HENRIQUE MEIRELLES, DAS CATEDRAIS DAS FINANÇAS AOS TEMPLOS DA IGREJA EVANGÉLICA
O que os
evangélicos estarão pedindo ao banqueiro e ministro da Fazenda de Temer
para apoiá-lo na disputa à presidência e para exorcizá-lo dos demônios
que estão em seu caminho?
Henrique Meirelles durante evento da Igreja Sara Nossa Terra em Brasília no dia 5 de janeiro. UESLEI MARCELINO REUTERS
Multiplicam-se as visitas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles , aos templos de várias igrejas evangélicas
em Brasília, Juiz de Fora, Belém, etc., nos quais tem encontros com
milhares de pastores e fiéis que o abençoam, escutam e aclamam.
O
curioso é que Meirelles, mais do que devoto religioso, sempre foi
conhecido como frequentador dos templos das finanças nacionais e
internacionais, como presidente do BankBoston, do Banco Central do Brasil durante os dois Governos de Lula , e hoje ministro da Fazenda do Governo Temer . Frequentou a catedral da Harvard Business School e foi eleito o melhor banqueiro da América Latina.
Há aqueles que perguntam se o laico Meirelles, no final de
sua longa carreira de êxitos financeiros, não estaria se convertendo ao
mundo do espírito. O que busca então o famoso banqueiro com essas
visitas às igrejas evangélicas? Li que alguns desses encontros
religiosos acontecem à noite, nos templos na periferia da cidade,
lugares pouco familiares para o homem da City, o que me fez lembrar a
passagem do Evangelho de João quando narra que Nicodemos, um magistrado
já idoso do Sinédrio judeu, que de acordo com o Talmude era um “homem rico e respeitado”, foi ver o profeta Jesus de Nazaré “à noite” para não ser visto. O membro do Sinédrio tinha curiosidade em relação àquele
profeta que diziam que fazia milagres, tirava demônios e pregava um
reino que “não era deste mundo”. O intelectual Nicodemos não queria ser
visto em público como o profeta dos esfarrapados. Foi encontrá-lo nas
sombras da noite.
A conversa de Nicodemos com Jesus é conhecida. O profeta
provocou o magistrado, dizendo-lhe que para o que ele buscava teria de
voltar ao ventre de sua mãe para renascer para o mundo do espírito.
Não parece – pela biografia do prestigioso banqueiro
Meirelles, um “homem rico e respeitado” como Nicodemos – que esteja
obrigado pelas exigências de entrar no novo reino do espírito. Para que
então essas visitas noturnas aos templos dos evangélicos e para que essa
pressa em ser abençoado por seus pastores? Talvez, pelo que conhecemos
do ministro da Fazenda, mais do que o reino do espírito, o que aspira é
ao Palácio do poder do Planalto.
Nesse caso, por que ir aos templos religiosos? Talvez porque
neles também se realizam milagres e se tiram os demônios. No sentido
figurado, o que poderia interessar Meirelles em suas escapadas noturnas
às igrejas evangélicas é a multiplicação dos votos, se é que aspira,
como parece, a disputar a presidência da República ,
ao mesmo tempo que precisa que lhe tirem os demônios da impopularidade
que o atormenta, pois as pesquisas lhe dão um mísero 1% de aprovação.
A diferença entre o encontro do banqueiro Meirelles com os
evangélicos e o de Nicodemos com Jesus, é que este último, para
fazer-lhe o milagre de renascer para uma vida melhor, não lhe exigiu
nada em troca. O que exigirão de Meirelles, pelo contrário, os pastores
da Igreja Universal
para que possa entrar no palácio presidencial, pois sabemos, por
experiências anteriores, que esses novos profetas do espírito das
igrejas evangélicas não trabalham de graça? Eles sabem que com seus 40
milhões de fiéis obedientes e seus milhares de templos e pastores podem
condicionar uma eleição presidencial. Hoje, na verdade, seria difícil
alguém chegar ao Planalto em luta contra o gigante evangélico. E eles
apresentam a conta.
Foi assim com Dilma Rousseff
que, em sua primeira disputa presidencial percebeu que não conseguiria
se eleger, com seus antecedentes biográficos, sem um acordo com a
poderosa igreja evangélica. Assim a fizeram saber. E ela, a
ex-guerrilheira e feminista
torturada durante a ditadura, teve de fazer um acordo com essas igrejas
que exigiram, para dar seu apoio, que ela não tocasse, durante sua
presidência, na questão da legalização do aborto . A candidata Dilma se comprometeu e cumpriu. E foi eleita.
O que os evangélicos estariam exigindo do banqueiro e
ministro de Temer para ajudá-lo a entrar no Reino por ele tão desejado
das delícias presidenciais e para exorcizar os demônios que estão em seu
caminho?
É um trabalho para as pitonisas modernas.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/09/opinion/1515493502_172973.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
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