A evasão escolar causada pelas facções criminosas agrava o risco de que
crianças e adolescentes que vivem em assentamentos precários sejam
vítimas de homicídio. É o que aponta levantamento feito pelo Comitê
Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA). Em 2015,
em Fortaleza, 387 pessoas, com idades entre 10 e 19 anos, foram mortas.
Destas, 146 tiveram as famílias entrevistadas pelo Comitê. O
questionário revelou que 73% das vítimas estavam fora da escola.
“Esse
trabalho mostrou que é bem maior a vulnerabilidade ao homicídio do
jovem que está afastado da escola. Isso agrava a condição dele de
‘matável’”, enfatiza o sociólogo e coordenador técnico do CCPHA, Thiago
de Holanda. Ele destaca que, à época da pesquisa, a motivação mais
recorrente para a evasão era o “desinteresse”. Hoje, porém, os relatos
recebidos pelo comitê dão conta de abandono por “ameaça de facções”.
Segundo
Holanda, para além da educação, as restrições de livre circulação nos
bairros impactam ainda na saúde e cultura. “O Comitê tem recebido
diversos relatos de crianças e adolescentes com restrição de acesso a
serviços de saúde, como as jovens que deixam de fazer pré-natal porque
não podem ir ao posto, em bairros como Bom Jardim e Jangurussu. Na Barra
do Ceará, alguns não podem ir ao Cuca”, alerta.
Relator do CCPHA
na Assembleia Legislativa, o deputado Renato Roseno (Psol) enfatiza
que, em um cenário de violência, redes de busca ativa, municipal e
estadual, devem ser reforçadas. Ele sugere a criação de equipes
multidisciplinares treinadas, como parte de um processo institucional
obrigatório, substituindo ou complementando iniciativas individuais de
busca. Ressalta ainda que, em um contexto de violência, a ação deve
ocorrer de maneira segura para profissionais e alunos.
“Precisamos
saber por que esse jovem saiu e o que devemos fazer para que ele volte.
E isso não pode ser responsabilidade individual dos professores. Sobre
eles já recaem enormes responsabilidades. O professor também sofre com a
violência e está adoecendo mentalmente. O sistema escolar precisa de
equipes de supervisão e apoio que desenvolva essa busca, indo à família,
à casa e à comunidade, para reintroduzir e acompanhar o adolescente que
saiu”, defende. (TP)
Disponível em: https://www.opovo.com.br/jornal/reportagem/2018/01/vulnerabilidade-73-das-criancas-e-adolescentes-mortos-em-fortaleza-e.html
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