Diante da reserva de vagas pela Faculdade de Direito da USP, saiba como está o cenário de inclusão no Ensino Superior brasileiro.
Na última quinta-feira, 30 de março, foi aprovado pela Faculdade de
Direito da USP o ingresso de alunos pretos, pardos e indígenas por meio do sistema de cotas
do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Para 2018, 20% das vagas
deverão ser reservadas para esses alunos. Desde a sanção da Lei de
Cotas, em 2012, que possibilitou a entrada de aproximadamente 150 mil
estudantes negros em todo o País, a adoção de cotas raciais tem sido
discutida, gerando polêmicas. Entenda os principais pontos:
O que são as cotas raciais? Por que elas são importantes?
As cotas raciais são ações afirmativas que têm como principal função a
reparação de desigualdades econômicas, sociais e educacionais no
Brasil. Segundo dados do IBGE de 2015, somente 12% da população preta e
13% da parda possuem Ensino Superior. Tais reparações são efetuadas por
meio de políticas públicas ou privadas retributivas. No caso das cotas
raciais nas universidades, é feita a reserva de vagas para o ingresso de
cidadãos pretos, pardos e indígenas. Em uma sociedade que
historicamente privilegia um grupo racial e onde outros foram oprimidos,
as cotas surgem como um importante meio de atuação contra a
desigualdade social e a favor da democracia e da cidadania.
Qual o cenário atual das cotas no Brasil?
Em 2000, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) reservou
50% das vagas dos cursos de graduação para alunos de escolas públicas.
Apenas 12 anos depois, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal e
foi votada por unanimidade como constitucional. Naquele momento, o
movimento negro já reivindicava políticas públicas em torno do direito
universal de acesso ao ensino. Em 2004, a Universidade de Brasília (UnB)
constituiu políticas afirmativas para negros nos vestibulares, sendo a
primeira universidade a adotar tal sistema. A partir de então diversas
outras universidades adotaram sistemas de ações afirmativas nesse
sentido. Hoje, todas as universidades federais e 30 das 38 estaduais
aderem à adoção das cotas raciais. Apesar da adoção do sistema de cotas
raciais do Sisu pela Faculdade de Direito da USP, as demais faculdades
da instituição não adotaram o mesmo programa e permanecem com uma ação
de inclusão social diferenciada por meio de sistema de bonificação, o
INCLUSP (Programa de Inclusão Social da USP). Nos últimos anos, porém
tem implantado a reserva de vagas sob critério de raça via Sisu.
Qual a diferença entre cotas raciais e sistema de bonificação?
O programa INCLUSP permite o ingresso de estudantes na universidade
por meio de um acréscimo de pontuação na nota do vestibular. No entanto,
o sistema contempla apenas alunos que fizeram escola pública e, caso
também sejam pertencentes ao grupo PPI (Preto, Pardo ou Indígena), têm
fator adicional de 5% de acréscimo ao bônus de 15%. O bônus incide na
primeira fase do vestibular.
Quais foram os impactos das cotas raciais no Ensino Superior brasileiro?
De 2005 a 2015, o número de jovens negros no Ensino Superior cresceu
de 5,5% para 12,8%, segundo dados de 2016 do IBGE. Cabe ressaltar que,
em 1997, apenas 1,8% dos jovens entre 18 e 24 anos que se declaravam
negros frequentavam uma universidade, segundo o Censo.
Então, por que tantas pessoas se posicionam contrariamente ao sistema de cotas raciais?
Baseadas no argumento da meritocracia, algumas pessoas creem que as
políticas afirmativas para negros são uma maneira de facilitar e
privilegiar os negros em suas carreiras acadêmicas ou profissionais.
Essa narrativa, entretanto, não leva em conta a existência de realidades
heterogêneas e o acesso também desequilibrado na participação política
popular e institucional. Outro argumento usado é a possibilidade de
fraude, isto é, de pessoas poderem se autodeclararem negras. Outra
crítica se embasa na ideia de que as cotas pioraria a qualidade do
ensino superior ao nivelá-lo para baixo. No entanto, diversos estudos
mostram que o desempenho dos cotistas é muito parecido com o de não
cotistas e, em alguns casos, até superior.
Disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/new-rss/entenda-como-funcionam-as-cotas-raciais/
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