Por Neto Lucon para A Capa
Não é de hoje que sabemos que o fundamentalismo religioso e as tentativas de "reorientação sexual" dentro dos lares provocam sofrimento e até a morte. Os hoje ativistas Linda e Rob Robertson vivenciaram a intolerância maquiada de religião dentro de casa.
Eles viram a morte o filho Ryan no dia 16 de julho de 2009, aos 20 anos, depois de viver anos tentando "curá-lo" da homossexualidade. E passaram a comandar instituições pró-LGBT e também ajudar outros pais dos Estados Unidos.
Em entrevista, Linda lembra que o filho contou que era gay aos 12 anos. Ela falou que o amaria, mas que não era isso que Deus queria, que ele teria que fazer uma terapia para mudar e deixar "Deus agir nele".
Ryan lutou contra a homossexualidade por longos seis anos, participando de encontros e memorizando todos os ensinamentos religiosos - em vão, até que se revoltou. Aos 18, o jovem estava com depressão, aspirações suicidas, desiludido e convencido de que não seria amado por Deus.
"Involuntariamente ensinamos Ryan a odiar a sua sexualidade. E como a sexualidade não pode ser separada de uma pessoa, ensinamos Ryan a odiar ele mesmo", diz Linda.
O jovem fugiu de casa, se viciou em drogas e sumiu por um ano e meio. Depois, retomou o relacionamento com os pais, mas morreu de overdose dez meses depois. "Paramos de orar para que Ryan virasse hétero. Começamos a orar para que ele soubesse que Deus o amava. Paramos de orar para que ele nunca tivesse um namorado. Começamos a orar para que um dia ele pudesse encontrar o seu namorado. Paramos até de orar para que ele voltasse para casa, só queríamos que ele voltasse para Deus", afirma.
Ao voltar para casa, Ryan perguntou se os pais o perdoavam, se ainda o amavam e se ele poderia ter finalmente um namorado. "Chorando, disse a ele que poderíamos amá-lo com quinze namorado. Nós só o queríamos de volta em nossas vidas. Nós só queríamos ter uma relação com ele de novo... E com o namorado dele". Do novo contato, Linda afirma que começou uma fase nova na família - cheia de "cura", "restauração", "comunicação aberta" e "graças", pela aceitação do filho gay.
"Aprendemos a amar qualquer pessoa que o nosso filho amasse. E foi fácil. Aquilo que eu estava com tanto medo acabou se tornando uma benção".
Até que Ryan foi ao encontro de antigos amigos, usou drogas pela primeira vez em dez meses e chegou em coma no hospital. Morreu 17 dias depois. "Perdemos a capacidade de amar o nosso filho gay, porque nós não tínhamos mais um filho gay. Então tudo o que nós desejamos, oramos e esperamos que acontecesse, que não tivéssemos um filho gay, aconteceu. Mas não da forma como imaginávamos".
Hoje, Linda diz o quanto foi "boba" tentar mudar a orientação sexual do filho e que, ao visitar novos amigos gays, sempre pensa em como seria "incrível" visitar Ryan e o marido em um jantar. Ela e o marido sempre visitam o túmulo do filho e usam a cor laranja, a preferida dele.
Disponível em: http://www.homorrealidade.com.br/2014/12/ensinamos-ele-odiar-si-mesmo-diz-mae.html
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