"Se há quem duvide da transição religiosa no Brasil, a capital do
Acre é um exemplo de cidade que já promoveu a mudança de hegemonia entre
católicos e evangélicos (especialmente para a população feminina e
jovens). Impressiona o ritmo ocorrido nas últimas duas décadas, pois os
católicos caíram cerca de 2% ao ano, enquanto para o Brasil a queda foi
de 1% ao ano", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor
em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 10-04-2017.
Eis o artigo.
Depois de 500 anos de predominância católica, o Brasil está passando por uma transição religiosa, com declínio das filiações católicas e aumento das filiações evangélicas, além do aumento do percentual de outras religiões e do percentual de pessoas que se declaram sem religião.
Esse fenômeno acontece em todo o território nacional, mas com ritmos
diferentes nas regiões, nos estados e nos municípios. A Unidade da
Federação com menor percentual de católicos era o Rio de Janeiro, com somente 45,8%, segundo o censo demográfico de 2010. A Unidade da Federação com maior percentual de evangélicos era Rondônia, com 33,8%.
Estes dois estados são os mais avançados na transição religiosa, segundo os últimos dados do IBGE. A razão entre evangélicos e católicos (REC) era de 71,1% em Rondônia e de 64,1% no Rio de Janeiro. Para o Brasil a REC era de 34,3% em 2010, significando que existia 34,3 evangélicos para cada 100 católicos.
Mas em termos das capitais, a cidade de Rio Branco, no Acre,
é a mais adiantada na transição religiosa no Brasil, com uma REC de
100%, ou seja, o número de católicos e evangélicos estava praticamente
empatado, em 2010.
O percentual de católicos na capital do Acre, em
1991, era de 82,4% e o percentual de evangélicos era de 10%. Mas tudo
mudou rapidamente em menos de 20 anos. A tabela acima mostra que, para a
população total do município, o percentual de católicos caiu para 61,5%
em 2000 e declinou ainda mais para 39,9% em 2010, uma queda
impressionante (de 42,5% em 19 anos e de 21,6% em 10 anos). O percentual
de evangélicos passou de 23,3%, em 2000, para 39,8% em 2010, subindo
30% em 19 anos e 16,5% na última década. Outras religiões e sem religião
somavam 20,3% em 2010.
Quando se analisa a população de 0 a 14 anos o percentual de
católicos é ainda menor (34,1% em 2010) e o percentual de evangélicos é
ainda maior (44,7%). Este padrão que se repete no país como um todo,
mostra que existe um fator intergeracional na transição religiosa,
pois as gerações mais jovens estão mais avançadas na transição
religiosa e os idosos são os menos afeitos às mudanças de hegemonia.
Quando se considera apenas a população feminina, a capital do Acre
já completou a transição religiosa, pois as filiações católicas
representavam 38,6% entre as mulheres e as filiações evangélicas
representavam 43,4%, em 2010. Outras religiões e sem religião somavam
18% em 2010. Entre as mulheres jovens a mudança de hegemonia é ainda
mais visível.
Artigo do Portal G1 (24/01/2014) mostra que a transição religiosa em Rio Branco foi acompanhada pela multiplicação dos templos evangélicos.
Somente nas ruas Valdomiro Lopes e Rua da Conquista, no Bairro da Paz,
há mais de sete igrejas evangélicas ao longo de pouco mais de 1 km. O
número de templos pode ser decisivo na conquista de fiéis, pois as
pessoas tendem a frequentar as igrejas próximas de suas residências.
Se há quem duvide da transição religiosa no Brasil, a capital do Acre
é um exemplo de cidade que já promoveu a mudança de hegemonia entre
católicos e evangélicos (especialmente para a população feminina e
jovens). Impressiona o ritmo ocorrido nas últimas duas décadas, pois os
católicos caíram cerca de 2% ao ano, enquanto para o Brasil a queda foi de 1% ao ano. Resta saber se a cidade de Rio Branco
é uma exceção ou se as demais capitais também vão seguir este mesmo
processo. A resposta deve ser dada no censo demográfico de 2020, quando
teremos um panorama atualizado das filiações religiosas em todos os
municípios brasileiros.
Referências:
ALVES, J. E. D; NOVELLINO, M. S. F. A dinâmica das filiações religiosas no Rio de Janeiro: 1991-2000. Um recorte por Educação, Cor, Geração e Gênero.
In: Patarra, Neide; Ajara, Cesar; Souto, Jane. (Org.). A ENCE aos 50
anos, um olhar sobre o Rio de Janeiro. RJ, ENCE/IBGE, 2006, v. 1, p.
275-308
https://pt.scribd.com/doc/249670739/A-dinamica-das-filiacoes-religiosas-no-Rio-de-Janeiro-1991-2000-Um-recorte-por-educacao-cor-geracao-e-genero
https://pt.scribd.com/doc/249670739/A-dinamica-das-filiacoes-religiosas-no-Rio-de-Janeiro-1991-2000-Um-recorte-por-educacao-cor-geracao-e-genero
ALVES, JED, CAVENGHI, S. BARROS, LFW. A transição religiosa brasileira e o processo de difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro, PUC/MG, Belo Horizonte, Revista Horizonte – Dossiê: Religião e Demografia, v. 12, n. 36, out./dez. 2014, pp. 1055-1085
ALVES, JED, BARROS, LFW, CAVENAGHI, S. A dinâmica das filiações religiosas no brasil entre 2000 e 2010: diversificação e processo de mudança de hegemonia. REVER (PUC-SP), v. 12, p. 145-174, 2012.
ALVES, JED. “A
encíclica Laudato Si’: ecologia integral, gênero e ecologia profunda”,
Belo Horizonte, Revista Horizonte, Dossiê: Relações de Gênero e Religião, Puc-MG, vol. 13, no. 39, Jul./Set. 2015
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/566609-rio-branco-acre-a-capital-mais-adiantada-na-transicao-religiosa
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