quarta-feira, 17 de maio de 2017

O BRASIL DE HOJE E AS ELEIÇÕES DE 1989

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No Dezoito Brumário de Louis Bonaparte (1852), uma das obras políticas mais relevantes de Karl Marx, o pensador alemão cunhou uma sentença que se tornaria um de seus grandes legados para a posteridade: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
Em 1989, ano em que ocorreram as primeiras eleições diretas da assim chamada Nova República, o Brasil se encontrava em um ambiente clássico de tragédia.
Após um governo medíocre, assegurado por um pacto com a ditadura militar e legitimado por uma votação indireta, que acontecera para sufocar o apelo pelas “Diretas Já”, campanha que havia mobilizado as massas populares em todo o território nacional, o povo brasileiro clamava por mudanças e agonizava para se libertar daquela situação insustentável.
O Plano Cruzado, que, alguns anos antes, congelara os preços dos produtos manufaturados e industrializados no mercado nacional, efetivamente havia conseguido mexer com o imaginário de todos os brasileiros. Os cidadãos se converteram em fiscais do Sarney, como decorrência da postura ativa da população, que se mobilizara contra a corrida pela remarcação indiscriminada de preços, que ocorria nas prateleiras do supermercados e no comércio geral nas caladas da noite.
Entretanto, após algum tempo, o placebo mostrou seu verdadeiro rosto e o Plano Cruzado revelou ser apenas uma medida populista e eleitoreira. A decepção e o desencorajamento foram avassaladores. O resultado foi que, no final da década, o povo brasileiro se encontrava à beira de um estresse coletivo, tal era o desânimo que se notava em todas as pessoas e em qualquer lugar dentro deste imenso país.
Alguma coisa precisava ser feita, pois o desespero extremo constitui uma força imprevisível, desordeira e, portanto, ameaçadora aos olhos daqueles que efetivamente dirigem a nação.
Assim foi que Fernando Collor de Mello, um jovem rico, branco, bem-apessoado e filho de uma tradicional família política alagoana, foi o escolhido pelas elites para catalisar novamente os anseios populares.
De modo a seduzir a grande massa montou-se uma poderosa estratégia de marketing em torno de um personagem fictício que era o "Caçador de Marajás", vendendo-se a falsa imagem de um jovem intrépido que se insurgia contra o status quo e, com firmeza, enfrentava os usineiros de Alagoas, como se não fosse ele um dos legítimos representantes daquela burguesia regional.
Através da candidatura fabricada em torno de Collor, as elites conseguiram impedir a eleição de Lula, na época um líder sindical com proposições bastante radicais em torno da reforma agrária e da política econômica; ou a ascensão de Brizola, que representava naquele momento a maior ameaça ao império dos monopólios de comunicação.
O "fator Collor" só foi possível porque se criou a pseudo imagem de novidade. O próprio candidato fazia questão de se afirmar como não-político. Dizia que estava ali apenas para moralizar a vida nacional. O resultado de toda esta tragédia é muito bem conhecido por qualquer pessoa que tenha um mínimo de informação sobre a história recente deste país.
Vivemos, atualmente, um cenário parecido com o de 1989. Após oito anos de um governo que parecia colocar o Brasil no caminho da acreditação mundial, veio o tempo das vacas magras e da falta de esperança, que foi piorado pelas alianças criminosas feitas pelo partido governista com os segmentos mais conservadores da fisiologia e da parasitologia da política brasileira.
Agora, diante de um quadro recorrentemente desolador, marcado pela onipresença da corrupção e do esvaziamento dos sonhos por melhores dias, as elites tentam, uma vez mais, prescrever o seu velho remédio, isto é, a apresentação de produtos fabricados, enlatados e massificados pelos meios de comunicação. É como se estes super-heróis, que traduzem no imaginário popular as ideias de sucesso, moralidade e competência, pudessem ser a única e verdadeira via para a superação do grave momento em que nos encontramos.
Assim é que certos empresários e apresentadores de televisão, entre os quais João Dória Jr. e Luciano Huck, têm seus nomes lançados à sorte pelos donos da grande mídia e por outros tecnocratas, incluindo-se a figura impoluta e vaidosa de um ex-presidente da república.
Suas indicações representam a melhor das apostas dos grupos dirigentes diante da descrença total da população em todos os políticos, independentemente de suas pretensas ideologias.
Caso venham a assumir o papel que lhes é outorgado pelas elites a que pertencem, serão praticamente imbatíveis, pois terão o poder econômico da máquina capitalista para financiar suas campanhas presidenciais e, sobretudo, o poder massificador das empresas de comunicação, que torpedearão de modo incansável as mentes do brasileiro comum com a farsesca imagem de que representam qualquer mudança.
Quanto a nós, educadores e educandos, é necessário que sigamos em frente e nademos uma vez mais contra a corrente.
Estamos prontos para assumir a autêntica crença de que não precisamos de heróis e que o nosso destino repousa sobre a nossa própria capacidade de agir crítica, afetiva e eticamente?
Haveremos de encontrar forças para lutar por uma sociedade mais participativa, em que o cidadão comum possa controlar rigorosamente os políticos deste país e não o inverso, como historicamente tem ocorrido?



Israel Brandão, Ph.D.

Disponível em:  https://www.facebook.com/israelrb/posts/10210801942978841

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