Na última semana, foi anunciada em nota neste site o rompimento com a
Insurgência de camaradas que decidiram pela criação de dois outros
agrupamentos. Nós, que seguimos na Insurgência, reivindicamos a carta de
princípios de fundação da corrente, os compromissos programáticos
iniciais e o que acumulamos coletivamente em nossa trajetória de mais de
quatro anos neste projeto que promoveu a fusão de diferentes tradições
em que fomos forjados. Continuamos, ombro a ombro, nos insurgindo contra
o capital e apostando nos diálogos, nas somas, nas transformações, nas
sínteses programáticas e nas fusões organizativas tão necessárias nesta
etapa da reorganização da esquerda.
Seguimos na construção do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, uma
ferramenta cada dia mais necessária. Somos conscientes de que vivemos
um cenário de crise de referências da esquerda, resultado de anos de
governos petistas incapazes de enfrentar de verdade as estruturas
políticas e econômicas do poder capitalista no Brasil. A vocação do PSOL
é de ser um partido amplo, plural, aberto a divergências de opiniões,
pois nascido de um balanço crítico da experiência petista. Isto coloca
nosso partido em uma posição privilegiada para repensar a atuação da
esquerda no país e a superação das experiências anteriores.
Reivindicamos a história da esquerda socialista e a construção da IV
Internacional. Fazemos parte de um longo processo que ultrapassa
gerações e fronteiras nacionais que tem por horizonte um mundo livre de
exploração e opressões. A nossa tarefa nessa caminhada de séculos é
manter acesa a chama do socialismo a cada encontro com as lutas
emergentes de nosso tempo. Por isso, não podemos nos omitir diante dos
erros cometidos por socialistas e socialismos na História. Continuamos
apostando no caminho de um socialismo baseado na auto-organização
democrática do povo trabalhador e de todos os explorados e oprimidos e
na construção da IV Internacional na América Latina.
A Insurgência entende a luta contra o patriarcado, o racismo, e a
discriminação contra pessoas LGBTIQ como partes essenciais da luta pela
superação do capitalismo. A classe trabalhadora tem cor, e essa cor não é
branca. São as mulheres as que serão mais afetadas pela Reforma da
Previdência do governo golpista. São crianças, adolescentes e jovens – e
especialmente negros e negras – que trabalham para o tráfico e quem
mais morrem na falida política de guerra às drogas. Travestis, trans,
lésbicas, gays e bissexuais são vítimas de crimes de ódio todos os dias
no país. Reivindicamos o feminismo, o transfeminismo, o
antiproibicionismo, a luta indígena, negra e babadeira como perspectivas
necessárias na luta anticapitalista.
A Insurgência busca contribuir com o resgate da independência
política daqueles que vivem do trabalho, tão cara aos trabalhadores e
trabalhadoras nos anos 80 e tão pisoteada pelas cúpulas dirigentes que
chegaram ao governo em 2002, que aprofundaram um projeto de conciliação
de classes, com alianças políticas e empresariais corruptas e que nem
passaram perto de acabar com a brutal desigualdade social no pais.
Nossa organização está convencida que as mudanças climáticas causadas
pelo modo de produção do capital representam outro limite para o
capitalismo e colocam a vida na terra em risco. A Insurgência denuncia o
modelo agroexportador, que destrói o Cerrado, a Amazônia e ameaça a
população camponesa, quilombola e indígena do país em nome da produção
de soja e de gado para o enriquecimento de poucos latifundiários.
Estamos na luta contra a absurda emissão de gases de efeito estufa, que a
dependência da exploração de petróleo alimenta. Denunciamos o uso
irracional da água que tem gerado racionamentos hídricos em diversos
centros urbanos do país sem diminuir uma gota sequer para os maiores
consumidores, que são a indústria e o agronegócio.
Acreditamos na necessidade de organizações profundamente
democráticas, em que tenham mais poder as instâncias de base e que
dialoguem com as necessidades da juventude cada vez menos representada
pelos partidos, sindicatos e a associações tradicionais – como a
rebelião de junho de 2013 demonstrou. Também acreditamos que as mulheres
são – cada vez mais – as protagonistas das mudanças que a luta de
classes impõe. Reivindicamos e pretendemos contribuir com a onda massiva
de atos feministas que se alastram no Brasil e ao redor do mundo. A
burocratização de movimentos, partidos e sindicatos que chegaram a
dirigir a luta de massas nas décadas de 80 e 90 e que hoje freiam as
iniciativas de resistência ao golpe demonstra o quanto a oxigenação das
estruturas organizativas precisa de ser repensada.
Denunciamos o golpe institucional que empossou o governo ilegítimo de
Temer. A experiência de conciliação de classes proporcionada pelo
petismo terminou de maneira trágica, nos tem feito retroceder em
direitos conquistados desde 1988. O recrudescimento da conjuntura pede
que a gente grite fora Temer e não pare por aí. Queremos eleições gerais
já e um plebiscito para consultar a população sobre a retirada de
direitos que vem sendo tocada a toque de caixa e sem qualquer respaldo
popular. Junto à Frente Povo Sem Medo e com lutadores e lutadoras de
todos os setores que quiserem participar desta articulação ampla,
dizemos não à Reforma da Previdência, ao congelamento de gastos, à
Reforma Trabalhista e ao governo ilegítimo de Temer.
A Insurgência vive mais do que nunca, enfim. Seguimos insurgentes
pois nos comprometemos a fortalecer nosso projeto original de construção
de uma esquerda ecossocialista, internacionalista, classista,
combativa, alegre, comprometida com as lutas de nosso tempo.
Acreditamos, como há muito tempo, que a reorganização da esquerda não é
um processo fácil, mas necessário para a construção de ferramentas
novas, necessárias a novos momentos da História. A Insurgência é ainda,
afinal, uma organização nova, à serviço da luta e da revolução.
Disponivel em: http://www.insurgencia.org/a-insurgencia-vive/
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