Lc 17,11-19
O relato do Evangelho deste domingo (ver no final o texto), próprio de Lucas, nos situa junto a Jesus no caminho para Jerusalém. Lucas descreve, ao longo de seu Evangelho, o acontecimento salvífico de Jesus como uma “viagem”. Não é indiferente, portanto, a indicação do caminho, como não são tampouco as referencias geográficas de Sumária e Galiléia, ainda que estas sejam mais simbólicas que exatas.
Nesse caminho sairão ao encontro de Jesus (e, portanto de todos os que iam –e vamos- com Ele) dez leprosos. Dez leprosos, que como ditava sua condição de enfermos contagiosos (inabilitados para a convivência social), se param ao largo, longe, e se comunicam com Jesus aos gritos.
Jesus, antes de ouvi-los, os vê.
Todos já experimentamos que colocar em alguém nosso olhar, quando este vai cheio de respeito e carinho, é um dos meios que mais reabilita a pessoa quando está doente. Outro dia conversava com uma senhora que se trata com um médico cubano, ela me dizia que o bom do médico cubano é que “ele olha para a pessoa”... Mas este olhar é melhor ainda quando o doente sofre exclusão e experimenta continuamente como as pessoas desviam dele o olhar. Olhar cara a cara a alguém, pôr em alguém nossos olhos amorosos e deixar-nos olhar por ele ou ela, nos compromete e nos impede de seguir adiante.
Jesus vê os leprosos, e ao olhá-los, os coloca como protagonistas, no centro de atenção de todos. Eles lhe gritaram suplicando-lhe compaixão e isso é o que receberam já d’Ele, um olhar compadecido e atento, que percebe as necessidades do outro, antes mesmo de que as pronuncie. Jesus os indica que se apresentem ante os sacerdotes. A cura da lepra só podia realizar-se, naquele tempo, através de um “milagre”, uma especial ação dos sacerdotes ou de outros homens de Deus, e os sacerdotes deveriam também atestar que os leprosos estavam curados. Lucas apresenta, portanto, este milagre de cura como fruto da confiança e da disponibilidade de uns homens que se fiam em Jesus e realizam o que lhes disse, pondo-se de novo a caminho.
Realmente aqui poderia ter acabado o relato. Se este continua é porque o mais relevante vai ser descrito na continuação. Dos dez, um deles, vendo-se curado, não chega a apresentar-se aos sacerdotes, mas sim que desfaz o caminho realizado para prostrar-se por terra aos pés de Jesus e agradecer-lhe, ao mesmo tempo em que louva a Deus. Com este gesto reconhece a Jesus não só como seu “mestre”, tal e como o havia nomeado antes, mas sim como seu curador e Salvador.
O sublinhado do agradecimento deste samaritano se converte para nós hoje em um convite a ser agradecidos. Quem se sente agradecido para com alguém, mantém uma relação próxima com essa pessoa, está atenta a ela, a escuta e deseja mostrar-lhe sua gratidão. Viver como crentes agradecidos é reconhecer que tudo é dom, que nada nos é devido, que tudo parte de um Deus misericordioso que se abaixa para fazer-se um de tantos (Fl 2,6-7), porém cuja grandeza e bondade é insondável (Rm 11,33-36). Intuir isto é reconhecer que só podemos viver diante Ele dando-lhe graças. E isso gera um modo novo de situar-nos não só diante de Deus, mas também ante os demais e ante nós mesmos.
O agradecimento do samaritano denota com maior claridade o desaparecimento dos outros nove e hoje nos faz perguntar-nos com quem nos identificamos. O samaritano regressará à sua casa com a certeza de que a cura manifestada em sua pele atravessou, na realidade, todo o seu ser. As palavras de Jesus “levanta-te e anda, tua fé te salvou”, serão motor para empreender uma vez mais o caminho, e o profundo agradecimento experimentado o fará viver de um modo novo.
Dom Abade Antônio
Mosteiro Domus Mariae
“A caminho de Jerusalém, Jesus passou pela divisa entre Samaria e Galiléia.
Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância
e gritaram em alta voz: "Jesus, Mestre, tem piedade de nós! "
Ao vê-los, ele disse: "Vão mostrar-se aos sacerdotes". Enquanto eles iam, foram purificados.
Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz.
Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano.
Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove?
Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro? "
Então ele lhe disse: "Levante-se e vá; a sua fé o salvou".
Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância
e gritaram em alta voz: "Jesus, Mestre, tem piedade de nós! "
Ao vê-los, ele disse: "Vão mostrar-se aos sacerdotes". Enquanto eles iam, foram purificados.
Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz.
Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano.
Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove?
Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro? "
Então ele lhe disse: "Levante-se e vá; a sua fé o salvou".
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