segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

BÍBLIA, JUSTIÇA E O DIREITO À TERRA

 


Marcos Aurélio dos Santos
 

O brasil é um país dos exploradores latifundiários. Aliás, desde o início foi assim. Nosso país não nasceu como nação, mas como um negócio de latifúndio. Os portugueses chegaram ao Brasil em suas caravelas e invadiram a terra para explorar nossas riquezas. Exploraram o ouro, a madeira e outras riquezas. O Brasil foi formado em meio a exploração, violência e usurpação da terra. Uma expedição de conquista exploratória para beneficiar o primeiro latifundiário, o rei de Portugal. Com a histórica invasão de 1500, a terra e todas as suas riquezas passavam a pertencer a coroa de Portugal. Assim nasce o Brasil.

A história do Brasil teve sua continuidade marcada pela exploração da terra. As posses sempre foram motivadas pela ganancia, domínio e pelo lucro. Assim foi no Pará por causa da extração da madeira e mineração do ouro, da Amazônia por seus rios e florestas, ricos em diversidade e minerais, do sul e sudeste por suas terras férteis para plantação e implantação de sistemas agropecuários. Os latifundiários tomam a terra e a demarcaram em grandes hectares em detrimento de milhões de pessoas pobres que na história de um Brasil rico em terras, vivem sem um palmo de chão para morar e trabalhar. 
 
 
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Séculos se passaram e os latifundiários brasileiros ainda detém a posse da terra. Segundo uma recente pesquisa realizada pelo CNPq/ USP,“ Atlas da terra no Brasil”, em 2015, 175,9 milhões de hectares são improdutivos no Brasil. Um dado preocupante e que gera em nós indignação, pois uma minoria detém o domínio da terra em detrimento de milhões de sem teto e sem-terra. O Jornalista Igor Felipe faz uma relevante observação: “130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em 2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares. Mais de 100 milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que possuem em média mais de 2.400 hectares. Ou seja, existem mais latifúndios no Brasil. E estão mais improdutivos”

O que a Bíblia tem a nos dizer sobre a exploração latifundiária? Muita coisa. Para Deus, o latifúndio não encontra lugar de apoio nem tem legitimidade. Na perspectiva bíblica, a terra é de todos, não há um dono exclusivo. Javé, o dono da terra é contra a exploração, violência e usurpação em todas as suas formas. Deus é comunitário, a favor da partilha e do bem comum. O texto bíblico diz:

“Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo. ” (Levítico 25:23).

A terra não é um meio de dominação exploratória onde os que compram indevidamente passam a oprimir os que não a tem. A terra não foi empestada por Deus à humanidade para um meio de dominação e poder, nem pode ser usada como instrumento de produção agrícola para o enriquecimento de uma minoria. A proposta bíblica para os que se assentam na terra é para a partilha comunitária e igualitária, sem que haja vantagens sobre o outro. A terra é de todos, o que é semeado e cultivado pertence a todos, sem pressupostos pautados no capitalismo e sem as intenções maléficas dos sistemas ruralistas de mercado. Imagem relacionada
 

Partilhar é contrário ao acumulo. Aliás, não se pode tomar para si o que não nos pertence. Deus é o único dono da terra. Como Deus nosso, ele diz que a terra e tudo que nela é cultivado deve ser partilhado. Por isso o latifúndio é um sistema contrária a bíblia pois sua intenção é acumular. Deus é contra o latifúndio porque este é um dos fatores mais graves que contribui para o aumento da pobreza. Quem não tem terra não planta, não colhe, não tem moradia. Quem não tem terra é pobre. Por esta razão o evangelho de Jesus de Nazaré é partilha, é comunidade, amor e libertação. Como é bom obedecer ao ensino de Jesus. Ajuntar tesouros no céu nada mais é do que partilhar, na liberdade de não desejar acumular aqui. Assim disse o nosso mestre Jesus:

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. ” (Mateus 6:19-21).

Das comunidades cristãs do primeiro século, a de Jerusalém foi a que mais demonstrou na prática este espírito de partilha e amor comunitário. Diante da desigualdade social da época, em meio a exploração e opressão do sistema econômico, político e religioso na palestina, os primeiros seguidores de Jesus começaram a ascender a profecia no exemplo prático e concreto de libertação. As terras foram vendidas e partilhadas de forma igualitária. No Espírito animador da nova aliança, o ensino de Jesus sobre o não acumular foi colocado em prática. Veja o relato de Lucas:

“Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um”. (Atos 2:45). “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. ” (Atos 4:32).

Como povo de Deus temos buscado lutar ao lado dos que não tem terra, dos explorados e oprimidos pelo sistema latifundiário? Temos nos posicionado contra a bancada ruralista brasileira e senhores do agronegócio que exploram e detém o poder da terra em detrimento do pobre?

Que a nossa voz seja um brado de justiça e libertação, que nossos pés possam caminhar ao lado dos sem-terra e sem teto.  
   
 
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Disponível em:  http://www.teologiaevida.com.br/2018/01/biblia-justica-e-o-direito-terra.html

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