sexta-feira, 21 de outubro de 2016

AÇÃO E CONTEMPLAÇÃO

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Experimentamos uma necessidade profunda de unidade em nossa vida. Queremos evitar uma vida dividida em compartimentos, engavetada. Por um lado, tempos de oração explícita (litúrgica e/ou pessoal); por outro, a ação a serviço dos homens e das mulheres no e para o mundo: eis aí uma concepção que rejeitamos. Por outra parte, certas maneiras de conceber a unidade entre estes dois componentes de nossa vida não nos satisfazem. Assim, o adágio: “Trabalhar é também orar!”, é verdadeiro, sem dúvida, sob certas condições; experimentamos, contudo, que não é fácil vivê-lo e que com demasiada freqüência se converte em um slogan vazio de sentido. Assim mesmo, considerar a oração comum ou silenciosa como a ocasião de nos preencher interiormente para estar em condições de entregar-nos em seguida à ação, para logo recobrar de novo forças junto aos recursos ilimitados da vida divina mediante o retorno a um tempo de oração: eis aí outra maneira de ver as coisas que não nos satisfaz.
A revelação de Jesus à Samaritana nos parece muito mais profunda: “O que beber da água que eu lhe der, nunca más terá sede: a água que eu lhe der se converterá dentro dele em um manancial de água viva que salta até a vida eterna” (Jo 4,13). O manancial não conhece um ritmo de doação e de recuperação. O manancial só é tal em seu contínuo brotar. A imagem evoca uma vida que se realimenta na doação mesmo, na ação mesma. Entendamos. Não se trata de negar a importância indispensáveis dos tempos de oração explícita. Porém, sem dúvidas, certas atitudes nos permitiriam viver de maneira mais satisfatória a tensão inevitável entre ação e contemplação. Quem experimenta a contemplação na ação e a ação na contemplação sabe que esta é uma realidade particularmente fecunda.
Impõe-se uma primeira constatação: uma atitude só é autêntica se traduzida em atos, uma convicção só é profunda se manifesta uma ação apropriada, um ensinamento só pode ter crédito se primeiro se dá o exemplo. Deste modo a vida contemplativa, vivida como a viveram os Monges e os Eremitas do Deserto é surpreendentemente atual. Não estamos comprovando que os homens e as mulheres de hoje, sobretudo os jovens, são muito menos sensíveis a uma “ortodoxia” que a uma “ortopraxis”? No fim das contas, a precisão do pensamento os importa menos que a autenticidade da ação. Ou, pelo menos, para eles, só a segunda pode dar peso à primeira.
A Igreja vive em mundos diferentes sempre a mesma realidade: testemunhar o Cristo vivo! As exigências de testemunhos são sempre as mesmas, mesmo que as realidades dos homens e das mulheres sejam distintas. São muitos os que se colocam, também agora, a questão: onde está a Igreja verdadeira? È a antiga Igreja que invoca a sucessão apostólica, garantida por uma transmissão de poderes mediante um rito de ordenação, porém cujos membros aliavam com muita freqüência a sua preocupação pela ortodoxia um estilo de vida mundano e interesses de poder material e materialista? Não convém melhor buscá-la em grupos marginalizados, condenados talvez pela Igreja em nome da ortodoxia, porém que voltaram ao estilo de vida da Igreja apostólica e davam verdadeiro testemunho da Verdade? Nossa atitude (, as minhas particularmente,) quiçá não se inspira em uma vontade explícita de dar uma resposta à esta questão. E, no entanto, minha ortopraxis, vivida embasada no Evangelho, no meio e com e para os excluídos e marginalizados, constitui por si mesma a melhor, por ser a única que tenho, resposta a essa interrogação.

 Foto de Dom Abade Antonio.
Dom Abade Antônio
Mosteiro Domus Mariae

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