“Por favor, fujam do carreirismo eclesiástico; é uma peste”. O Papa Francisco foi muito claro durante a audiência com vários bispos espanhóis por ocasião dos 125 anos do Pontifício Colégio Espanhol de São José. “Não se esqueçam disso. O diabo entra pelo bolso”, advertiu Bergoglio.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 01-04-2017. A tradução é de André Langer.
O Papa, acompanhado pelo cardeal Ricardo Blázquez e vários arcebispos, como os de Toledo e de Sevilha, recordou em seu discurso a vontade do Senhor, que não é outra senão “amar de todo o coração, com toda a alma e com todas as forças”, algo que agradeceu aos responsáveis pelo Colégio Espanhol.
Com sua gratidão a Deus por esta instituição, que nasceu com “a vocação de ser uma referência para a formação do clero” e destacando que “formar-se supõe a capacidade de aproximar-se com humildade do Senhor e perguntar-lhe: qual é a sua vontade? O que quer de mim? Sabemos a resposta, mas talvez nos faça bem recordá-la. Para isso, proponho-lhes as três palavras do Shemá com as quais Jesus respondeu ao levita: amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças (Mc 12, 30)”.
“Amar de todo o coração significa fazê-lo sem reservas e sem duplicidades”, recordou o Papa, que pediu aos eclesiásticos espanhóis “para sair ao encontro do outro, compreendê-lo, aceitá-lo e perdoá-lo de coração”.
“Amar com toda a alma é estar disposto a oferecer a vida”. Na segunda resposta de Jesus, assinalando que “esta atitude deve persistir no tempo e abarcar todo o nosso ser”, como propunha o fundador do Colégio, o Santo Padre destacou a importância da formação integral e do discernimento que “leva à Ressurreição e à Vida” e “permite dar uma resposta consciente e generosa a Deus e aos irmãos”. O Bispo de Roma afirmou também que são quatro as colunas da formação: acadêmica, espiritual, comunitária e apostólica.
“Finalmente, a terceira resposta de Jesus, amar com todas as forças, nos recorda que ali onde está o nosso tesouro está também o nosso coração (cf. Mt 6, 21), e que é nas pequenas coisas, seguranças e afetos, que jogamos a capacidade de dizer sim ao Senhor ou dar-lhe as costas, como fez o jovem rico”, recordou o Papa, com a importância de “estar mais perto dos pobres e fracos”, e o que pedia o fundador do Pontifício Colégio Espanhol de São José e acrescentando um pedido seu:
“E, por favor – e isto como irmão, como padre, como amigo – por favor, fujam do carreirismo eclesiástico: ele é uma peste”. Quem tiver ouvidos, ouça.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 01-04-2017. A tradução é de André Langer.
O Papa, acompanhado pelo cardeal Ricardo Blázquez e vários arcebispos, como os de Toledo e de Sevilha, recordou em seu discurso a vontade do Senhor, que não é outra senão “amar de todo o coração, com toda a alma e com todas as forças”, algo que agradeceu aos responsáveis pelo Colégio Espanhol.
Com sua gratidão a Deus por esta instituição, que nasceu com “a vocação de ser uma referência para a formação do clero” e destacando que “formar-se supõe a capacidade de aproximar-se com humildade do Senhor e perguntar-lhe: qual é a sua vontade? O que quer de mim? Sabemos a resposta, mas talvez nos faça bem recordá-la. Para isso, proponho-lhes as três palavras do Shemá com as quais Jesus respondeu ao levita: amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças (Mc 12, 30)”.
“Amar de todo o coração significa fazê-lo sem reservas e sem duplicidades”, recordou o Papa, que pediu aos eclesiásticos espanhóis “para sair ao encontro do outro, compreendê-lo, aceitá-lo e perdoá-lo de coração”.
“Amar com toda a alma é estar disposto a oferecer a vida”. Na segunda resposta de Jesus, assinalando que “esta atitude deve persistir no tempo e abarcar todo o nosso ser”, como propunha o fundador do Colégio, o Santo Padre destacou a importância da formação integral e do discernimento que “leva à Ressurreição e à Vida” e “permite dar uma resposta consciente e generosa a Deus e aos irmãos”. O Bispo de Roma afirmou também que são quatro as colunas da formação: acadêmica, espiritual, comunitária e apostólica.
