sexta-feira, 5 de maio de 2017

APÓS 2 ANOS PRESA, TRANSEXUAL AGREDIDA EM DELEGACIA DE SÃO PAULO É SOLTA PELA JUSTIÇA

Verônica Bolina foi considerada inimputável e acabou absolvida de tentar matar idosa e bater em outra transexual, em mulher e em PMs. Em 2015, fotos dela seminua e ferida vazaram na web após arrancar orelha de carcereiro.

Verônica Bolina, antes e depois das agressões (Foto: Reprodução/Facebook; Divulgação) 

Verônica Bolina, antes e depois das agressões (Foto: Reprodução/Facebook; Divulgação) 

Após dois anos presa, a transexual Verônica Bolina, de 27 anos, foi solta nesta semana pela Justiça de São Paulo, que também a absolveu dos crimes que respondia por tentativa de assassinato contra uma idosa e agressão contra outras quatro pessoas. A prisão da cabeleireira em 2015 chamou a atenção após fotos dela seminua, algemada e com o rosto inchado, vazarem na internet. A agressão ocorreu depois de ela arrancar, a dentadas, a orelha de um carcereiro.

O G1 apurou que Verônica passou por um exame de sanidade mental que a considerou "absolutamente inimputável" quando cometeu os crimes, ou seja, ela não tinha consciência do que estava fazendo e, por esse motivo, não pode responder criminalmente por seus atos.
No alvará de soltura expedido na terça-feira (2), o juiz Roberto Zanichelli Cintra determina, porém, que Verônica siga tratamento ambulatorial pelo prazo mínimo de três anos. "A absolvo sumariamente", escreveu o magistrado, que determinou "ainda que seja imediatamente submetida a novo exame psiquiátrico".
Verônica teria deixado o Centro de Detenção Provisória (CDP) Pinheiros 3, na Zona Oeste da capital, na quarta-feira (3). A reportagem apurou que psiquiatras consideraram que Verônica teve transtorno de personalidade associado. Esse quadro teria gerado uma agressividade inconsciente nela. 


À esquerda, foto da orelha do carcereiro que a transexual arrancou. À direita, Verônica aparece seminua no chão de delegacia. Imagens viralizaram na web (Foto: Reprodução/Facebook) À esquerda, foto da orelha do carcereiro que a transexual arrancou. À direita, Verônica aparece seminua no chão de delegacia. Imagens viralizaram na web (Foto: Reprodução/Facebook) 
 

'Incapaz'

"Segundo ficou apurado pela perícia ao tempo da ação era inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso dos fatos ou de determinar-se de acordo com esse entendimento", informa trecho da sentença judicial.
Entre os dias 10 e 12 de abril de 2015, Verônica foi detida em flagrante sob a acusação de tentar assassinar uma idosa de 73 anos, agredir uma transexual e uma mulher, além de brigar com policiais militares no prédio onde morava. Depois, foi acusada de arrancar a orelha de um carcereiro na cadeia do 2º Distrito Policial (DP), no Bom Retiro, na região central da capital.
Pelos crimes ocorridos no prédio, ela foi absolvida, mas pelo crime na delegacia, Verônica responderá solta por lesão corporal. O G1 apurou que ela foi denunciada pelo Ministério Público (MP) pela agressão ao agente.
Em depoimento à Promotoria, a cabeleireira confirmou que agrediu a idosa e arrancou a orelha do carcereiro porque a primeira fez magia negra contra ela e o segundo, a agrediu.

Fotos: agredida e seminua

O caso envolvendo Verônica teve repercussão porque foi neste DP, onde ela ficou presa, que a transexual apanhou, acabou ofendida e teve fotos seminuas dela, com rosto inchado e algemada, divulgadas na internet.
Ela teria sofrido as agressões dos policiais e de alguns presos por represália por ter mordido o carcereiro. Já as fotografias e o vazamento delas teriam sido feitos por policiais, que também teriam divulgado o perfil do carcereiro sem parte da orelha na web.
Em abril do ano passado, o G1 revelou que a Justiça havia reaberto a investigação policial que arquivou as denúncias de tortura, xingamentos e constrangimento supostamente cometidas por policiais contra Verônica.
A Corregedoria da Polícia Civil voltou a investigar policiais civis por supostos crimes de tortura, injúria e constrangimento ilegal contra a transexual. 

Tortura

Anteriormente, esse mesmo órgão tinha concluído que os agentes apenas usaram a força física necessária para conter e se defender de Verônica. Como ela também brigou com outros presos, a identificação de quem a machucou teria ficado prejudicada.
A Corregedoria ainda havia informado que não foi possível identificar o responsável por tirar fotos dela e espalhá-las na web. Diante disso, decidiu arquivar o caso sem apontar culpados.
A Corregedoria da Polícia Militar (PM) também chegou a investigar se seus policiais agrediram e fotografaram a transexual, mas, assim como o órgão correspondente na Polícia Civil, arquivou o caso. O arquivamento da PM, no entanto, teria sido aceito pela Justiça.
Procurada na tarde desta sexta-feira para comentar o caso, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse, por meio de nota, que "a Corregedoria da Polícia Civil informa que está em andamento o inquérito que apura tortura, injúria e constrangimento ilegal, em que policiais são averiguados."

Verônica Bolina (da esquerda para a direita): fotos mostram antes e depois de agressão sofrida na delegacia; imagens vazaram na internet (Foto: Reprodução / Polícia Civil / Facebook e Defensoria Pública) 

Verônica Bolina (da esquerda para a direita): fotos mostram antes e depois de agressão sofrida na delegacia; imagens vazaram na internet 
(Foto: Reprodução / Polícia Civil / Facebook e Defensoria Pública)

Disponivel em:  http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/apos-2-anos-presa-transexual-agredida-em-delegacia-de-sp-e-solta-pela-justica.ghtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário