GOVERNO, EXÉRCITO E MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO ATUAM CONTRA GENERAL QUE DEFENDE A INTERVENÇÃO MILITAR
Ministro
da Defesa afirma que “há um clima de absoluta tranquilidade" após as
declarações do general Mourão, e Ministério Público não vê crime na fala do militar.
O general Hamilton Mourão. Reprodução YouTube O polêmico general Antônio Hamilton Mourão voltou ao centro das atenções no final da semana passada ao defender um golpe militar no Brasil por conta da crise política
enfrentada pelas instituições. Diante do possível cometimento de um
crime militar, ao, em tese, incitar seus subordinados a transgredirem a
ordem constitucional, nem o Ministério da Defesa, nem o Exército abriram
até a noite desta segunda-feira qualquer investigação formal para
apurar a conduta do militar. Em nota, o ministro da Defesa, Raul Jungmann ,
informou que convocou o comandante do Exército, general Eduardo Villas
Bôas, “para esclarecer os fatos relativos a pronunciamento de oficial
general da Força e quanto às medidas cabíveis a serem tomadas”. No documento ,
Jungmann também afirmou que “há um clima de absoluta tranquilidade e
observância aos princípios de disciplina e hierarquia constitutivos das Forças Armada s”.
Questionada, a Procuradoria Geral da Justiça Militar informou que
analisou a fala de Mourão e não encontrou “nenhum ilícito penal previsto
no Código Penal Militar”.Especialistas divergem dessa avaliação. “O militar que
apoiar, divulgar ou incitar o povo para participar de um golpe, afronta
as leis constitucionais e infraconstitucionais, e fere de morte a
hierarquia e disciplina militar, bases fundamentais do militarismo”,
afirmou o advogado Almir Pereira da Silva, que atua na área de direito
militar em São Paulo.
A fala de Mourão ocorreu quando ele respondia a perguntas após proferir uma palestra
em uma loja maçônica de Brasília. Um dos questionamentos foi se ele
concordava de que, com poderes cheios de corruptos (incluindo um
presidente da República denunciado criminalmente duas vezes), não seria o
momento de se ter uma “intervenção militar”. Eis um trecho da resposta
do general Mourão: “Na minha visão, que coincide com a dos companheiros
que estão no alto comando do Exército, estamos numa situação que
poderíamos lembrar da tábua de logaritmo, de aproximações sucessivas.
Até chegar ao momento em que ou as instituições solucionam o problema
político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses
elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou, então, nós teremos que
impor isso”.
VIDEO
GAL. MOURÃO RESPONDE 6 PERGUNTAS E FALA SOBRE A INTERVENÇÃO
https://www.youtube.com/watch?v=lgAJPcBtpms
Histórico
O histórico do general é marcado por seu posicionamento favorável ao fim do regime democrático. Em outubro de 2015, ainda no Governo Dilma Rousseff
(PT), Mourão foi exonerado do Comando Militar do Sul. A principal razão
foi por ele dizer, também em uma palestra, que era necessário um
“despertar para a luta patriótica”. Criticou a gestão federal e reclamou
dos seguidos escândalos de corrupção. Na época, a petista vivia uma
intensa crise política que resultou menos de um ano depois em seu
impeachment. Sua “punição” foi se tornar secretário de Economia e
Finanças do Exército. É um dos responsáveis pelas contas da Força
Militar. Desde que perdeu o comando da região Sul do país, contudo,
Mourão se tornou uma espécie de ícone dos que defendem um golpe militar.
No período, pré-impeachment, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, era comum ver durante os protestos contra Dilma ,
o gigantesco boneco inflável do general Mourão. Com 12 metros de
altura, vestido com uniforme militar, batendo continência e usando uma
faixa presidencial no peito, o boneco foi criado por manifestantes
favoráveis ao fim do regime democrático e costumava ficar ao lado de um
caixão com figuras de Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva .
A faixa presidencial que antes estampava apenas esse boneco,
aparentemente, tornou-se um sonho para os apoiadores do general. Como
ele vai se aposentar (ou entrar para a reserva no jargão militar) em
março do ano que vem, já há sondagens para que se candidate à
presidência da república. Oficialmente, ele ainda não se manifestou
sobre suas pretensões políticas.
Uma das poucas entidades que se manifestou contrária à fala do general foi o Fórum Brasileiro de Segurança. Em nota oficial ,
essa ONG afirmou que as declarações do general causam “estranheza e
preocupação” no mesmo momento em que as Forças Armadas suspendem suas
atividades extras no Rio de Janeiro por conta da falta de recursos
financeiros. “Esta declaração é muito grave e ganha conotação oficial na
medida em que o general estava fardado e, por isso, representando
formalmente o Comando da força terrestre”.
Procurado, o general não foi localizado pela reportagem. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo
no domingo, ele alegou que não estava “insuflando nada” ou “pregando
intervenção militar”. Também disse que falava em seu nome, não no do
Exército.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/19/politica/1505775429_803723.html
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