Por PSOL RN
No coração do Agreste Potiguar, o professor Oton Mário, ou o “liso”,
como ficou conhecido pela população por fazer uma campanha sem os gastos
exorbitantes das candidaturas tradicionais, contou com a força do povo,
com o vigor da juventude e foi uma das prefeituras que o PSOL elegeu em
2016. A outra cidade onde o PSOL elegeu prefeitura no primeiro turno
foi Janduís, que também fica no Rio Grande do Norte (RN). A campanha de
Oton destacou-se por canalizar o sentimento de indignação,
consolidando-se com uma campanha ética, propositiva e com um programa
construído coletivamente em praça pública como alternativa para a
verdadeira mudança que o município necessita derrotando as oligarquias
locais que revezam-se no poder, desde antes da fundação de Jaçanã.
Mas a vitória em Jaçanã não foi apenas a primeira do PSOL a ser
proclamada em 2016. É, também, um marco para o PSOL: Oton será o
primeiro prefeito LGBT do partido.
As eleições em Jaçanã foram, assim como em outras cidades do país,
marcadas pela tentativa de desqualificação e por ataques LGBTfóbicos por
parte das candidaturas que temiam o êxito eleitoral do PSOL, que em
poucos dias passou de uma caminhada com 15 pessoas para tomar as ruas da
cidade. As candidaturas adversárias, sem propostas ou elementos
políticos para atacar Oton, tentaram, sem êxito, deslegitimar sua
capacidade administrativa por ele ser homossexual assumido.
Segundo dados da ONG Transgender Europer (TGEU) publicados em 2015,
em 2012, no Rio Grande do Norte, foram registradas 73 denúncias
referentes a 148 violações relacionadas à população LGBT pelo poder
público, sendo que em janeiro e setembro houveram os maiores registros,
de 9 denúncias. Houve um aumento de 231% em relação a 2011, quando foram
notificadas 22 denúncias.
Desta forma, a vitória de Oton é também uma vitória contra as
opressões em um estado onde o índice de violência contra a população
LGBT recebe índices alarmantes.
Abaixo segue a entrevista com o prefeito recém-eleito:
PSOL RN: Oton, o PSOL elegeu duas prefeituras no primeiro turno e as
duas são no RN, em cidades onde o coronelismo e o poder aquisitivo
geralmente falam mais alto, você já esperava o resultado em Jaçanã ou
foi uma surpresa?
Oton Mário: Na verdade, desde que me propus a ser candidato eu
acreditava que essa vitória seria possível sim. Eu acreditava na força
da juventude e no seu poder de revolução. E assim foi. A juventude
jaçanaense, por me conhecer muito bem, abraçou essa causa e fez com que
essa conquista acontecesse. Eu sabia que seria muito difícil, quase
impossível até, mas algo dentro de mim gritava que nós chegaríamos ao
final vencedores.
PSOL RN: Quais foram os principais desafios enfrentados durante a campanha?
OM: Foram tantos os desafios enfrentados, entre eles a briga desigual
contra uma oligarquia dominante que se revesa no poder há mais de 20
anos. Fizemos uma campanha do tostão contra o milhão, uma guerra entre
Davi e Golias. Fizemos uma campanha sem grupos, sem acordões, sem
passado político, sem dinheiro, sem investimentos, sem qualquer apoio
político e/ou financeiro. Enfrentamos injúrias e ataques de toda
natureza e éramos motivo de chacota ainda no início da campanha Tudo foi
feito com “a cara e a coragem”, na raça e na garra. Éramos apenas três
pessoas (eu, a vice e um vereador) lutando contra um exército de
soldados da velha política. Mas tínhamos o principal: a nossa história
limpa e uma campanha baseada em proposta viáveis e sólidas. O povo
entendeu a nossa intenção e, capitaneados pela força da juventude,
arrebatávamos multidões chegando enfim à vitória.
PSOL RN: Em um Estado onde o índice de violência LGBTfóbica é
alarmante, você avalia que a sua vitória foi também uma vitória contra o
preconceito?
OM: Com certeza foi. Eu sempre fui uma pessoa muito bem resolvida em
relação à minha sexualidade e toda a minha comunidade sempre soube da
minha orientação sexual. Não havendo o que falar em relação a minha
conduta humana e cidadã ao longo da minha vida, os meus opositores
baixaram o nível da campanha com ataques homofóbicos em rodas de
conversa e nas redes sociais. Constantemente utilizaram o fato de eu ser
homossexual como forma de me depreciar e de me desqualificar perante a
minha comunidade. Frases do tipo: “Quem fazer a primeira dama dele?” ou
“Vocês vão deixar de votar numa mulher para votar em um ‘viado’?” foram
muito replicadas pelos grupos da oposição. Mais que uma vitória contra
as oligarquias dominantes, foi sem dúvidas uma vitória contra o
preconceito e contra a homofobia, o que me deixa duplamente feliz.
PSOL RN: Quais são as principais metas e os objetivos da sua gestão?
OM: Fazer uma gestão descentralizada, participativa e voltada para
atender as reais necessidades da população. Por não estar preso a
acordões e a nenhum um grupo político, sei que faremos um governo
popular com vistas a cumprir integralmente o Plano de Governo que
propagamos amplamente durante a nossa campanha. Vamos reconstruir a
cidade, fazer valer as políticas públicas e mostrar que é possível fazer
uma gestão ética, transparente e justa.
PSOL RN: a juventude foi às ruas em 2013 questionar a velha forma de
fazer política, como você vê o PSOL e as eleições neste contexto?
OM: Acho que as eleições deste ano são um reflexo dos movimentos de
rua ocorridos em 2013. Penso que as pessoas estão cansadas da velha
política e das suas velhas práticas. Isso pode ser medido por uma cidade
tão pequena como Jaçanã e outras aqui em nosso entorno. Em muitas
cidades a população optou pelo novo e por pessoas que nunca foram
políticos, como foi o meu caso. Acredito que o PSOL tem um papel muito
importante nesse novo cenário, primando por sua ética, pela sua
fidelidade ideológica e pela construção de um novo fazer político em
nosso país. É verdade que ainda estamos engatinhando, mas os avanços que
obtivemos nessas eleições já devem ser celebrados e servidos como
parâmetro para novas conquistas.
PSOL RN: Que recado você quer deixar para as pessoas que estão
desacreditadas com a política e como você avalia o alto índice de
abstenção nas eleições este ano?
OM: Penso que as pessoas estão desacreditadas na política porque não
lhes postas opções para mudar. Os políticos e as práticas políticas são
sempre as mesmas e talvez também lhes falte educação política,
informação, conscientização. Penso que é preciso que as pessoas saiam de
suas ‘zonas de conforto’ e partam para a ‘zona de lutas’. Só
conseguiremos derrotar a velha política se nos ingressarmos no meio dela
com a nossa nova visão e com o nosso novo fazer. Assistir a tudo da
poltrona e reclamar não resolve muito. É preciso agir e uma das formas é
aproveitar o processo democrático e entrar na disputa. Me propus a
fazer uma campanha educativa e o resultado foi a vitória. É possível,
mas é preciso acreditar, arregaçar as mangas e cair em campo. As
abstenções provavelmente são um reflexo desse descontentamento das
pessoas com a velha política e com seus representantes, mas acredito que
quando os eleitores se abstêm isso não seja um forma de protesto, mas
sim de deixar que outras pessoas escolham em seu lugar. O que falta é
conscientização política.
Disponível em: http://www.psol50.org.br/blog/2016/10/06/em-jacana-rn-uma-vitoria-contra-a-opressao-entrevista-com-o-1-prefeito-lgbt-do-psol/
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