Estudo foi realizado pelo Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Corpo é removido no centro do Rio
Pedro Teixeira / Arquivo O Globo
RIO - Entre 2005 e 2015, mais de 318 mil jovens foram
assassinados no país, de acordo com pesquisa "Atlas da Violência"
divulgada nesta segunda-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No
intervalo desses anos, observou-se um aumento de 17,2% na taxa de
homicídio de indivíduos entre 15 e 29 anos. Somente em 2015, as mortes
de jovens corresponderam a 47,8% do total de óbitos.
O estudo analisa o perfil das vítimas de violência no Brasil
e traz dados por estados. O número de homicídios no Brasil se manteve
estável em 2015, em proporção semelhante dos dois anos anteriores.
Segundo o Ministério da Saúde, nesse ano houve 59.080 mortes. Mas, se
considerarmos o período de 2005 a 2015, houve um aumento de 10,6%.
“Tal índice revela, além da naturalização do fenômeno, um
descompromisso por parte de autoridades nos níveis federal, estadual e
municipal com a complexa agenda da segurança pública”, afirmam os
pesquisadores.
Embora tenha se mantido estável, o dado é exorbitante, de
acordo com a análise dos pesquisadores. Para dimensionar esse volume, o
estudo traz uma comparação: em apenas três semanas o total de
assassinatos no país supera a quantidade de pessoas mortas em todos os
ataques terroristas no mundo, nos cinco primeiros meses de 2017,
incluindo o que ocorreu no show da cantora Ariana Grande, em Manchester.
Desde o início do ano, foram 498 atentados que resultaram em 3.314
mortos. No Rio, o número de homicídios caiu 31,6% entre 2005 e 2015.
A pesquisa aponta que o perfil típico das vítimas fatais
permanece o mesmo: homens, jovens, negros e com baixa escolaridade. Mas,
na última década, o viés de violência contra jovens e negros aumentou
ainda mais. Entre 2005 e 2015, enquanto houve um crescimento de 18,2% na
taxa de homicídio de negros, a mortalidade de indivíduos não negros
diminuiu 12,2%.
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Com
relação ao gênero, 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2015,
o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres.
E, mais uma vez, as diferenças raciais ficaram evidenciadas: enquanto a
taxa de homicídios de mulheres não negras diminuiu 7,4%, entre 2005 e
2015, o indicador equivalente para as mulheres negras aumentou 22%.
“Ainda que, em termos de letalidade violenta, as mulheres
sejam menos afligidas, este número representa uma pequena ponta do
iceberg das centenas de milhares de violências (físicas, psicológicas e
materiais) que afligem a população feminina, que são motivadas por uma
cultura patriarcal e que passam invisíveis aos olhos da sociedade”,
pontua a pesquisa.
ARMAS DE FOGO
De acordo com o
estudo, 41.817 pessoas foram mortas por armas de fogo, o que
correspondeu a 71,9% do total de homicídios no país.
“Depois de uma redução nas mortes por armas de fogo que se
seguiu após o Estatuto do Desarmamento até 2007, observou-se um
incremento nas mortes por esse tipo de instrumento nos últimos anos,
sobretudo, no Norte e Nordeste do país. Conforme indicam as pesquisas
científicas, a difusão das armas de fogo é um elemento crucial que faz
aumentar os homicídios. Portanto, há a necessidade de se aprimorar o
controle de armas no país, não apenas no que diz respeito à
operacionalização acerca do que está previsto na Lei, mas ainda pelo
desenvolvimento de um trabalho integrado de inteligência policial que
envolva os vários níveis governamentais, de modo a restringir os canais
que permitem que a arma entre ilegalmente no país, ao mesmo tempo que
possibilite a apreensão e destruição das armas que se encontram em
circulação no mercado ilícito”, afirma o estudo.
Em 2015, apenas 111 municípios (2% do total de municípios)
responderam por metade dos homicídios no Brasil. Em relação aos
municípios mais violentos, em 2015, com mais de 100 mil habitantes,
Altamira, no Pará, lidera a lista, que tem representantes de Unidades
Federativas das cinco regiões brasileiras. Enquanto o Norte e Nordeste
possuíam 22 municípios neste ranking, o estado de Goiás participou com
quatro municípios.
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