“Finalmente, a terceira resposta de Jesus, amar com todas as forças, nos recorda que ali onde está o nosso tesouro está também o nosso coração (cf. Mt 6, 21), e que é nas pequenas coisas, seguranças e afetos, que jogamos a capacidade de dizer sim ao Senhor ou dar-lhe as costas, como fez o jovem rico”, recordou o Papa, com a importância de “estar mais perto dos pobres e fracos”, e o que pedia o fundador do Pontifício Colégio Espanhol de São José e acrescentando um pedido seu:
“E, por favor – e isto como irmão, como padre, como amigo – por favor, fujam do carreirismo eclesiástico: ele é uma peste”. Quem tiver ouvidos, ouça.
Íntegra do discurso do Papa Francisco:
Queridos irmãos e irmãs no episcopado,
Queridos sacerdotes:
Quero fazer chegar minha saudação a toda a comunidade do Pontifício Colégio Espanhol de São José e agradecer ao Senhor Cardeal Ricardo Blázquez Pérez as amáveis palavras que, como co-patrono do Colégio, me dirigiu em nome de todos, nesta comemoração dos 125 anos de sua fundação. Dou graças a Deus pela bela obra que instituiu o beato Manuel Domingo y Sol, fundador da Fraternidade dos Sacerdotes Operários Diocesanos do Sagrado Coração de Jesus e pelo trabalho dos mesmos durante todos estes anos.
Esta Instituição nasceu com a vocação de ser uma referência para a formação do clero. Formar-se supõe a capacidade de aproximar-se com humildade do Senhor e perguntar-lhe: qual é a sua vontade? O que quer de mim? Sabemos a resposta, mas talvez nos faça bem recordá-la, e para isso proponho-lhes as três palavras do Shemá com as quais Jesus respondeu ao levita: “amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30).
Amar de todo o coração significa fazê-lo sem reservas e sem duplicidades, sem interesses espúrios, e sem buscar a si mesmo no sucesso pessoal ou na carreira. A caridade pastoral supõe sair ao encontro do outro, compreendê-lo, aceitá-lo e perdoá-lo de coração. Isso é caridade pastoral. Mas por nossas próprias forças não somos capazes de crescer nessa caridade. Por isso, o Senhor nos chamou para ser uma comunidade, de modo que essa caridade congregue a todos os presbíteros com um especial vínculo no ministério e na fraternidade. Para isso, necessita-se da ajuda do Espírito Santo, mas também do combate espiritual pessoal (cf. Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, 87). Isto não saiu de moda, segue sendo tão atual como nos primeiros tempos da Igreja. Trata-se de um desafio permanente para superar o individualismo e viver a diversidade como um dom, buscando a unidade do presbitério, que é sinal da presença de Deus na vida da comunidade. Um presbitério que não mantém a unidade, de fato, descarta Deus de seu testemunho. Não é testemunho da presença de Deus. Expulsa-o. Desse modo, reunidos em nome do Senhor, especialmente quando celebram a Eucaristia, manifestam inclusive sacramentalmente que ele é o amor do seu coração.
