Gerir processos e funcionamentos é complexo desafio principalmente
quando são consideradas as exigências, necessidades e prioridades. Ao
gestor, requerem-se resultados e não é permitido um planejamento que
busque apenas a manutenção burocrática do que já se conquistou. Mas,
lamentavelmente, existem certos hábitos culturais que impõem atrasos e
inviabilizam o caminhar na direção das inovações. Esses costumes também
alimentam a baixa autoestima da população e precisam ser superados para
se alcançar o êxito.
Há de se considerar que toda cultura guarda, nos hábitos e práticas,
idiossincrasias que devem ser corrigidas para não se tornarem furos por
onde as energias escapam. E muitos são os procedimentos que podem
eliminar tudo o que impede a limpidez, a velocidade e a objetividade nos
processos capazes de vencer descompassos. Para que esses mecanismos se
efetivem, sempre será necessário o exercício cidadão das avaliações e
análises. Uma permanente disponibilidade para derrubar os obstáculos que
impedem avanços e progressos. São muitas as barreiras, de todo tipo, e
várias delas são desconsideradas. Assim, não recebem os tratamentos
adequados e continuam a minar forças. Acabam alimentando comodismos com a
justificativa de que “sempre foi assim”.
Dentre esses graves hábitos culturais que precisam ser superados, há
um que merece atenção especial: o descaso com o qual é tratado o
patrimônio histórico, cultural e religioso de um povo. A desconsideração
é generalizada, indicando a necessidade de se promover, inclusive a
partir de processos educativos, o desabrochar da consciência sobre a
grandeza desse patrimônio. É grave quando uma ambiência cultural não
contribui para a difusão do conhecimento e a valorização dos próprios
bens históricos, culturais e religiosos. Principalmente, quando se
costuma valorizar somente o que pertence aos outros, em lugares
distantes.
A consequência dessa visão distorcida é o inadequado tratamento, nos
campos da preservação e promoção, por parte de cidadãos e governantes. É
lastimável o desconhecimento da riqueza da própria história. Parece que
tudo começou hoje. Perde-se, no esquecimento, a herança dos
antepassados, com prejuízos para identidades e sua preservação. Nesse
horizonte, é deplorável a incapacidade para lidar, usufruir e valorizar
as diferentes culturas que compõem o tecido de uma sociedade. É
condenável a tendência jocosa de “rifar” a própria riqueza cultural,
enfraquecendo o amálgama consistente que pode advir desse patrimônio.
Sem esses bens, a contribuição cidadã fica sempre muito comprometida,
pois se perde componente determinante para a promoção da autoestima.
Perde-se a capacidade para a inovação e a audácia. Habitua-se ao que é
mediano e contenta-se em admirar o que é extraordinário, mas pertencente
a outros lugares e pessoas.
Nessa direção, convive-se com prejuízos - na economia, no turismo e
na infraestrutura. Potencialidades são desperdiçadas. Esses
comprometimentos, com uma lista de tantos outros, precisam ser
considerados, pois não é possível admitir as perdas acirradas pelas
irresponsabilidades ou incompetências das instâncias administrativas e
governamentais. É preciso que se contemple os patrimônios de outras
culturas, não para simples contemplação, mas como gesto capaz de mexer
com os próprios brios e, assim, suscitar um espírito de luta - força
para ações que busquem valorizar o que se tem e o que se é. Os que
governam necessitam de uma sabedoria que lhes permita incursões no
domínio da cultura para promover e fortalecer valores com a
insubstituível consciência da prioridade que merecem os mais pobres. O
desenvolvimento de uma sociedade, para ser duradouro, tem que ser
sustentável e integral.
A gestão, pois, para além de resultados econômicos, deve se pautar na
relação entre princípios e valores, alicerçados nos parâmetros da
justiça, liberdade e da verdade. Esse modo de pensar processos
gerenciais é conflitante com o que se percebe na dimensão da política
partidária. Os representantes do povo, no Executivo e no Legislativo,
gastam tempo demais na arquitetura de conchavos, coligações, discussões,
muitas delas de caráter apenas partidário, motivadas por interesses
pessoais ou de pequenos grupos. Sobra pouco tempo para os assuntos
verdadeiramente urgentes, de interesse da população, que requerem
sabedoria, agilidade, priorização. Prevalecem a pouca assertividade, a
velocidade similar a passos de tartaruga, a busca por soluções a partir
de velhas respostas, sem inventividade. Vangloria-se sobre o que já foi
feito, quase sempre aquém das necessidades e das potencialidades.
Gasta-se tempo demais com disputas por cargos e para a satisfação de
interesses partidários. Certamente, esses são alguns hábitos que
inviabilizam o desabrochar de autênticos líderes. No complexo âmbito de
gestão e política, há urgências que exigem ousadia, correções de
elementares posturas. De modo mais amplo, torna-se urgente corrigir
dinâmicas que atrasam processos, promovem a mediocridade, demolindo
patrimônios culturais, históricos e religiosos em razão de vícios e
descompassos na relação entre a gestão e a política.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Disponível em: http://amaivos.uol.com.br/amaivos2015/?pg=noticias&cod_canal=42&cod_noticia=36729
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