As movimentações nos bastidores andam a passos largos. Mas para tomar qualquer decisão o partido pretende esperar o avanço do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que começa na próxima terça-feira. Ainda que o processo trave,
com o pedido de vistas de um ministro mais aliado ao Governo, apenas o
voto do relator do processo, Herman Benjamin, já pode ser suficiente
para uma decisão final, se for muito duro. Esta etapa precede o voto de
qualquer ministro, momento em que a vista poderia ser pedida, adiando o
processo. Ironicamente, a ação contra ele no TSE foi proposta pelos
próprios tucanos que hoje são aliados.
Os caciques do PSDB defendem parcimônia, de olho nas reformas que
podem ser implementadas pelo Governo Temer. Sabem que um mandato-tampão
dificilmente daria a seu detentor o cacife para seguir com medidas tão
polêmicas. Em um artigo publicado no EL PAÍS neste domingo, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que o partido não apelou
"ao muro", mas à "prudência". "Disse no início do atual Governo que ele
atravessaria uma pinguela (...) O Governo Temer tem feito um esforço,
até maior do que se imaginaria possível, para rearranjar uma situação
institucional e financeira desoladora. Apoiei a travessia e espero que a
pinguela tenha conserto". O ministro tucano das Relações Exteriores,
Aloysio Nunes, também afirmou nesta sexta-feira que o PSDB não era a
"madame Bovary", que insatisfeita com o casamento decidiu trair o
marido.
Mas enquanto os caciques do partido tentam manter a sensação
de normalidade, um movimento entre a bancada do PSDB já reúne 20 dos 46
deputados da legenda a favor do rompimento com o Governo Temer. Eles
defendem a entrega de todos os quatro ministérios que ocupam, mas a
manutenção do apoio à pauta legislativa da gestão.
Essa ruptura só não ocorreu ainda porque alguns dos líderes tucanos,
como o senador cearense Tasso Jereissati e o governador paulista Geraldo
Alckmin pediram cautela para que qualquer decisão fosse tomada. Temer
se reuniu na última segunda-feira com FHC e Jereissati, atual presidente
interino do partido. Uma reunião com Alckmin também estava agendada
para sexta-feira, para tentar conter a rebeldia da ala paulista do
partido. Nesta segunda-feira, os tucanos paulistas podem tomar uma
posição como a da seção estadual do partido no Rio, que no último dia 20
pediu a renúncia do presidente e a saída dos ministros do partido do
Governo.
"Há quem diga que, se deixarmos a base, ocorrerá um efeito
cascata que acabará com o Governo. Mas temos de tomar uma posição. Não
faz sentido continuarmos com os cargos", afirmou o deputado pernambucano
Daniel Coelho, um dos rebeldes do Congresso. Na mesma linha
segue o deputado Eduardo Barbosa, de Minas Gerais. "Já deveríamos ter
saído antes, quando estourou a delação. Não saímos porque ainda temos
ministros que querem seguir e porque não encontramos uma solução para
substituir Temer", disse em referência a Aloysio Nunes Ferreira e
Antônio Imbassahy (da Secretaria de Governo da Presidência).
Na visão da ala que defende a ruptura, as reformas na atual crise
política têm menos chances ainda de passar com Temer. Coelho e Barbosa,
por exemplo, chamam atenção para o fato de que a reforma da Previdência
não tem garantia de votos da base, mesmo que Temer siga no cargo. Os
dois dizem que votarão contra a atual proposta de emenda constitucional.
Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília,
David Fleischer, a ala mais jovem do PSDB, que defende a ruptura, está
mais preocupada com as dificuldades em disputar a reeleição, no ano que
vem, caso sejam associados a um governo altamente impopular como o de
Temer. "O PSDB pode até não sair oficialmente, mas ficará dividido, o
que é muito ruim para a imagem do partido", afirma. "Os que querem ficar
estão esperando para ver, porque acham que pode vir coisa pior. Não o
julgamento do TSE, que deve acabar adiado, mas uma eventual delação do
ex-deputado Rocha Loures", afirma o professor, em referência ao
ex-assessor de Temer, que foi flagrado recebendo propina da JBS e foi preso no sábado por decisão do relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin.
Nenhum comentário:
Postar um comentário