Vereadores de Fortaleza retiraram item do plano de educação que previa a formação de professores para o combate ao preconceito nas escolas.
Segundo o vereador Carlos Dutra (Pros), a orientação sexual
deve ser dada pelos pais, não sendo o papel das escolas.
(FOTO: Divulgação)
Após longo debate na Câmara Municipal de Fortaleza, os vereadores aprovaram três emendas que alteram a mensagem que trata do Plano Municipal de Educação, na sessão da última terça-feira (24). Elas se referem à diversidade sexual, ecausaram polêmicas entre vereadores da situação e da oposição.
Por 25 votos a 10, foi retirado o item do plano no qual profissionais de educação passariam por formação continuada em pacificação de diálogos e de combate ao preconceito e à violência no ambiente escolar. O pedido de retirada desse ponto partiu do vereador Carlos Dutra (Pros), a partir de sua interpretação da expressão “identidade de gênero” contida no documento. Segundo o parlamentar, a orientação sexual deve ser dada pelos pais, não sendo o papel das escolas.
“Eu vi aqui que estavam inseridas em mais de 150 páginas algumas palavras como ‘identidade de gênero’, que é a pessoa crescer com o pensamento de que é uma outra pessoa. Exemplo, a mulher é uma menina e pode se achar que é um menino, e um menino se achar que é uma menina. No colégio ela vai ser orientada sexualmente, como é que vai ser essa orientação? A gente não sabe”, defende.
Segundo o vereador Fábio Braga (PTN), o resultado foi uma forma de adequar a proposta encaminhada pelo Executivo. “Nós estamos dando a oportunidade às famílias. Nós não podemos amadurecer precocemente as nossas crianças, quero ter o direito de educar a minha filha e o meu filho”, evidenciou. “Eu não admito que vá para as escolas ensinar o homossexualismo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O Estado é laico, mas não podemos ensinar o homossexualismo nas escolas e levar a cabeça da criança ao parafuso”, alegou o vereador Pastor Gelson Ferraz (PRB).
Redes sociais
O vereador Paulo Diógenes (PSD) não concorda com a emenda. O parlamentar lembra que foi vítima de homofobia na escola e diz que propostas como essa são retrógradas. “Acho que nunca deve misturar religião com política. Sei o que passei na escola pelo fato de ser gay, de as pessoas terem preconceito, eu até queria parar de estudar e isso me prejudicou muito na escola. Depois de 30 anos, vejo acontecendo a mesma coisa. Eu fico chocado em ver que pessoas pensam desse jeito”, lamenta.
“Eu não pedi para ser gay, eu nasci gay. Vocês acham que optei por chegar na Câmara e ter que ouvir piadinhas de alguns vereadores?” (Paulo Diógenes)
Os vereadores João Alfredo e Toinha Rocha (Psol) apoiaram a atitude de Paulo Diógenes. O parlamentar, inclusive, utilizou o perfil pessoal no Facebook para divulgar a indignação com a aprovação da retirada do item do Plano.
“Eu ouvi na escola que quem era gay era pederasta. Gente, eu voltei para casa dizendo que minha vida tinha acabado. Eu tinha 12 anos! Eu não pedi para ser gay, eu nasci gay. Mas eu perguntava: ‘Deus, por que você me fez gay? Por que eu nasci doente? Ele me deu essa doença e ainda me reprova?’. Eu sofri tanto na escola… E eu optei por sofrer? Eu optei por apanhar? Optei por ser apontado na rua? Se Deus tem poder de transformação, por que não me transformou? Vocês acham que optei por chegar nessa Câmara Municipal de Fortaleza e ter que ouvir piadinhas de alguns vereadores? (…) Sou gay, sou honesto e o que mais me doeu a vida inteira foi ouvir: ‘Paulo é uma pessoal boa, inteligente, mas é gay’. Esse ‘mas é gay’ é a pior coisa. Não queiram jogar essas crianças na fogueira, nós estamos pedindo só para os professores saberem como lidar”.
O debate demorou cerca de 10 horas e ocorreu na Câmara Municipal de Fortaleza, no Bairro Luciano Cavalcante.
Modificações
A emenda modificativa nº 3 versa sobre o artigo 4º do projeto nos seus incisos VI e X. Com a emenda os incisos retiram os termos “à diversidade” e “respeito à diversidade”, passando a ter a redação “contra o preconceito” e a “difusão do princípio da equidade”. A emenda nº 4, denominada de supressiva, retira do Anexo Único do Projeto de Lei nº 155/2015, quatro estratégias das Metas I e II do item 3.7.4, que segundo a justificativa, “objetiva garantir que não haja influência ou imposição de ideologias estranhas ao ambiente educacional, que deve ser voltado para a formação intelectual”.
Disponível em: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/politica/bancada-evangelica-da-camara-justifica-que-teme-que-homossexualismo-seja-ensinado-nas-escolas/
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