Florbela Espanca (1894-1930), a maravilhosa escritora portuguesa que
faleceu jovem, no alvorecer de seus 36 anos, assim escreveu sobre a
juventude, em um poema intitulado “Mocidade”: “A mocidade esplêndida,
vibrante, /Ardente, extraordinária, audaciosa. /Que vê num cardo a folha
duma rosa, /Na gota de água o brilho dum diamante”...
Para ela é
natural o ímpeto arredio dos jovens, sua audácia e sua rebeldia. Assim é
que James Dean, ator estadunidense que também faleceu precocemente,
encarna com perfeição a figura do doce rebelde Jim Stark, em “Juventude
transviada”, filme noir dirigido em 1955 por Nicholas Ray.
Já em
terras brasileiras, Tito de Alencar e tantos outros jovens de seu tempo,
como Honestino Guimarães e Bergson Gurjão de Farias, souberam resistir à
onda avassaladora da ignorância e procuraram dedicar suas vidas à
construção de uma sociedade mais justa e menos opressora.
Assim
considerando, não deixa de ser assustador que nos dias de hoje
assista-se a um fenômeno curiosamente contrário, a irrupção substancial
dos assim chamados “jovens de direita”.
São pessoas, em geral,
escolarizadas e criadas em famílias de classe média, que preferem
defender os ideais do neoliberalismo e atacar as políticas sociais e a
visão humanista da história. Contra uma concepção democrática,
identificam-se com personagens que pregam a intolerância e a violência
como forma de controle social.
Como resultado disso, ressurgem
inúmeras formações neonazistas, integradas até mesmo por negros e filhos
de migrantes nordestinos (!), grupos de mulheres contra o feminismo e
mobilizações jovens, orquestradas via internet, e com apoio da mídia,
cuja finalidade é a de defender ou legitimar os interesses das elites.
Assim é que, entre os principais entusiastas da candidatura Bolsonaro,
estão pessoas jovens, isto é, com menos de 30 anos.
O que
aconteceu com esta juventude? Por que o espírito rebelde foi fortemente
substituído por uma atmosfera conservadora e intolerante?
Naturalmente que existem inúmeras respostas para esta questão, que
repousam sempre nas condições sócio históricas em que vivemos, o que
significa dizer que o mundo hoje em nada se assemelha àquele onde
viveram Florbela Espanca, James Dean e Tito de Alencar.
Salientarei apenas uma destas inúmeras causas, que se relaciona ao fato
de que todos estes jovens nasceram em um período “democrático”.
Os jovens de direita jamais viveram os tempos da ditadura militar, que
fez toda a América Latina recrudescer à mais tempestuosa Barbárie. Não
sabem o que foi "Woodstock" e nem muito menos o “Mai 68” em França.
Ao contrário, nasceram em um mundo conquistado pelos doces rebeldes e,
face às suas imperfeições, carregam consigo a mais falsa das percepções,
qual seja: a de que o o passado é melhor que o presente, ou, dito de
outro modo, que o fechamento e intolerância são preferíveis à
Democracia.
Sua política é a apoliticidade. Sua negação é negar a
negação. Pensam a si mesmos como apóstolos de um novo mundo, defendendo
o que há de mais arcaico e inumano.
Evidentemente que coexistem
hodiernamente muitas juventudes e que não estou assim rotulando todas
elas, pois não são poucos os jovens conscientes da realidade atual, mas é
inegável que este produto enlatado chamado jovens de direita é cada vez
mais exposto nas prateleiras da internet.
Para terminar, é
preciso dizer que vivemos todos em uma realidade líquida, isto é de
desesperança, em que toda solidariedade social fora substituída pela
ditadura do sucesso.
Melhor um celular 4G na mão do que o livre
pensamento. Mais interessante é assistir “Orange is the new black” do
que realizar ações concretas para mudar o mundo. Para que refletir sobre
a realidade se posso assistir um vídeo no Youtube de alguém que nunca
estudou a ciência política e, ainda assim, apresenta as mais firmes
conjecturas sobre o mundo atual?
Aliás, para que mudar o mundo se ele está todo o tempo ao alcance de nossas mãos?
Prof. Dr.Israel Brandão
Professor do Curso de Pedagogia da UVA - Sobral, Ceará
Psicólogo Social
Disponível em: https://www.facebook.com/israelrb/posts/10212982371408189?comment_id=10212986743117479¬if_id=1518536822454269¬if_t=mentions_comment&ref=notif
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