Segundo: amar com toda a alma. É estar disposto a oferecer a vida. Esta atitude deve persistir no tempo e abarcar todo o nosso ser. Assim o propunha o Fundador do Colégio: “[Senhor], ofereço-te e coloco à tua disposição o meu corpo, a minha alma, a minha memória, o meu entendimento e vontade, a minha saúde e até a minha vida” (Escritos III, vol. 6, doc. 111, p. 1). Portanto, a formação de um sacerdote não pode ser unicamente acadêmica, embora esta seja muito importante e necessária, mas deve ser um processo integral, que abarque todas as facetas da vida. A formação deve servir para crescer e, ao mesmo tempo, para se aproximarem de Deus e dos irmãos. Vocês não podem se contentar, por favor, não se contentem em obter um título, mas em ser discípulos a templo pleno para “anunciar a mensagem evangélica de modo confiável e compreensível ao homem de hoje” (Ratio, 116). Neste ponto, é importante crescer no hábito do discernimento, que lhes permita valorizar cada instante e moção, inclusive o que parece oposto e contraditório, e depurar o que vem do Espírito; uma graça que devemos pedir de joelhos. Só a partir desta base, através das múltiplas tarefas no exercício do ministério, poderão formar os demais nesse discernimento que leva à Ressurreição e à Vida e lhes permite dar uma resposta consciente e generosa a Deus e aos irmãos (cf. Encontro com os sacerdotes e consagrados – Milão, 25 de março de 2017). Eu dizia que a formação de um sacerdote não pode ser unicamente acadêmica e contentar-se apenas com isso. Daí nascem todas as ideologias que empestam a Igreja, de um sinal ou de outro, do academicismo clerical. São quatro colunas que a formação precisa ter: formação acadêmica, formação espiritual, formação comunitária e formação apostólica. E as quatro precisam interagir. Se falta uma delas, a formação já começa a ficar capenga e o padre acaba paralítico. Por isso, por favor, as quatro juntas e interagindo.
Queridos sacerdotes:
Quero fazer chegar minha saudação a toda a comunidade do Pontifício Colégio Espanhol de São José e agradecer ao Senhor Cardeal Ricardo Blázquez Pérez as amáveis palavras que, como co-patrono do Colégio, me dirigiu em nome de todos, nesta comemoração dos 125 anos de sua fundação. Dou graças a Deus pela bela obra que instituiu o beato Manuel Domingo y Sol, fundador da Fraternidade dos Sacerdotes Operários Diocesanos do Sagrado Coração de Jesus e pelo trabalho dos mesmos durante todos estes anos.
Esta Instituição nasceu com a vocação de ser uma referência para a formação do clero. Formar-se supõe a capacidade de aproximar-se com humildade do Senhor e perguntar-lhe: qual é a sua vontade? O que quer de mim? Sabemos a resposta, mas talvez nos faça bem recordá-la, e para isso proponho-lhes as três palavras do Shemá com as quais Jesus respondeu ao levita: “amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30).
Amar de todo o coração significa fazê-lo sem reservas e sem duplicidades, sem interesses espúrios, e sem buscar a si mesmo no sucesso pessoal ou na carreira. A caridade pastoral supõe sair ao encontro do outro, compreendê-lo, aceitá-lo e perdoá-lo de coração. Isso é caridade pastoral. Mas por nossas próprias forças não somos capazes de crescer nessa caridade. Por isso, o Senhor nos chamou para ser uma comunidade, de modo que essa caridade congregue a todos os presbíteros com um especial vínculo no ministério e na fraternidade. Para isso, necessita-se da ajuda do Espírito Santo, mas também do combate espiritual pessoal (cf. Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, 87). Isto não saiu de moda, segue sendo tão atual como nos primeiros tempos da Igreja. Trata-se de um desafio permanente para superar o individualismo e viver a diversidade como um dom, buscando a unidade do presbitério, que é sinal da presença de Deus na vida da comunidade. Um presbitério que não mantém a unidade, de fato, descarta Deus de seu testemunho. Não é testemunho da presença de Deus. Expulsa-o. Desse modo, reunidos em nome do Senhor, especialmente quando celebram a Eucaristia, manifestam inclusive sacramentalmente que ele é o amor do seu coração.
