Aflição, angústia, tristeza e medo tomaram conta da minha time line no Facebook nos últimos dois dias. Sentimentos gerados por vários amigos e amigas que se sentem expostos diariamente à violência contra LGBTs no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro. Na noite do último dia 2, Diego Vieira Machado, aluno da UFRJ, jovem, negro, gay, foi encontrado morto no Campus do Fundão.
Amigos e amigas da vítima afirmam que ameaças e insultos eram agressões permanentes na vida do jovem, assim como cada estereótipo reforçado cotidianamente, como por exemplo fazer piadas sobre gays e usar o “viado” como primeiro xingamento num momento de raiva, estresse e desequilíbrio emocional.
Isaac Porto, bacharel em Direito e militante do Coletivo Nacional Enegrecer, publicou em seu perfil no Facebook: “Já perguntou pros seus amigos gays como eles estão se sentindo depois de mais um caso de morte por homofobia? Já pediu desculpas pelas vezes em que você expôs e humilhou seu amigo gay com aquela brincadeira que só você e seus amigos acharam graça na época em que ele ainda tava no armário e descobrindo a sua identidade?”
A opressão contra LGBTs possui várias formas e nuances, abrangem violências que não são tipificadas pelo código penal. Não se restringe à rejeição, ou ao ódio, mas também às práticas de indiferença com que essas pessoas são tratadas diariamente. Mas, na naturalização de inferioridade, de anormalidade e de mal que deve ser combatido. Alguns poucos se solidarizam com a morte, mas apontam dedos, julgam e desferem falas do tipo: “Pode até ser gay, mas não precisa se parecer com um, né?” “Não precisa beijar perto de mim...” , ou seja, não agride-se fisicamente, mas atacamos as formas de ser de cada um.
Embora o Brasil nos últimos 12 anos tenha tido grandes avanços nas políticas públicas de promoção do direito de LGBTs, muito há o que ser feito, e o atual (des)governo tem erradicado iniciativas que antes promoviam ações e intersecções nas políticas. Não precisa se esforçar muito pra ver alguma violação no seu campo de visão. Um estupro corretivo cometido contra lésbicas, uma criança na escola que é vítima de bullying homofóbico, ou até sua diferenciação no trato de algum familiar, colega de trabalho ou conhecido gays.
A LGBTfobia faz morada na mesma estrutura patriarcal que abarca o machismo e o racismo. É também estrutural, numa sociedade em que o hétero é visto como modelo de formato a ser existido. O Diego carregava, além da marca de sua orientação sexual, ser negro e jovem num país em que tais identidades são suprimidas e oprimidas em vários contextos.
Estou fazendo meu exercício diário de levar uma palavra de conforto a meus amigos e amigas LGBTs. E você?
*Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.
Disponível em: http://www.jb.com.br/juventude-de-fe/noticias/2016/07/05/a-homofobia-que-destroi-sonhos-juvenis-fez-mais-uma-vitima/
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