre o assunto. Prefiro conversar com eles e ler sobre o tema para tentar entende-lo.
Em suma, tudo isso para dizer que, apesar de ser um ariano que não acredita em horóscopo, creio que o reconhecimento de nossa ignorância é importante. Tão importante quanto o que fazemos diante disso.
Vivemos um tempo em que bonito é ter opinião pronta sobre absolutamente tudo. Mas como não há tempo para informar-se ou refletir sobre absolutamente tudo, essa opinião pode significar superficialidade ou a repetição de velhos preconceitos. Que até ficam bonitos quando empolados na boca lustrosa da certeza alheia.
Mas falham retumbantente ao primeiro teste de racionalidade a que são submetidos.
Às vezes, belo e sábio mesmo é o silêncio.
Sobre
o autor
Leonardo
Sakamoto
É
jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São
Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito
aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP e
pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em
Nova York, é diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo
das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.
Disponível em: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/02/26/o-silencio-pode-ser-mais-belo-do-que-dar-opiniao-sobre-tudo/
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