O cardeal arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, declara neutralidade,
mas incomoda setores progressistas que veem apoio tácito a Crivella.
Encontro do cardeal do Rio com Michel Temer no dia da votação da PEC 241
A Igreja Católica está dividida na eleição municipal do Rio de Janeiro, disputada entre Marcelo Crivella (PRB) e Marcelo Freixo (PSOL), e o debate tem ganhado contornos que lembram campanhas de católicos conservadores contra o comunismo nos anos 1950, 60 e 70.
O mais recente episódio envolve o principal nome da Igreja no estado,
o cardeal arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta. Apesar de anunciar
“neutralidade” no segundo turno, Orani tem incomodado setores
progressistas da comunidade católica por permitir que auxiliares e
padres conservadores apoiem Crivella, bispo da Igreja Universal, e
ataquem Freixo duramente, enquanto repreende os padres e líderes que
apoiam o candidato do PSOL.
Na tarde de segunda-feira, um grupo de 13 padres, uma freira e 761 lideranças católicas divulgou uma nota sob o título Católicos/as com Freixo.
O grupo de padres e líderes das paróquias e pastorais sociais
que declararam apoio a Freixo anunciaram fazê-lo “no horizonte do
Evangelho da Libertação, da efetivação de uma Igreja em saída” (como
compreende o papa Francisco) e da antecipação do Reino de Justiça e paz
inaugurado por Jesus Cristo”. Eles convocaram um encontro de católicos e
católicas com o candidato nesta quarta-feira 26 às 17h na Cinelândia,
centro do Rio.
Na noite de terça-feira 25, veio a resposta da Arquidiocese, em uma Nota de esclarecimento assinada por Orani, cinco bispos e 11 vigários episcopais (auxiliares diretos do cardeal).
Convocação de encontro de católicos com Marcelo Freixo
Na resposta, a nota pró-Freixo foi condenada com veemência, acusando
os signatários de causar “o escândalo da desunião” e indicando as
prerrogativas para o apoio a qualquer candidato: condenação ao aborto e à
eutanásia, ao “anarquismo e terrorismo” e ao divórcio; finalmente, a
cúpula católica diz que tais candidatos precisam manifestar apoio ao
“matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto”.
Enquanto condena os católicos a favor de Freixo, lembram os setores
progressistas católicos do Rio, a Arquidiocese não se manifestou até
agora em relação à campanha de líderes conservadores como o padre
Nivaldo Junior, Vigário Episcopal Suburbano. Junior tem estampado na
capa de seu perfil no Facebook as seguintes frases: “Um dos dois vai
ganhar... Só sobraram dois... Não anule seu voto! Não voto no
socialismo."
A timeline do vigário é quase que inteiramente dedicada ao
combate à candidatura de Freixo e da esquerda católica. Num post no dia
20, ao condenar um anunciado encontro de católicos com Freixo, com a
presença do teólogo Leonardo Boff, escreveu: “Definitivamente passando
dos limites! Leonardo Boff não representa os católicos! Tá uma vergonha
essa mentira toda! Acorda Católico! E uma série de tags como
NãoVoteNoPsol, DigaNãoAoSocialismo, DigaNãoAoComunismo,
BoffNãoRepresentaAIgreja, EleRompeuPublicamenteComAIgreja.
Leonardo Boff, ex-frade franciscano, é hoje um dos teólogos mais consultados pelo papa Francisco.
Capa do perfil do vigário Nivaldo Junior no Facebook
Outro padre, Augusto Bezerra, que tem programa na Rádio Catedral,
da Arquidiocese do Rio, publicou em seu perfil no Facebook, em 24 de
outubro, uma declaração aberta de voto em Marcelo Crivella: “Enquanto
cidadão livre que sou, usando dos critérios de minha fé e do pensamento
crítico, opto pelo mal menor e voto útil contra Freixo diante das
garantias públicas dadas pelo Crivella", escreveu.
As relações entre a direita católica e Marcelo Crivella têm causado
constrangimentos à Arquidiocese, que se apresenta como “neutra” na
disputa. Há uma semana, depois que a campanha espalhou na cidade
panfleto com uma foto sua ao lado de dom Orani, o bispo auxiliar Dom
Antonio Augusto afirmou à imprensa que “não houve autorização para o uso
da imagem do cardeal”.
A rejeição oficial chamou atenção pelo tom mais ameno empregado em
comparação com a nota contra os próprios católicos que apoiam Freixo.
Dom Orani já tinha causado constrangimento à Igreja no Brasil
ao liderar uma comitiva integrada pelo cardeal de São Paulo, dom Odilo
Pedro Scherer e alguns bispos a Michel Temer em 10 de outubro último –
dia da votação em primeiro turno da PEC 241 (que congelas gastos sociais
federais por 20 anos) na Câmara dos Deputados.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/politica/igreja-catolica-se-divide-na-eleicao-no-rio-de-janeiro
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