quinta-feira, 20 de outubro de 2016

"SITUAÇÃO NO HAITI NUNCA FOI TÃO DRAMÁTICA"

Haitianos que vivem no Brasil tentam ajudar vítimas do furacão, muitas delas incomunicáveis. Mas temem que ajuda seja desviada por corrupção endêmica.

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A realidade é essa mesmo: a ajuda é sempre desviada, e quem precisa mesmo não consegue receber nada

Por Roberta Jansen

Haitianos que vivem no Brasil se desesperam diante da situação de parentes que continuam incomunicáveis e isolados na parte sul da ilha, duas semanas depois da passagem do poderoso furacão Matthew pela região.
As notícias dão conta de que, nas áreas mais remotas do interior, a ajuda humanitária não chegou ainda. E o que chega à capital, denunciam, corre o risco de ser desviado pela corrupção endêmica do país. Muitos tentam ajudar por conta própria para driblar o sistema.
"Eu tenho vergonha de pedir dinheiro para o Haiti”, conta o haitiano Robert Montinard, que trabalha na ONG Viva Rio na campanha "Haiti-Aqui”. "Os políticos torcem para que ocorram as tragédias para que recebam mais verba de ajuda humanitária e possam manipular o dinheiro sem prestar contas a ninguém, essa é que é a verdade."
"Muito do dinheiro recebido no terremoto foi parar nas mãos de políticos, a corrupção é generalizada”, acrescenta Montinard, referindo-se ao terremoto de 2010 que devastou a capital Porto Príncipe, deixando pelo menos 100 mil mortos.
O entomologista Jean Ricardo Jules, que está no Rio fazendo um mestrado na Fiocruz, compartilha os mesmos temores e críticas. Ele diz que já mandou algum dinheiro para a família, embora não tenha conseguido falar com ninguém que está no sul do país, área mais atingida pelo furacão.
"A realidade é essa mesmo: a ajuda é sempre desviada, e quem precisa mesmo não consegue receber nada; algumas pessoas gostam dessa situação e aproveitam para enriquecer”, denuncia. "As ONGs ficam na cidade, na roça não tem caminho, não tem estrada; não chegou nada no interior até hoje”, acrescenta.

"Situação nunca foi tão dramática"

Jules conta que conseguiu falar com uma irmã que mora na capital, mas foi só isso: o restante do país está sem comunicação. "Consegui mandar dinheiro com a ajuda de amigos”, afirma.
Bob, como é mais conhecido Robert Montinard, também não conseguiu ainda falar com os parentes do sul.
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As notícias dão conta de que, nas áreas mais remotas do interior, a ajuda 
humanitária não chegou ainda (Hector Retamal / AFP)
"Já recebi um recado dizendo que eles estão bem e que nossa casa, que não foi destruída, está servindo de abrigo para muitas pessoas da região”, relata. "Mas a situação é de desespero total. Tudo foi destruído: casas, plantações, criação de animais, tudo”.
"A situação aqui é muito triste”, diz por sua vez o padre Pierre Jentil, um haitiano que mora no Brasil há oito anos.
Ele viajou ao país natal para rezar uma missa, mas até a igreja onde haveria a celebração foi destruída pela tempestade.
"Todos dizem que nunca viveram uma situação assim tão dramática. Todas as regiões estão desfiguradas com a destruição das casas e das árvores”, acrescenta o padre, que também está tentando levar ajuda às áreas remotas por meio da campanha Ajude o Haiti. Como os seus compatriotas, o padre também teme que a ajuda não chegue de fato aos que mais precisam.
"O Haiti é um país que eu não consigo explicar; tem crise política, catástrofes, corrupção; as pessoas sofrem muito”, diz, por sua vez, Jules. "Estou há três anos sem ver minha família. Seria o momento de ir lá para visitar e ajudar, mas não tem como, não tenho dinheiro. Eu fico aqui só chorando, choro muito. Deixei nas mãos de Deus.”

 

Caetano Veloso e Gilberto Gil - Haiti (album)

https://www.youtube.com/watch?v=o90x2e98IdA


Deutsche Welle

Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/internacional/situacao-no-haiti-nunca-foi-tao-dramatica
 

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