Marcos Aurélio dos Santos
O brasil é um país dos exploradores latifundiários. Aliás,
desde o início foi assim. Nosso país não nasceu como nação, mas como um negócio
de latifúndio. Os portugueses chegaram ao Brasil em suas caravelas e invadiram
a terra para explorar nossas riquezas. Exploraram o ouro, a madeira e outras
riquezas. O Brasil foi formado em meio a exploração, violência e usurpação da
terra. Uma expedição de conquista exploratória para beneficiar o primeiro
latifundiário, o rei de Portugal. Com a histórica invasão de 1500, a terra e
todas as suas riquezas passavam a pertencer a coroa de Portugal. Assim nasce o
Brasil.
A história do Brasil teve sua continuidade marcada pela
exploração da terra. As posses sempre foram motivadas pela ganancia, domínio e
pelo lucro. Assim foi no Pará por causa da extração da madeira e mineração do
ouro, da Amazônia por seus rios e florestas, ricos em diversidade e minerais,
do sul e sudeste por suas terras férteis para plantação e implantação de
sistemas agropecuários. Os latifundiários tomam a terra e a demarcaram em
grandes hectares em detrimento de milhões de pessoas pobres que na história de
um Brasil rico em terras, vivem sem um palmo de chão para morar e trabalhar.
Séculos se passaram e os latifundiários brasileiros ainda
detém a posse da terra. Segundo uma recente pesquisa realizada pelo CNPq/ USP,“
Atlas da terra no Brasil”, em 2015, 175,9 milhões de hectares são improdutivos
no Brasil. Um dado preocupante e que gera em nós indignação, pois uma minoria detém
o domínio da terra em detrimento de milhões de sem teto e sem-terra. O
Jornalista Igor Felipe faz uma relevante observação: “130 mil proprietários de terras concentram 318 milhões de hectares. Em
2003, eram 112 mil proprietários com 215 milhões de hectares. Mais de 100
milhões de hectares passaram para o controle de latifundiários, que possuem em
média mais de 2.400 hectares. Ou seja, existem mais latifúndios no Brasil. E
estão mais improdutivos”
O que a Bíblia tem a nos dizer sobre a exploração
latifundiária? Muita coisa. Para Deus, o latifúndio não encontra lugar de apoio
nem tem legitimidade. Na perspectiva bíblica, a terra é de todos, não há um
dono exclusivo. Javé, o dono da terra é contra a exploração, violência e
usurpação em todas as suas formas. Deus é comunitário, a favor da partilha e do
bem comum. O texto bíblico diz:
“Também
a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois
estrangeiros e peregrinos comigo. ” (Levítico 25:23).
A terra não é um meio de dominação exploratória onde os que
compram indevidamente passam a oprimir os que não a tem. A terra não foi
empestada por Deus à humanidade para um meio de dominação e poder, nem pode ser
usada como instrumento de produção agrícola para o enriquecimento de uma
minoria. A proposta bíblica para os que se assentam na terra é para a partilha
comunitária e igualitária, sem que haja vantagens sobre o outro. A terra é de
todos, o que é semeado e cultivado pertence a todos, sem pressupostos pautados
no capitalismo e sem as intenções maléficas dos sistemas ruralistas de mercado.
Partilhar é contrário ao acumulo. Aliás, não se pode tomar
para si o que não nos pertence. Deus é o único dono da terra. Como Deus nosso,
ele diz que a terra e tudo que nela é cultivado deve ser partilhado. Por isso o
latifúndio é um sistema contrária a bíblia pois sua intenção é acumular. Deus é
contra o latifúndio porque este é um dos fatores mais graves que contribui para
o aumento da pobreza. Quem não tem terra não planta, não colhe, não tem
moradia. Quem não tem terra é pobre. Por esta razão o evangelho de Jesus de
Nazaré é partilha, é comunidade, amor e libertação. Como é bom obedecer ao
ensino de Jesus. Ajuntar tesouros no céu nada mais é do que partilhar, na
liberdade de não desejar acumular aqui. Assim disse o nosso mestre Jesus:
“Não
ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os
ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a
ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver
o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. ” (Mateus 6:19-21).
Das comunidades cristãs do primeiro século, a de Jerusalém
foi a que mais demonstrou na prática este espírito de partilha e amor
comunitário. Diante da desigualdade social da época, em meio a exploração e
opressão do sistema econômico, político e religioso na palestina, os primeiros
seguidores de Jesus começaram a ascender a profecia no exemplo prático e
concreto de libertação. As terras foram vendidas e partilhadas de forma
igualitária. No Espírito animador da nova aliança, o ensino de Jesus sobre o
não acumular foi colocado em prática. Veja o relato de Lucas:
“Vendiam
as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a
necessidade de cada um”. (Atos 2:45). “A
multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas
as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. ” (Atos 4:32).
Como povo de Deus temos buscado lutar ao lado dos que não
tem terra, dos explorados e oprimidos pelo sistema latifundiário? Temos nos
posicionado contra a bancada ruralista brasileira e senhores do agronegócio que
exploram e detém o poder da terra em detrimento do pobre?
Que a nossa voz seja um brado de justiça e libertação, que
nossos pés possam caminhar ao lado dos sem-terra e sem teto.
Disponível em: http://www.teologiaevida.com.br/2018/01/biblia-justica-e-o-direito-terra.html
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