Evelyn Silva, para a Revista AzMina
Tudo que piora a vida das mulheres atinge a sapatão com força muito maior.
Dentre
todos os pobres do mundo, as mulheres são as mais pobres. Somos nós as
mais vulneráveis e que têm menos oportunidades de superar a pobreza na
maior parte das sociedades. A pobreza no capitalismo é condicionada ao
gênero, à raça e à orientação sexual.
Falar de pobreza é fundamental pra nos entendermos enquanto lésbicas
nesse planetinha azul e desigual. Você já foi à Parada do Orgulho LGBT
em Copacabana? Quantos homens gays estão em posição de destaque? E nas
Paradas LGBT da Baixada Fluminense (ou das periferias de todo o país)?
Em geral, não só vemos mais mulheres (cis e trans), como elas são as
organizadoras, produtoras e diretoras das ONGs locais, que matam no
peito todos os pepinos que envolvem eventos desse porte.
Uma das mais eficazes formas de abuso e violência contra a mulher é a
alienação patrimonial. Ela é exercida por pais, irmãos, filhos e
maridos. Adolescentes lésbicas cujas famílias não aceitam a
homossexualidade também são expulsas, mas, na maioria das vezes, são trancadas em casa. Têm o acesso ao dinheiro, à educação e ao trabalho negado. E quem paga a banda, escolhe a música.
Quando se retira de alguém o direito à educação, garante-se que essa
pessoa vá para o mercado de trabalho com uma enorme desvantagem.
Educação básica e condições de permanência na escola têm que ser assunto sério pras sapas. Assim como o acesso ao ensino superior nas mais diversas formações, inclusive nas ciências exatas.
Os trabalhos mais precarizados do mercado são reservados às mulheres,
que também acumulam as tarefas domésticas e a responsabilidade de
cuidar de filhos e maridos. Sapatão não tem marido mas cuida dos filhos,
dos pais, dos irmãos, sobrinhos… Quer melhorar significativamente a
vida das sapas (e das mulheres em geral)? Aumente o salário mínimo! Sim,
porque são elas quem majoritariamente recebem UM salário mínimo no
mundo todo.
Como as mais pobres entre os pobres, as mulheres são maioria nas
periferias e bolsões de pobreza. Moram longe, trabalham no centro, pegam
várias conduções. As lésbicas estão entre as mais pobres das mulheres
(não têm marido, lembra? Ou foram colocadas pra fora de casa, ou da
escola, ou proibidas de sair de casa…).
Subiu a tarifa do transporte público? Bingo, impacto brutal sobre a
sapatão da perifa! É o que acontece também com o aumento dos itens da
cesta básica…
Falando em periferia: os índices de estupro corretivo e lesbocídio lá são infinitamente maiores. E sabemos disso porque sabemos, porque são nossas amigas, namoradas, companheiras, nós mesmas que morremos.
A lesbofobia não faz parte da agenda da segurança pública e não temos indicadores pra calcular quantas vítimas de feminicídio (que aumentam em progressão geométrica no mundo todo) são lésbicas e tiveram suas mortes motivadas por serem quem são.
Outra questão importante na discussão de pobreza é o acesso aos
serviços de saúde. Há especificidades para a saúde da mulher, e mais
ainda para as lésbicas. Como o sistema de saúde pública não faz a discussão sobre orientação sexual,
quem tem que usar o SUS acaba por não ter o atendimento necessário. Nem
de saúde física, nem mental. A depressão é considerada uma epidemia
mundial e 70% das pessoas que sofrem é mulher. De acordo com a OMS,
mulheres registram três vezes mais tentativas de suicídio do que os
homens; LGBTs, cinco vezes mais que heterossexuais cisgêneros.
É fundamental que as sapas se juntem e se envolvam com todas as
iniciativas de erradicação da pobreza. Precisamos pressionar para a
melhorar a mobilidade urbana, o sistema de saúde, o sistema de educação,
a empregabilidade. Exigir o aumento do salário mínimo e a ampliação de
microcrédito. Garantir que tenhamos representações nossas que defendam a
pauta sapatão e feminista, que não sejamos reféns da “boa vontade” de
ninguém.
Quando vemos medidas de precarização sendo aprovadas, PEC 241/55,
reforma da Previdência, reforma trabalhista, temos que saber que tudo
que piora a vida das mulheres atinge a sapatão com força muito maior.
Nós por nós.
#SapatãoÉResistência
#SapatãoÉRevolução
* Evelyn Silva é militante da Insurgência no Distrito Federal e colunista da Revista AzMina.
Originalmente publicado em: http://azmina.com.br/2017/05/violencia-pobreza-saude-para-as-mulheres-lesbicas-tudo-e-pior/
Disponível em: http://www.insurgencia.org/violencia-pobreza-saude-para-as-mulheres-lesbicas-tudo-e-pior/
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