Segundo a entidade, a medida faz com que o povo pobre e
trabalhador pague a conta da crise enquanto beneficia os detentores do
capital financeiro ao não colocar teto para o pagamento de juros, não
taxar grandes fortunas e não propor auditar a dívida pública. Leia a
nota na íntegra.
Um documento escrito nesta quinta-feira (27) pela
presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) repudia a
PEC 241, que congela os investimentos em saúde e educação por duas
décadas. Na nota, a entidade disse que a medida é “injusta e seletiva”.
“Ela elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os
trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam do Estado
para que seus direitos constitucionais sejam garantidos. Além disso,
beneficia os detentores do capital financeiro, quando não coloca teto
para o pagamento de juros, não taxa grandes fortunas e não propõe
auditar a dívida pública”, escreveram.
A CNBB ainda afirmou que a medida precisa ser “debatida
amplamente na sociedade brasileira” e que através de mobilizações
populares é possível reverter o quadro e garantir que ela não seja
aprovada.
“É possível reverter o caminho de aprovação dessa PEC, que
precisa ser debatida de forma ampla e democrática. A mobilização popular
e a sociedade civil organizada são fundamentais para superação da crise
econômica e política. Pesa, neste momento, sobre o Senado Federal, a
responsabilidade de dialogar amplamente com a sociedade a respeito das
consequências da PEC 241”, apontaram.
Leia o documento na íntegra:
“Brasília-DF, 27 de outubro de 2016
P – Nº. 0698/16
P – Nº. 0698/16
NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 241
“Não fazer os pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida.”
(São João Crisóstomo, século IV)
(São João Crisóstomo, século IV)
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de
2016, manifesta sua posição a respeito da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 241/2016, de autoria do Poder Executivo que, após ter
sido aprovada na Câmara Federal, segue para tramitação no Senado
Federal.
Apresentada como fórmula para alcançar o equilíbrio dos
gastos públicos, a PEC 241 limita, a partir de 2017, as despesas
primárias do Estado – educação, saúde, infraestrutura, segurança,
funcionalismo e outros – criando um teto para essas mesmas despesas, a
ser aplicado nos próximos vinte anos. Significa, na prática, que nenhum
aumento real de investimento nas áreas primárias poderá ser feito
durante duas décadas. No entanto, ela não menciona nenhum teto para
despesas financeiras, como, por exemplo, o pagamento dos juros da dívida
pública. Por que esse tratamento diferenciado?
A PEC 241 é injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a
conta do descontrole dos gastos, os trabalhadores e os pobres, ou seja,
aqueles que mais precisam do Estado para que seus direitos
constitucionais sejam garantidos. Além disso, beneficia os detentores do
capital financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de juros,
não taxa grandes fortunas e não propõe auditar a dívida pública.
A PEC 241 supervaloriza o mercado em detrimento do Estado.
“O dinheiro deve servir e não governar! ” (Evangelii Gaudium, 58).
Diante do risco de uma idolatria do mercado, a Doutrina Social da Igreja
ressalta o limite e a incapacidade do mesmo em satisfazer as
necessidades humanas que, por sua natureza, não são e não podem ser
simples mercadorias (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 349).
A PEC 241 afronta a Constituição Cidadã de 1988. Ao tratar
dos artigos 198 e 212, que garantem um limite mínimo de investimento nas
áreas de saúde e educação, ela desconsidera a ordem constitucional. A
partir de 2018, o montante assegurado para estas áreas terá um novo
critério de correção que será a inflação e não mais a receita corrente
líquida, como prescreve a Constituição Federal.
É possível reverter o caminho de aprovação dessa PEC, que
precisa ser debatida de forma ampla e democrática. A mobilização popular
e a sociedade civil organizada são fundamentais para superação da crise
econômica e política. Pesa, neste momento, sobre o Senado Federal, a
responsabilidade de dialogar amplamente com a sociedade a respeito das
consequências da PEC 241.
A CNBB continuará acompanhando esse processo, colocando-se à
disposição para a busca de uma solução que garanta o direito de todos e
não onere os mais pobres.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, continue intercedendo pelo povo brasileiro. Deus nos abençoe!
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB”
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB”
Crédito: Divulgação/Flickr
Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/2016/10/27/cnbb-lanca-nota-dura-e-chama-pec-241-de-injusta-e-seletiva/
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