“Os dois rostos são tão expressivos que contam em si mesmos toda uma história, que atingiu as pessoas”, diz o autor da imagem.
Ian Crossland, líder do grupo de extrema direita English Defence League (EDL),
vociferava contra uma jovem de Birmingham durante uma manifestação
organizada pelo seu grupo nessa cidade britânica, como reação ao atentado de Londres de 22 de março passado.
A atitude da moça, identificada como Saffiyah Khan e que em nenhum
momento deixou de sorrir e de se mostrar tranquila diante da
agressividade de seu interlocutor, atraiu a admiração da deputada
trabalhista Jess Phillips. Sua mensagem no Twitter ajudou a viralizar a imagem que registra o momento, captada pelo fotógrafo Joe Giddens.
“Quem parece ter o poder aqui: a verdadeira garota de
Birmingham ou o homem da EDL, que emigrou para nossa cidade por um dia e
não conseguiu se integrar?”, pergunta Jess Phillips em sua mensagem.
“Uma imagem não mente jamais. Os rostos dos dois são tão
expressivos que contam em si mesmos uma história, que atingiu as
pessoas”, diz ao telefone o autor da foto, que trabalha para a agência Press Association.
O tuíte da parlamentar britânica teve 18.000 “curtidas” e foi
compartilhado 10.000 vezes em pouco mais de um dia. Outras mensagens
posteriores a ele chegaram a ultrapassar esses números.
Saffiyah Khan, nascida no Reino Unido, afirmou à imprensa britânica
que se aproximou da manifestação organizada pelo grupo ultraconservador
por causa do histórico do EDL, associado à violência de rua e à incitação ao ódio contra a comunidade muçulmana,
à qual ela pertence. A protagonista da imagem declarou à BBC que, à
certa altura, tentou ajudar uma mulher que usava véu e que estava
cercada por um grupo de 25 homens por ter gritado “islamofóbicos” em
direção a eles.
O líder da EDL criticou Saffiyah Khan logo depois desse
incidente, que teria interrompido o minuto de silêncio em homenagem às
vítimas do atentado de Londres. Este é o momento que se vê na imagem. “O
minuto de silêncio tinha acabado havia uns três ou quatro minutos. Não
consegui ouvir o que Ian Crossland dizia e não diria que sua atitude
tenha sido violenta, embora ele estivesse muito irritado”, diz o
fotógrafo que registrou o fato.
Um outro tuíte, publicado pelo trabalhista David Lammy,
mostra uma outra imagem, também captada por Giddens. Nela é possível ver
como um policial é obrigado a segurar a mão do líder ultradireitista
enquanto a jovem continua a sorrir, com as mãos nos bolsos.
Já em 2010, pouco depois da criação da EDL, a polícia alertava publicamente sobre as atividades desse grupo, afirmando que elas só servem para “reforçar o extremismo islâmico”.
"Encanta-me. A segunda foto de Saffiyah Khan olhando fixamente a EDL com um sorriso é ainda melhor. Solidariedade, irmã".
A manifestação de Birmingham foi a primeira da EDL que Joe
Giddens acompanhou como repórter fotográfico. Segundo o seu relato,
houve no ato “um pouco de confronto, mas em nenhum momento se chegou à
violência física”. O britânico afirma que cerca de 100 pessoas
participaram do ato, número bastante inferior ao registrado em uma festa
realizada horas antes em uma mesquita da cidade e que ele também
registrou com sua câmera.
"Encanta-me. A segunda foto de Saffiyah Khan olhando fixamente a EDL com um sorriso é ainda melhor. Solidariedade, irmã".
O importante apoio de Jess Phillips
Não é por acaso que a imagem de Saffiyah Khan encarando o líder da
English Defence League, Ian Crossland, tenha sido popularizada
justamente pela deputada trabalhista Jess Phillips.
A parlamentar de Birmingham instalou em 2016 uma espécie de “bunker” blindado em seu escritório após ter recebido ameaças contra a sua segurança. O fato aconteceu poucas semanas depois de sua colega de partido Jo Cox ter sido assassinada por um homem com ligações com a extrema direita.
Apesar das ameaças, ela declarou então ao The Guardian que não planejava deixar o cargo. Meses antes, o jornal havia classificado a parlamentar como uma pessoa “em quem se pode confiar”. Sobre a atitude de Saffiyah Khan, Phillips afirma, agora, que se trata de um “exemplo de esperança”.
A parlamentar de Birmingham instalou em 2016 uma espécie de “bunker” blindado em seu escritório após ter recebido ameaças contra a sua segurança. O fato aconteceu poucas semanas depois de sua colega de partido Jo Cox ter sido assassinada por um homem com ligações com a extrema direita.
Apesar das ameaças, ela declarou então ao The Guardian que não planejava deixar o cargo. Meses antes, o jornal havia classificado a parlamentar como uma pessoa “em quem se pode confiar”. Sobre a atitude de Saffiyah Khan, Phillips afirma, agora, que se trata de um “exemplo de esperança”.
Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/10/internacional/1491817023_803533.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM
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