Levantamento foi divulgado pela Fundação Abrinq nesta terça-feira (24).
De acordo com relatório da Abrinq, 5,8 milhões de crianças e adolescentes são vítimas de pobreza extrema no Brasil / Pixabay Creative Commons
A publicação “Cenário da Infância e da Adolescência no Brasil”,
lançada nesta terça-feira (24) pela Fundação Abrinq, aponta que 40% de
crianças e adolescentes com até 14 anos de idade vivem em situação
domiciliar de pobreza no Brasil, o que representa 17,3 milhões de
jovens. Destes, 5,8 milhões, ou 13,5%, vivem em situação de extrema
pobreza.
A realidade de 2018, porém, pode ser ainda pior. Durante a
apresentação do estudo, a administradora executiva da Fundação Abrinq,
Heloisa Oliveira, destacou que o impacto da política de cortes de
investimentos adotada pelo governo Michel Temer ainda não foi medida.
“Em função da limitação de gastos imposta pela Emenda Constitucional
95, alguns investimentos já reduziram e vão se refletir num agravamento
das estatísticas, com certeza. Mas, como nós estamos agora com a
estatística de 2016, esses reflexos ainda não estão presentes. Esperamos
que haja uma decisão politica de mais investimentos na infância e que a
gente não tenha que estar aqui no futuro falando que piorou”, apontou.
Os piores índices estão nas regiões Norte e Nordeste do país, onde
54% e 60% das crianças e adolescentes, respectivamente, vivem em
situação de pobreza. O estudo considera como pobres aqueles cujo
rendimento mensal domiciliar per capita é de até meio salário mínimo
(valor equivalente a R$ 477,00, considerando o atual salário mínimo de
R$ 954). Já os extremamente pobres teriam rendimento mensal domiciliar
per capita de até um quarto de salário mínimo (ou R$ 238,00).
Oliveira salientou que o estudo da Fundação Abrinq busca, a partir da
compilação de todas as estatísticas públicas disponíveis, fazer um
recorte sobre a população de crianças e adolescentes e criar indicadores
que possam ser relacionados com as metas dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) –guia de ações de inclusão e
sustentabilidade sugerida aos governos pela Organização das Nações
Unidas a partir dos debates realizados na conferência Rio+20. O ODS
número 1 pretende erradicar a pobreza extrema em todo o mundo até 2030 e
diminuir pela metade a população pobre mundial no mesmo período.
Outro dado alarmante se relaciona com o ODS 16, sobre promoção de
sociedades pacíficas e inclusivas. No Brasil, dos quase 57 mil mortos
por homicídios em 2016, 18,4%, ou 10,7 mil pessoas, tinham menos de 19
anos.
“Essa estatística é formada em sua grande maioria por jovens pobres,
negros e que vivem em regiões periféricas das grandes cidades. Ou seja,
as estatísticas da violência refletem a ausência de investimento nas
politicas sociais básicas e estruturantes do desenvolvimento das
pessoas”, analisa Heloísa Oliveira.
Com relação ao ODS 3, que trata de assegurar vida saudável a todos, o
estudo alerta para o problema da gravidez precoce no Brasil: 17,5% das
mulheres que foram mães em 2016 tinham 19 anos ou menos, e conceberam
mais de 500 mil crianças.
Com relação ao saneamento, uma preocupação do ODS 6 e fator de grande
relevância para propagação de doenças entre crianças, a fundação alerta
para o fato de que 43% da população brasileira não é atendida pela rede
de coleta de esgoto.
Edição: Diego Sartorato
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/04/24/pobreza-atinge-173-milhoes-de-criancas-e-jovens-brasileiros-com-ate-14-anos/
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