quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

OS JOVENS DE DIREITA

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Florbela Espanca (1894-1930), a maravilhosa escritora portuguesa que faleceu jovem, no alvorecer de seus 36 anos, assim escreveu sobre a juventude, em um poema intitulado “Mocidade”: “A mocidade esplêndida, vibrante, /Ardente, extraordinária, audaciosa. /Que vê num cardo a folha duma rosa, /Na gota de água o brilho dum diamante”...
Para ela é natural o ímpeto arredio dos jovens, sua audácia e sua rebeldia. Assim é que James Dean, ator estadunidense que também faleceu precocemente, encarna com perfeição a figura do doce rebelde Jim Stark, em “Juventude transviada”, filme noir dirigido em 1955 por Nicholas Ray.
Já em terras brasileiras, Tito de Alencar e tantos outros jovens de seu tempo, como Honestino Guimarães e Bergson Gurjão de Farias, souberam resistir à onda avassaladora da ignorância e procuraram dedicar suas vidas à construção de uma sociedade mais justa e menos opressora.
Assim considerando, não deixa de ser assustador que nos dias de hoje assista-se a um fenômeno curiosamente contrário, a irrupção substancial dos assim chamados “jovens de direita”.
São pessoas, em geral, escolarizadas e criadas em famílias de classe média, que preferem defender os ideais do neoliberalismo e atacar as políticas sociais e a visão humanista da história. Contra uma concepção democrática, identificam-se com personagens que pregam a intolerância e a violência como forma de controle social.
Como resultado disso, ressurgem inúmeras formações neonazistas, integradas até mesmo por negros e filhos de migrantes nordestinos (!), grupos de mulheres contra o feminismo e mobilizações jovens, orquestradas via internet, e com apoio da mídia, cuja finalidade é a de defender ou legitimar os interesses das elites. Assim é que, entre os principais entusiastas da candidatura Bolsonaro, estão pessoas jovens, isto é, com menos de 30 anos.
O que aconteceu com esta juventude? Por que o espírito rebelde foi fortemente substituído por uma atmosfera conservadora e intolerante?
Naturalmente que existem inúmeras respostas para esta questão, que repousam sempre nas condições sócio históricas em que vivemos, o que significa dizer que o mundo hoje em nada se assemelha àquele onde viveram Florbela Espanca, James Dean e Tito de Alencar.
Salientarei apenas uma destas inúmeras causas, que se relaciona ao fato de que todos estes jovens nasceram em um período “democrático”.

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Os jovens de direita jamais viveram os tempos da ditadura militar, que fez toda a América Latina recrudescer à mais tempestuosa Barbárie. Não sabem o que foi "Woodstock" e nem muito menos o “Mai 68” em França.
Ao contrário, nasceram em um mundo conquistado pelos doces rebeldes e, face às suas imperfeições, carregam consigo a mais falsa das percepções, qual seja: a de que o o passado é melhor que o presente, ou, dito de outro modo, que o fechamento e intolerância são preferíveis à Democracia.
Sua política é a apoliticidade. Sua negação é negar a negação. Pensam a si mesmos como apóstolos de um novo mundo, defendendo o que há de mais arcaico e inumano.
Evidentemente que coexistem hodiernamente muitas juventudes e que não estou assim rotulando todas elas, pois não são poucos os jovens conscientes da realidade atual, mas é inegável que este produto enlatado chamado jovens de direita é cada vez mais exposto nas prateleiras da internet.
Para terminar, é preciso dizer que vivemos todos em uma realidade líquida, isto é de desesperança, em que toda solidariedade social fora substituída pela ditadura do sucesso.
Melhor um celular 4G na mão do que o livre pensamento. Mais interessante é assistir “Orange is the new black” do que realizar ações concretas para mudar o mundo. Para que refletir sobre a realidade se posso assistir um vídeo no Youtube de alguém que nunca estudou a ciência política e, ainda assim, apresenta as mais firmes conjecturas sobre o mundo atual?
Aliás, para que mudar o mundo se ele está todo o tempo ao alcance de nossas mãos?


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Prof. Dr.Israel Brandão
Professor do Curso de Pedagogia da UVA - Sobral, Ceará
Psicólogo Social



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