Segundo: amar com toda a alma. É estar disposto a oferecer a vida. Esta atitude deve persistir no tempo e abarcar todo o nosso ser. Assim o propunha o Fundador do Colégio: “[Senhor], ofereço-te e coloco à tua disposição o meu corpo, a minha alma, a minha memória, o meu entendimento e vontade, a minha saúde e até a minha vida” (Escritos III, vol. 6, doc. 111, p. 1). Portanto, a formação de um sacerdote não pode ser unicamente acadêmica, embora esta seja muito importante e necessária, mas deve ser um processo integral, que abarque todas as facetas da vida. A formação deve servir para crescer e, ao mesmo tempo, para se aproximarem de Deus e dos irmãos. Vocês não podem se contentar, por favor, não se contentem em obter um título, mas em ser discípulos a templo pleno para “anunciar a mensagem evangélica de modo confiável e compreensível ao homem de hoje” (Ratio, 116). Neste ponto, é importante crescer no hábito do discernimento, que lhes permita valorizar cada instante e moção, inclusive o que parece oposto e contraditório, e depurar o que vem do Espírito; uma graça que devemos pedir de joelhos. Só a partir desta base, através das múltiplas tarefas no exercício do ministério, poderão formar os demais nesse discernimento que leva à Ressurreição e à Vida e lhes permite dar uma resposta consciente e generosa a Deus e aos irmãos (cf. Encontro com os sacerdotes e consagrados – Milão, 25 de março de 2017). Eu dizia que a formação de um sacerdote não pode ser unicamente acadêmica e contentar-se apenas com isso. Daí nascem todas as ideologias que empestam a Igreja, de um sinal ou de outro, do academicismo clerical. São quatro colunas que a formação precisa ter: formação acadêmica, formação espiritual, formação comunitária e formação apostólica. E as quatro precisam interagir. Se falta uma delas, a formação já começa a ficar capenga e o padre acaba paralítico. Por isso, por favor, as quatro juntas e interagindo.
Finalmente, a
terceira resposta de Jesus: amar com todas as forças, nos recorda que
ali onde está o nosso tesouro também está o nosso coração (cf. Mt 6, 2) e
que é nas pequenas coisas, seguranças e afetos, que jogamos a
capacidade de dizer sim ao Senhor ou dar-lhe as costas, como fez o jovem
rico. Vocês não podem se contentar em ter uma vida ordenada e cômoda,
que lhes permita viver sem preocupações, sem sentir a exigência de
cultivar um espírito de pobreza radicado no Coração de Cristo que, sendo
rico, fez-se pobre por amor a nós (cf. 2 Cor 8, 9) ou, como disse o
texto, para nos enriquecer. Se ele nos pede para adquirir a autêntica
liberdade de filhos de Deus, numa adequada relação com o mundo e com os
bens terrenos, segundo o exemplo dos Apóstolos, os quais Jesus convida
para confiar na Providência e a segui-lo sem laços e amarras (cf. Lc 9,
57-62; Mc 10, 17-22). Não se esqueçam disso: o diabo sempre entra pelo
bolso, sempre. Além disso, é bom aprender a agradecer pelo que temos,
renunciando generosa e voluntariamente ao supérfluo, para estar mais
perto dos pobres e dos fracos. O beato Domingo y Sol
dizia que para socorrer a necessidade era preciso estar disposto a
“vender a camisa”. Eu não lhes pediria tanto: padres descamisados, não;
simplesmente, que sejam testemunhas de Jesus, através da simplicidade e
da austeridade de vida, para serem promotores confiáveis de uma
verdadeira justiça social (cf. João Paulo II, Pastores dabo vobis,
30). E, por favor – e isto como irmão, como padre, como amigo –, por
favor, fujam do carreirismo eclesiástico: é uma peste. Fujam disso.
Queridos superiores, alunos e ex-alunos deste Colégio Espanhol de São José: confiemos ao santo Padroeiro, Protetor da Igreja, as nossas preocupações e projetos, que ele acompanhe vocês, juntamente com a Maria Santíssima, invocada pela tradição do Colégio como Mãe Clementíssima, e assim possam crescer em sabedoria e graça e ser discípulos amados do Bom Pastor. Que Deus abençoe vocês.
Queridos superiores, alunos e ex-alunos deste Colégio Espanhol de São José: confiemos ao santo Padroeiro, Protetor da Igreja, as nossas preocupações e projetos, que ele acompanhe vocês, juntamente com a Maria Santíssima, invocada pela tradição do Colégio como Mãe Clementíssima, e assim possam crescer em sabedoria e graça e ser discípulos amados do Bom Pastor. Que Deus abençoe vocês.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/566384-francisco-aos-bispos-e-sacerdotes-espanhois-por-favor-fujam-do-carreirismo-eclesiastico-e-uma-peste-nao-se-esquecam-disso-o-diabo-entra-pelo-bolso
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