A máquina nazista desenvolveu poderosas estratégias de controle de
massas, uma das quais consistia em repetir indefinidamente uma mentira
até que, por um mecanismo de saturação mental, as pessoas passassem a
acreditar nela. Foi assim que Hitler e seus asseclas conseguiram apoio
público para o insano genocídio de um povo. Eles conseguiram tornar o
irracional em algo visto por quase todos como racional e justo.
Os proprietários dos Meios de Comunicação Social (MCS) no Brasil,
segundo avaliação da própria revista Forbes, estão entre as pessoas mais
ricas do mundo. Eles não representam as elites. Eles a constituem. Ao
lado dos especuladores e dos donos das megaconstrutoras, das montadoras
de automóveis, como também dos controladores das novas tecnologias,
fazem parte do seletivo e aristocrático poder econômico que controla
monopólios e oligopólios em todo o mundo. A mesma capacidade têm de
controlar governos nacionais e locais, especialmente aqueles situados na
periferia da aldeia global. Ditam regras, políticas econômicas,
concessões sociais e, o que verdadeiramente mais lhes interessa:
manipulam o consumo e, por assim dizer, o próprio mercado de capitais.
Para manter o seu total controle dos mercados locais e global, tais
elites necessitam dos Estados Nacionais, que funcionam como seus
gerentes de fábrica, assegurando, assim, seus interesses insaciáveis,
bem como as garantias da perpetuação de seu poder despótico sobre o
bolso e a mente do cidadão comum.
O que acontece quando, por qualquer motivo, um destes governantes incomoda as elites?
A resposta é sempre a mesma. Ele é alvo de uma campanha orquestrada
pelos MCS a fim de desacreditá-lo. Isso ocorreu inúmeras vezes na
história da América Latina (vejam os casos de Jean-Bertrand Aristide, no
Haiti, e do monsenhor Fernando Lugo, que presidiu o Paraguai) e,
especialmente, no Brasil: Jango, Getúlio, Juscelino, Dilma e muitos
outros também se tornaram problemas que precisavam terminantemente ser
resolvidos.
Com Lula a situação era um pouco mais delicada, pois o
metalúrgico conseguiu se tornar não apenas uma liderança nacional de
enorme carisma, mas, verdadeiramente, a única liderança que,
efetivamente, consegue se comunicar com boa parte da nação. Mesmo quem
não gosta dele não pode negar sua tremenda influência sobre setores
organizados ou não da sociedade. Ele fala, a milhares de quilômetros,
com um cidadão comum e consegue ser entendido por ele. Ninguém mais
neste país tem este desejado poder.
É importante mencionar que
Lula não é nenhum santo e que, para conseguir alçar-se ao cargo em que
se manteve por oito anos, necessitou promover uma rotunda aliança com
estas mesmas elites.
Efetivamente, nunca tivemos um governo
socialista no Brasil nem mesmo com o PT. De todo modo, o lulismo sempre
foi muito perigoso para as elites, pois elas não o controlam por
completo. Lula, assim como Getúlio, se tornou forte demais. Necessita,
portanto, ser apagado, ou, dito de uma maneira moderna, há que ser
desacreditado.
Chega a ser ridículo querer provar que um homem
que esteve à frente de uma nação por quase uma década seja acusado pela
compra ilícita de um sítio e de um apartamento. Sérgio Cabral mostrou
até que ponto se pode enriquecer quando se é verdadeiramente corrupto:
uma vida luxuosa com diamantes, viagens internacionais, inúmeros imóveis
e muitos outros bens que fazem o “patrimônio” atribuído a Lula parecer
uma piada.
O pecado de Lula foi outro: a sua tentativa de
composição com a mesma elite que hoje quer o seu sangue e que quer
apagá-lo da cena política nacional e mundial. Ele deveria ter utilizado
seu carisma e sua autoridade, que emanava diretamente do povo, para
promover as mudanças necessárias na vida política brasileira. Ao
contrário disso, afastou-se dos movimentos sociais e cultivou "amizades"
com pessoas como Marcelo Odebrecth, Michel Temer e muitos outros
membros da corte de vampiros.
Durante os últimos vinte anos
revistas como VEJA, ISTOÉ e tantas outras têm estampado seu rosto nas
capas semanais, sempre com manchetes negativas, acusações diversas e
toda sorte de tentativa de destruição de sua personalidade coletiva. O
Jornal Nacional, a vedete da mais importante empresa de manipulação de
mentes já fabricada em solo brasileiro, tornou-se um veículo
especializado em disseminar a desconfiança e o ódio contra o
ex-presidente. Seu nome é pronunciado à exaustão no noticiário
televisivo e os adjetivos a ele associados estão sempre ligados à
corrupção, ineficiência e outros negativismos afins.
Nem a fuga de assinantes das revistas e nem de telespectadores dos jornais foi capaz de conter esta insana cruzada.
No final das contas não importará tanto se o ex-presidente for
considerado culpado ou inocente, desde que se impeça de qualquer jeito o
seu retorno à cadeira presidencial.
Quando toda esta saga
terminar, de que valerão alguns minutos de redenção após décadas de
ataque atômico? Quem aí não se lembra do famigerado pedido de desculpas
da Rede Globo, feito em alguns segundos pelo âncora do Jornal Passional,
sobre o apoio irrestrito da vênus platinada aos vinte anos da ditadura
militar?
Israel Brandão, Ph.D
Disponível em: https://www.facebook.com/israelrb/posts/10210765773874636
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