De acordo com a pesquisa, os grupos que conduzem as ações
ilícitas funcionam de forma similar a descrita pela chamada teoria das
"sociedades secretas", na maioria das vezes, com poucos membros, cerca
de oito integrantes por “célula”, que atuam constantemente para atrair
outros “talentos” e expandir seu network. O objetivo seria
maximizar o potencial de ocultamento de seus crimes. “Esses grupos
operam em redes modulares, algumas bem definidas e que compartilham
conexões entre si”, explica o matemático (veja imagem acima).
Fazer parte deste seleto grupo não é uma tarefa fácil. A
pesquisa identificou uma evolução lenta no número de participantes, um
novo membro por ano de investigação - com exceção dos períodos
eleitorais. A investigação aponta que, a cada quatro anos, as redes de
corrupção se transformam, com aumento significativo no número de
envolvidos. E apesar de não ser possível traçar uma relação direta entre
eleições e corrupção, a hipótese levantada pelos pesquisadores é que o aumento nas atividades corruptas durante as campanhas eleitorais
pode ser uma das razões para essa coincidência. “Uma hipótese é que
cada vez que muda o partido no poder, aumenta investigação sob o Governo
anterior”, afirma Alves.
Entre 1986 e 1991, cada membro da rede tinha cerca de três
conexões. A primeira transição acontece entre 1991 e 1992 e pode ser
associada com o escândalo Caso Collor, que levou à renúncia do então presidente emparedado por um processo de impeachment.
Nesse período o número de conexões entre os participantes era de 6
pessoas cada um deles. A segunda grande transição acontece entre 2004 e
2005, quando cinco novos escândalos vem à tona - Corrupção nos Correios, Dólares na cueca, Mensalão,
República de Ribeirão e Valerioduto mineiro. A partir desse período o
número de relações entre participantes fica estável, com cerca de 18
pessoas em sua rede de relacionamento. O impacto da Operação Lava Jato
não foi tão grande nos dados pois o recorte da investigação termina em
2014, quando apenas 21 pessoas haviam sido expostas pelo esquema.
Essas conexões não são aleatórias. Apesar de não ser possível apontar uma hierarquia, a pesquisa sugere que apenas sete hubs
são responsáveis por fazer pontes com os demais 397 participantes da
rede. “Esses hubs representam sete pessoas com grande influência na rede
de corrupção, mas que não necessariamente detêm o controle das
atividades criminosas”, afirma Alves. Esses personagens funcionam como o
elo comum entre diferentes grupos denunciados em esquemas de corrupção
(ver grafo). O hub mais influente tem 86 pessoas em sua rede de relacionamento.
Quem são os mais influentes do ecossistema corrupto do Brasil?
Mas quem são esses personagens? Na trama desenhada pelos pesquisadores foi revelado apenas que se trata de um prefeito, um doleiro,
dois banqueiros, um diretor de empresa e um senador. Alves preferiu não
identificar o sétimo participante. Isso porque, por questões jurídicas,
os pesquisadores optaram por fazer uma autocensura e retirar os nomes
da pesquisa. Inicialmente, a proposta incluía a lista de nomes, ano e
escândalo em que esses “personagens” foram citados. A justificativa é
que ter o nome citado em um escândalo de corrupção não significa que a
pessoa será indiciada ou considerada culpada pela Justiça brasileira.
“Procedimentos jurídicos nos grandes casos políticos de corrupção podem
levar anos, até décadas, e muitos nunca chegam a um veredito final”,
escreveram os pesquisadores. Alves explica, no entanto, que os dados e
metodologia de pesquisa estão à disposição de quem se interessar.
Aliás, o interesse dos pesquisadores é conseguir replicar
essa metodologia. “Se tivermos acesso a dados mais completos, por meio
de parcerias com instituições da Justiça, por exemplo, poderemos
construir ferramentas ainda mais precisas e úteis para as
investigações”, ressalta Alves. No melhor estilo do filme Minority Report – A Nova Lei,
os pesquisadores apostam que é possível prever crimes a partir do
mapeamento de suspeitos envolvidos nas redes de corrupção. “Testamos
vários algoritmos
e descobrimos que é possível prever, com 25% de precisão, as novas
relações que serão estabelecidas no futuro por esses indivíduos
investigados. A chance de acertar as previsões em uma análise aleatória
dessas conexões é de apenas 1%”, afirma Alves. Esse possível sistema
“pré-crime” não é capaz de prever, como no filme, que alguém vá cometer
algum delito, mas sim qual a chance de alguém que sequer está sendo
investigado fazer parte de algum novo esquema. “Isso poderá ajudar a
agilizar as investigações”, acredita o pesquisador.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/28/politica/1522247105_599766.html
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