Os eventos de 2015 e 2016 impactaram brutalmente a conjuntura
nacional. Impossível esquecer os milhares nas ruas bufando contra tudo o
que poderia remeter à esquerda, num processo que culminou com o
impeachment de Dilma Rousseff.
As manifestações verde-amarelas
pró-impeachment marcaram a virada da situação aberta em junho de 2013. O
golpe, sem tanques nas ruas, conseguiu, em um ano e alguns meses, impor
a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista, a lei das
terceirizações, a venda do pré-sal. A agonia do desemprego é o retrato
do Brasil em que vivemos hoje, um país cada vez mais desigual.
Diante
da crise política, figuras reacionárias aparecem como saída para a
classe média, e infelizmente, para parte da classe trabalhadora e a
juventude: Bolsonaro, Sérgio Moro, Doria e MBL, e agora Luciano Huck,
são algumas expressões do retrocesso. Certamente, uma de nossas tarefas
mais importantes é derrotar esse setor.
Infelizmente, o PT e Lula
não ultrapassam os estreitos limites da institucionalidade. Ainda tentam
estender a mão ao mercado. No segundo momento do golpe, diante da
condenação sem provas do primeiro colocado nas pesquisas, dizem: “Calma!
Vamos vencer nas urnas”. A burguesia rompeu com o PT, mas
definitivamente o PT não rompeu com a burguesia.
Ficou nítido que
os de cima não estão para brincadeira. Também ficou evidente que com o
PT não é possível resistir até o fim. Não à toa, no dia da condenação do
ex-presidente, a Frente Povo sem Medo foi quem assumiu a postura mais
radical contra o golpe.
Diante de tamanha ofensiva dos de cima,
defendemos incansavelmente a unidade de todos para enfrentar o golpe.
Há, no entanto, outra tarefa inadiável: a construção de uma alternativa
que inicie o processo de superação do PT, mas que não se negue a
dialogar com aqueles que nutrem esperanças em Lula. Alternativa que não
cometa o mesmo erro de governar com empresários e banqueiros. Que seja
anticapitalista e apoiada na luta e na resistência do nosso povo.
Diante
do golpe, ocorreram importantes batalhas. Durante elas, pudemos ver
essa alternativa brotar. A classe trabalhadora fez uma greve geral
histórica que, apesar do vacilo subsequente de suas direções, mostrou
força e adiou a reforma da previdência.
Foi enfrentando o golpe
que o PSOL se tornou o partido que mais cresceu nos últimos anos, mesmo
enfrentando o descrédito da política e do ataque da grande mídia à
esquerda. Foi enfrentando o golpe que pudemos ver o crescimento de um
movimento de moradia que se tornou um exemplo de resistência, o MTST.
Foi do seio dessa luta que construímos uma plataforma política com o
nome sugestivo de “Vamos! Sem medo mudar o Brasil!”, que não sendo um
programa acabado da revolução brasileira, apresenta uma saída
anticapitalista para a crise.
É diante disso que defendemos uma
aliança do MTST com o PSOL também para as eleições de 2018. Essa aliança
política deve ser a união do que existe de mais avançado na luta social
com o polo mais dinâmico da reorganização política da esquerda. Todas
as organizações e partidos da esquerda socialista deveriam se unir a
esse processo em uma frente política.
Guilherme Boulos, líder dos
sem-teto, é o que melhor pode expressar uma alternativa radical daqueles
que com suas próprias mãos buscam garantir suas conquistas com luta.
Alternativa que pode dialogar com o povo das periferias do Brasil, com
os setores oprimidos.
Temos convicção de que a militância do PSOL e
do MTST, junto aos milhares de ativistas que levarão essa campanha para
as ruas, terão coragem e firmeza para defender um programa
anticapitalista. Certamente, tocaremos o dedo na ferida, em defesa de
uma saída radical para a crise social e política. Defenderemos a
revogação imediata das reformas de Temer, a reforma urbana e agrária, a
auditoria da dívida, a taxação das grandes fortunas, a reestatização das
empresas privatizadas. Essa unidade aponta para a superação da ideia
equivocada de que só podemos governar em aliança com os partidos
burgueses, empresários e latifundiários.
Boulos não é mais do
mesmo, porque é líder de um movimento que vem recorrendo à mobilização
de milhares para conquistar suas pautas. O MTST ocupa terras destinadas à
especulação imobiliária nas grandes cidades. Frequentemente é
criminalizado por suas ações, como trancamento de rodovias, ocupações e
atos de rua.
Há mais “socialismo” nas ações de milhares em luta
pela moradia do que em declarações ultra-radicais que não movem os
trabalhadores. As mobilizações de massa são um exemplo de que nada
substitui a luta social de milhões para desafiar a ordem. As ideias só
têm poder transformador quando inspiram a disposição de luta para mudar o
mundo.
Diante da necessidade de enfrentar a direita e da
incapacidade histórica do PT de cumprir esse papel, a esquerda
socialista precisa tentar falar para além de si. Sem abrir mão de seu
programa, é preciso buscar o ambiente para que ele seja ouvido. É
preciso tentar mexer no tabuleiro, fazer a roda da história girar em um
sentido progressivo. A candidatura de Guilherme Boulos aponta para uma
reorganização contundente na esquerda. Pode avançar na ligação do PSOL
com setores mais amplos, com os setores mais explorados e oprimidos da
nossa classe. Pode expandir o PSOL para além dos seus próprios muros.
Respeitamos
as instâncias de decisão do MTST e do PSOL e aguardaremos sua
definição. Desde já, no entanto, afirmamos que, com muita garra, energia
e, apesar das dificuldades que enfrentamos na conjuntura, com muita
alegria, entoaremos: “Povo sem Medo, com Guilherme Boulos Presidente”.
Queremos construir essa nova alternativa, que não admite conciliar
interesses dos sem-teto com os da Odebrecht, dos sem-terra com os da
Kátia Abreu, dos oprimidos com os de Eduardo Cunha, dos trabalhadores
com os dos banqueiros. Nós “Vamos, sem medo”!
Disponível em: https://esquerdaonline.com.br/2018/02/06/vamos-com-boulos-mtst-e-psol-sem-medo-de-mudar-o-brasil/
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