Proposta apresentada pelo governo Temer quer congelar gastos com saúde, educação e assistência social por 20 anos.
Aécio Neves na posse de Michel Temer, em 31 de agosto: PSDB e PMDB juntos pelo ajuste fiscal
Apresentada pela equipe econômica do governo Michel Temer, a Proposta de Emenda à Constituição 241, que pretende congelar gastos em saúde e educação por
20 anos, avança com rapidez no Congresso Nacional. Um primeiro
relatório, favorável à aprovação da proposta, foi apresentado na
terça-feira 4 na comissão especial que trata do assunto na Câmara dos
Deputados e aprovado na quinta-feira 6.
A votação no Plenário também deve ocorrer rapidamente. O presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já anunciou sua intenção de realizar a
primeira votação em plenário na segunda-feira 10, a depender do quorum. Entenda a proposta:
O que é a PEC 241?
A Proposta de Emenda Constitucional 241, também chamada de PEC do Teto de Gastos, tem como objetivo limitar despesas com saúde, educação, assistência social e Previdência, por exemplo, pelos próximos 20 anos.
Enviada em junho pela equipe de Michel Temer à Câmara dos Deputados, a
proposta institui o Novo Regime Fiscal, que prevê que tais gastos não poderão crescer acima da inflação acumulada no ano anterior.
Autor da medida, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
classificou a PEC 241 de “dura” e admitiu o propósito de limitar os
gastos com saúde e educação, que atualmente são vinculados à evolução da
arrecadação federal.
Tais vinculações expressam conquistas sociais
garantidas na Constituição Federal de 1988 com o objetivo de priorizar e
preservar o gasto público nessas áreas fundamentais, independentemente do governo que estivesse no poder.
Quais são as críticas à PEC 241?
Ao colocar um limite para os gastos da União pelas próximas duas
décadas, a PEC 241 institucionaliza um ajuste fiscal permanente e ignora
uma eventual melhora da situação econômica do País.
De acordo com a proposta, a regra que estabelece o teto de gastos a
partir da correção da inflação não poderá ser alterada antes do décimo
ano de vigência.
O prazo final dessa política de austeridade se completaria em 20
anos. Dessa forma, o Novo Regime Fiscal proposto pelo governo Temer
retira da sociedade e do Parlamento a prerrogativa de moldar o orçamento
destinado a essas áreas, que só poderá crescer conforme a variação da
inflação.
O que o governo argumenta ao propor a PEC 241?
Para Meirelles, a raiz do problema fiscal do Brasil é o crescimento
elevado do gasto público, que, segundo ele, é incompatível com o
crescimento da Receita.
Em debate na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na terça-feira 4, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que o congelamento dos gastos permitirá que o “mercado” tenha expectativas melhores em relação ao Brasil, elevando investimentos privados e contribuindo para o crescimento econômico.
A melhoria da educação
e da saúde, no entanto, é elemento básico do desenvolvimento. Ao
defender a PEC 241, Meirelles afirma, ainda, que limitar o gasto público
vai ajudar a conter o crescimento da dívida pública. Segundo o Banco Central, a dívida pública brasileira chegou a 66,2% do PIB em 2015.
O governo ignora, porém, que não há unanimidade sobre o que seria um
patamar seguro para a dívida pública no mundo. Existem países com uma
dívida menor que a brasileira (Argentina, 56% do PIB em 2015; e Chile,
14%), mas há também países mais desenvolvidos com dívidas maiores
(Espanha, 99% do PIB; EUA, 106%; e Japão, 248%).
O que pode estar por trás da proposta?
A PEC 241, tida como uma das principais razões da aliança entre PMDB e PSDB, garante governabilidade a Temer no Congresso. O interesse do PSDB pela aprovação da pauta explicita o caráter da proposta, afinada com a política de austeridade defendida pelo partido.
Diante da impopularidade da medida, seria interessante para o PSDB,
que almeja o Planalto em 2018, vê-la aprovada sem ter o ônus de ser o
responsável direto por ela.
Quando a PEC 241 deverá ser votada?
O tema tem sido tratado com urgência pelos interlocutores de Temer. Aliado do governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
marcou para a próxima segunda-feira 10 a primeira votação da PEC 241 no
plenário da Câmara. A sessão, contudo, pode ser adiada.
Para ser aprovada, a PEC precisa passar por duas apreciações
plenárias tanto na Câmara quanto no Senado. A intenção do governo é
liquidar as quatro votações ainda este ano. Como se trata de
alteração constitucional, a aprovação depende do apoio de três quintos
dos votos na Câmara e no Senado, ou seja, 308 deputados e 49 senadores.
Nos bastidores, a PEC 241 é tratada como uma espécie de teste. Se o
governo não for capaz de aprová-la, também não conseguirá aprovar a reforma da Previdência, tampouco mudanças na legislação trabalhista.
De acordo com informações do jornal O Estado de S.Paulo, o
ministro Geddel Vieira Lima, da Secretaria de Governo, disse ter
convicção de que a PEC 241 será aprovada. A declaração foi dada após um
jantar na segunda-feira 3, do qual participaram ministros e cerca de 50
deputados da base aliada do governo.
Como a oposição está se articulando?
A deputada Jandira Feghali (PcdoB-RJ), líder da minoria na Câmara, protocolou na sexta-feira 7 um mandado de segurança
no Supremo Tribunal Federal (STF) para que a tramitação da PEC 241 seja
suspensa. A peça é assinado por parlamentares de PT e PCdoB e pede que a
proposta não seja colocada em votação na Câmara até a análise do
Supremo.
Para parlamentares da oposição, a medida representa o
“desmonte do Estado”. "A gente tem chamado [a proposta] de ‘PEC do
Orçamento sem Povo’, que é algo típico de um governo sem voto”, disse
Feghali em entrevista à tvCarta. Assista:
Jandira Feghali: “A PEC 241 é a PEC dos mais ricos”
https://www.youtube.com/watch?v=62K9J6iWDAo
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/entenda-o-que-esta-em-jogo-com-a-pec-241
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