“Não creio, como considerou o tenaz e inteligente Vladimir Safatle, que estejamos – por enquanto – num caminho que leva à Guerra Civil. O mais apropriado seria dizer que a quebra do pacto hegemônico que levou Temer ao poder, ainda tem, no seu centro, a mídia oligopólica, que tem feito e refeito a pauta política da nação. Seria dizer que os grupos de elite da plutocracia estatal,
as frações de partidos e lideranças empresariais – daqui e de fora –
ainda estão unidas em torno das “reformas”, da pilhagem do pré-sal e da
liquidação das funções públicas do Estado, orientadas por uma pauta, que
é “global”, no duplo sentido. Dizer, ainda mais: que neste momento –
dada a escassa reação popular contra o Governo ilegítimo – são poucas as
possibilidades de reagir contra um novo “golpe” paraguaio, cuja
resistência, daí sim, lamentavelmente poderia nos levar a uma guerra civil”, escreve Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul – PT, em artigo publicado por Sul21, 01-04-2018.
Segundo ele, “os dominadores de plantão não precisam de uma Guerra Civil, para continuar com a liquidação do Brasil como nação, e nós – suponho – não queremos uma Guerra Civil,
que hoje só apressaria a chacina e a liquidação do país, que já foi um
exemplo democrático no mundo, que se dissolveu também pelos nosso
próprios erros”.
“Lembremo-nos – conclui Tarso Genro - que Levi foi nosso ministro e
Padilha foi da elite política de Governo do nosso campo? Ou já
esquecemos?”
Eis o artigo.
A prisão dos três amigos do Presidente Temer, o atentado à bala contra a caravana do ex-Presidente Lula, a ausência de uma resposta esclarecedora sobre quem assassinou Marielle, a mão do candidato Bolsonaro simulando uma pistola apontada para a cabeça de um boneco representando Lula, são fatos muito graves. Os quinze minutos do Jornal Nacional inviabilizando a “reeleição” de Temer (que já era inviável) e dizendo a ele que “podemos tirá-lo quando quisermos”, bem como humor do Ministro Gilmar Mendes -que
não vai muito bem- somam-se aos fatos anteriores, para mostrar que a
rede golpista, que criou condições para derrubada da Presidenta Dilma,
ao mesmo tempo que está num dilema sobre o sentido que quer dar a sua
estratégia de poder, estuda uma nova estratégia, que ainda não está
definida.
Não creio, como considerou o tenaz e inteligente Vladimir Safatle, que estejamos – por enquanto – num caminho que leva à Guerra Civil. O mais apropriado seria dizer que a quebra do pacto hegemônico que levou Temer
ao poder, ainda tem, no seu centro, a mídia oligopólica, que tem feito e
refeito a pauta política da nação. Seria dizer que os grupos de elite
da plutocracia estatal, as frações de partidos e lideranças empresariais
– daqui e de fora – ainda estão unidas em torno das “reformas”, da
pilhagem do pré-sal e da liquidação das funções públicas do Estado,
orientadas por uma pauta, que é “global”, no duplo sentido. Dizer, ainda
mais: que neste momento – dada a escassa reação popular contra o
Governo ilegítimo – são poucas as possibilidades de reagir contra um
novo “golpe” paraguaio, cuja resistência, daí sim, lamentavelmente
poderia nos levar a uma guerra civil.
Faço estes comentários a propósito da seguinte constatação, que julgo
ser relevante e que, se errada, põe por terra todo o sentido político
da minha avaliação sobre a conjuntura: os fortes movimentos de
solidariedade ao Presidente Lula não se repetiriam, como “solidariedade”, obviamente, ao Presidente Temer,
se a rede do golpismo, que lá o colocou, intentasse uma nova
substituição – através da maioria luminar do Congresso – que poderia
repetir caninamente os mesmos argumentos que brandiram contra a
permanência de Dilma, sem receber a resposta de movimentações cívico-políticas opositoras, para defender a Constituição e a Democracia. A Constituição e a Democracia no Brasil já estão sob ataque da “exceção” e do autoritarismo,
com resistências apenas pontuais, até o momento, dado que ela – a
exceção -se realiza praticamente pelas reformas e pelo congelamento
orçamentário.
A figura de Temer e do seu consórcio político são estranhos a ambas – Constituição e Democracia – e a Guerra Civil
no seu sentido clássico é luta de armas, com um mínimo de paridade,
para que os campos em confronto disputem o poder de Estado e o domínio
sobre o território. Ou, ainda, estejam num embate em que algum destes
campos esteja fixado em destruir o Estado vigente para, em seu lugar,
colocar outro. Não podemos confundir a possibilidade de chacina política
ou física, contra uma parte da população – que pode ocorrer sem Guerra Civil – quando ela está desarmada, com o estatuto da Guerra Civil,
em cujo desfecho está o objetivo de dominar território, estado e
riquezas nacionais, para colocá-los, ou sob conservação ou sob uma nova
tutela reformadora.
Esta diferenciação é extremamente importante para o redesenho da luta
política no país, porque as batalhas democráticas que travaremos serão
de longo curso. Nelas, o consórcio liberal-rentista terá a capacidade de
alternar personagens e estratégias, pois tem base parlamentar corrupta
cativa, tem o controle da informação pelo oligopólio da mídia, tem
quadros políticos nos vários partidos – alguns deles estavam no nosso
meio – e tem o apoio das forças das oligarquias financeiras
internacionais. Para estas, o Brasil deve ser um
exemplo de “disciplina fiscal” e “honrar a sua dívida pública”, de forma
que isso reflita em todos os modelos de desenvolvimento da América Latina.
Os dominadores de plantão não precisam de uma Guerra Civil, para continuar com a liquidação do Brasil como nação, e nós – suponho – não queremos uma Guerra Civil,
que hoje só apressaria a chacina e a liquidação do país, que já foi um
exemplo democrático no mundo, que se dissolveu também pelos nosso
próprios erros. Lembremo-nos que Levi foi nosso ministro e Padilha foi da elite política de Governo do nosso campo? Ou já esquecemos?
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/577554-o-longo-caminho-da-mudanca
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