Condenado em primeira instância por tráfico, jovem foi liberado da prisão temporariamente para tratar-se de tuberculose em casa.
São Paulo
Rafael Braga Vieira, 28, conseguiu um respiro no inferno. Condenado em primeira instância a 11 anos e três meses de prisão por porte de drogas,
o jovem, preso desde janeiro de 2016, poderá tratar da tuberculose
aguda em casa. O ministro do Superior Tribunal de Justiça Rogério
Schietti Cruz, responsável pela decisão, entendeu que não existem
condições para um atendimento de saúde adequado na penitenciária Alfredo
Trajan, no complexo do Bangu, Rio de Janeiro.
O local é famoso por suas condições medievais, que incluem ambientes
insalubres e superlotação de mais de 350% – em fevereiro abrigava 3.087
detentos onde caberiam 881. Soma-se a isso a presença de apenas um
médico, que visita o presídio uma vez por semana, de acordo com um
relatório de fiscalização realizado pela Defensoria Pública do Rio.

Quanto aos presos provisórios, o STF se resumiu a pedir que os juízes acelerassem a análise da situação destes detentos. A solicitação, feita pela presidenta da Corte, Carmen Lúcia, em janeiro deste ano logo após os massacres ocorridos em penitenciárias do Norte e Nordeste do país, não deu resultados tangíveis até o momento, de acordo com ONGs que monitoram a questão. À época o desembargador Flávio Humberto Pascarelli Lopes, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, que participou da reunião a presidente do STF, afirmou que "isso [o pedido da ministra] não significa que vamos soltar presos. Vamos avaliar se as condições da prisão permanecem".
A decisão do ministro Cruz de soltar Braga vai na mesma linha, e não oferece possibilidade para que outros presos na situação do jovem também cumpram pena em casa. “Esclareço que a providência ora determinada não implica reconhecimento de que toda e qualquer pessoa presa em estabelecimento prisional neste país tenha direito à prisão domiciliar”, afirmou.
Se atualmente a história de Braga se confunde com a de milhares de outros presos provisórios e processados por tráfico, sua primeira passagem pelo sistema carcerário foi marcada por peculiaridades e arbitrariedades. Em 2013, então com 25 anos, ele foi detido com produtos de limpeza – desinfetante e água sanitária - durante um protesto contra o aumento das passagens de ônibus do Rio. A Polícia Militar, promotores e o juiz Guilherme Schilling Pollo Duarte entenderam que isso bastava para que ele fosse condenado a cinco anos de prisão por porte ilegal de artefato incendiário. E assim o jovem, negro e ex-morador de rua, se tornou o primeiro e único condenado por supostos crimes praticados durante as manifestações daquele ano.
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