Laudato si: não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental.
Defender a vida é conjugar o cultivo ao cuidado da criação. (Divulgação)
Por Élio Gasda*
Com a proposta de transformação social com formação da consciência, a
Campanha da Fraternidade 2017 traz como tema “Fraternidade: biomas
brasileiros e defesa da vida”. Lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn
2,15). A iniciativa quer despertar a sociedade para a preservação dos
biomas.
O Brasil abriga as maiores reservas de água doce e um terço das
florestas tropicais que ainda restam no planeta. O país tem seis biomas e
uma das biodiversidades mais ricas do mundo: Amazônia, Caatinga,
Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa. Todos estão ameaçados por
poderosos grupos econômicos. Madeireiros, fazendeiros e agentes do
agronegócio avançam com voracidade sobre eles. Governos e empresas não
estão preocupados com a vida e os destinos dos seus habitantes.
A crise dos biomas é muito mais grave que a extinção de
espécies, pois resulta da destruição dos ambientes naturais onde elas
surgem e se desenvolvem. Com a destruição de seus habitats naturais,
elas desaparecerão. Caatinga e Amazônia estão entre os ecossistemas mais sensíveis ao câmbio climático; além das condições naturais, a pobreza aumenta riscos no Semiárido.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Caatinga já perdeu 46% de sua
cobertura florestal. Estas regiões podem sofrer extinções em massa.
Entendendo o termo bioma. Sua origem é grega, composta pela junção de bios (vida) e oma
(grupo, massa) e foi usado pela primeira vez em 1916 pelo botânico
Frederic Edward Clements. Em linhas gerais, bioma é uma área geográfica
de grandes dimensões (acima de milhão de quilômetros quadrados) que se
caracteriza por certa unidade climática, fauna, vegetação e flora
semelhante (não necessariamente uniforme), organismos vivos associados e
outras condições ambientais, como altitude, solo, alagamentos e
salinidade. Estas características lhe conferem uma ecologia própria.
Como todos os ecossistemas, os biomas são essenciais para manter o
equilíbrio no planeta. Esta perspectiva é importante quando se considera
o valor da biodiversidade, pois se trata de uma extraordinária riqueza
que pertence à humanidade. Preservar, além de ser um exercício de
cidadania, é uma ação de comprometimento com a Criação de Deus, como
ensina o Papa Francisco na Encíclica Laudato si. Defender a vida é
conjugar o cultivo ao cuidado da criação.
A ecologia integral está no centro da reflexão sobre os
biomas. Porque “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra
social, mas uma única e complexa crise socioambiental” (Laudato si, n.
139). Sua preservação não se limita a uma questão ambiental, mas envolve
a justiça, a sobrevivência dos povos e suas expressões culturais.
Biomas e vida humana formam um grande e complexo todo. Há uma rede de
relações que ligam e religam todos os seres vivos. Esta visão integral
envolve política e economia, cultura e educação, ciência e ética. A
inserção da dimensão sociopolítica vincula a preservação dos biomas com a
justiça social. Todo processo de exploração insustentável compromete a
vida dos mais pobres e as culturas locais. Desigualdade social e
degradação ambiental são inseparáveis. Os gemidos da natureza saqueada
se unem aos dos povos que nela habitam.
A mudança de comportamento e a conscientização a respeito da importância dos biomas dependem de uma educação para a ecologia integral.
Envolve, portanto, “todos os ambientes educacionais, por primeiro a
escola, a família, os meios de comunicação, a catequese” (Laudato si, n.
213). Não se pode subestimar a importância da educação ambiental
capaz de incidir sobre gestos e hábitos cotidianos, da redução do
consumo de água, de separação do lixo até apagar as luzes desnecessárias
(Laudato si, n. 211).
A ecologia integral é feita de simples gestos quotidianos. A
Campanha da Fraternidade acontece durante todo o ano, não apenas na
Quaresma. Por isso seu Texto Base lista algumas propostas de
ação concreta: Incentivar a criação de um Projeto de Lei proibindo o uso
de agrotóxicos; estimular o desenvolvimento de projeto de preservação,
recuperação e valorização das frutas e ervas medicinais; reforçar as
articulações e resistências dos povos tradicionais
(indígenas/quilombolas) nas mobilizações por direitos e regularização de
seus territórios; promover campanhas de conscientização quando ao
descarte adequado dos resíduos sólidos e esgotos sanitários, para
preservar os rios, lagoas e igarapés.
O cristão é um cultivador e guardião da Criação. A ecologia é um dos
novos areópagos da evangelização (Documento de Aparecida n. 491). Todo
cristão deve comprometer-se na defesa da biodiversidade, dos biomas e da
riqueza das culturas locais. Não devemos considerar os biomas “como
algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida” (Laudato
si, n. 139). Você faz parte de qual Bioma?
*Élio Gasda: Doutor em Teologia, professor e pesquisador na
FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina
social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas,
2016).
Disponível em: http://domtotal.com/noticia/1129437/2017/03/campanha-da-fraternidade-voce-faz-parte-de-qual-bioma/
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