O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) anunciou neste sábado (17)
que vai ajuizar representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
contra a desembargadora Marilia Castro Neves, do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro (TJ-RJ). Trata-se de uma resposta do partido ao texto
postado no Facebook em que a magistrada classifica a vereadora Marielle
Franco, assassinada a tiros
na última quarta-feira (14), de “cadáver comum” e a acusa de
engajamento com bandidos. Além disso, Marilia acusa a vereadora, que era
filiada do Psol, de ter sido eleita pelo Comando Vermelho, uma das
principais facções criminosas do país, e depois ter descumprido
“‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores” – uma fake news (notícia falsa) que ganhou as redes sociais após a execução da vereadora.
As palavras de Marilia foram postadas no Facebook em resposta a outro
texto, do advogado Paulo Nader, em que Marielle é qualificada como
“lutadora dos direitos humanos e líder de uma população sofrida”. Como
adiantou a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, tão
logo a desembargadora registrou suas palavras, um grupo de advogados
passou a sugerir, na mesma postagem, que a desembargadora fosse
denunciada ao CNJ.
“A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’, ela
estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e
descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do
que qualquer outra pessoa ‘longe da favela’ sabe como são cobradas as
dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava. [...] A verdade é
que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora,
mas temos a certeza de que seu comportamento, ditado por seu engajamento
político, foi determinante para seu trágico fim. Qualquer coisa diversa
é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão
comum quanto qualquer outro”, escreveu a desembargadora, recorrendo à
gíria que conota queixa sem importância.
O texto da representação já está em elaboração, informa o Psol, e
deve ser protocolado no CNJ já no início desta próxima semana. O partido
classificou o texto como “absurdo”.
“De forma absolutamente irresponsável, a desembargadora entrou na
‘narrativa’ que vem sido feita nas redes sociais para desconstruir a
imagem de Marielle, do PSOL e da luta pelos direitos humanos”, registrou
o partido em seu site.
“Outra mentira que tem sido divulgada neste sábado afirma que
Marielle havia sido casada com Marcinho VP, conhecido traficante
carioca, com quem teria tido um filho aos 16 anos. Até o deputado
federal Alberto Fraga (DEM/DF) divulgou o absurdo. O PSOL estuda
possíveis ações contra ele”, acrescentou o Psol.
Reação
Depois da postagem, que já foi retirada do ar, Marilia passou a algoz
a alvo dos usuários do Faceook. Com memes, emojis (figurinhas que
reproduzem expressões faciais) e até reportagens da imprensa
profissional, diversos internautas lançaram críticas à postura da
magistrada.
“Que tristeza, Dra… custo a crer que alguém tão qualificada
intelectualmente possa ter um pensamento tão retrógrado e
preconceituoso! Que tempos difíceis…”, escreveu a internauta
identificada como Mara Cruz, que aproveitou para registrar em sua
mensagem três emojis do choro.
“Porque apagou???? Era ilegal o que escreveu? Era mentira? Foi
leviano??? É isso que se aprende sendo desembargadora??? Não ter ética,
nem saber quando calar e o que dizer??? É esse o seu papel no judiciário
brasileiro??? Sinto vergonha alheia…..já não bastasse tudo o que temos
vivido e ainda me deparo com uma desembargadora sem envergadura para
tanto”, postou outra internauta, esta identificada como Lucimar Gomes,
que foi apoiada por Marcia Conte.
“Sensacional. Ela jamais terá sua classe, postura e elegância,
Lucimar ! Isso não se aprende ou compra. Ela é baixo nível e não tem
escrúpulos!”, registrou Marcia.
“Politização da morte”
A juíza disse a Mônica Bergamo que se manifestou como “cidadã” e, até
a notícia da morte de Marielle, jamais havia ouviu falar dela. Marilia
admitiu que, em sua resposta ao advogado Paulo Nader, reproduziu o
mecanismo de distribuição das chamadas “fake news“, ou seja,
notícias falsas veiculadas sem checagem prévia de veracidade, e que são
compartilhadas em redes sociais como se fossem verdadeiras.
“Eu postei as informações no texto de uma amiga”, disse a
desembargadora, acrescentando que sua crítica não tinha caráter pessoal e
apenas se opunha à politização da morte da vereadora. “Outro dia uma
médica morreu na linha amarela e não houve essa comoção. E ela também
lutava, trabalhava, salvava vidas”, declarou Marilia Castro Neves,
nomeada para o TJ-RJ, em 2006, pela então governadora do Rio de Janeiro,
Rosinha Garotinho.
Segundo o site Diário do Centro do Mundo, Marilia também
fazia acusações a Marielle em grupo fechado com 2800 juízes, na mesma
rede social, e coordenava esse grupo, intitulado “Magistratura Free”.
“Marilia é bastante ativa e tem clara ascendência sobre os colegas. Não
poupa ‘esquerdistas’, despreza [o educador] Paulo Freire, bate sem dó em
qualquer coisa que cheire a PT”, diz a matéria, que veicula imagens das
postagens da juíza com cíticas à esquerda – uma delas reproduzindo
outras fake news sobre a vereadora.
Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/psol-vai-ao-cnj-contra-juiza-que-chamou-marielle-de-cadaver-comum-e-reproduziu-fake-news-sobre-alianca-da-vereadora-com-bandidos/
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