domingo, 30 de novembro de 2014

ADVENTO: ESPIRITUALIDADE E LITURGIA


O significado da palavra: vinda, chegada.
• O Advento é ponto de partida e ponto de chegada do ano litúrgico (espiral do tempo).
• A Igreja se prepara para o Natal, recordando o nascimento histórico de Cristo.
• O Advento apresenta sempre a tríplice “vinda” de Cristo: Cristo veio, Cristo vem, Cristo virá (ontem, hoje e sempre).
• É esta a chave de leitura dos textos litúrgicos do advento.
• Cristo veio. Mas de que adianta se ele não vem agora para cada pessoa? “Nós é que temos que nascer para Ele” (fr.Walter Hugo).
• O Advento é também o nosso tempo; estamos sempre no “advento” de nós mesmos. Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo.
• Celebrando sua vinda histórica, realiza-se sua vinda atual no mistério do culto, realizando-se assim, mais uma etapa da preparação da última vinda de Cristo.
• A Igreja vive e celebra esta tensão do “já presente” e do ainda “por vir”.
• Cristo é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.
• O Reino messiânico já está presente pela justificação e pela graça. Mas ainda não está plenamente presente nos corações dos que crêem no Senhor Jesus. É preciso que Ele venha para que se instaure o Reino de justiça, de paz, de reconciliação, onde todos se reconheçam irmãos.

Frei Régis G. Ribeiro Daher


VIVER O TEMPO DA ESPERA




Toda a existência cristã é caracterizada pelo Advento-Vinda, o que vale dizer que somos peregrinos na história, a caminho da pátria definitiva. O Senhor permanentemente vem ao nosso encontro, caminha conosco e mantém viva a nossa esperança.
O Advento manifesta os dois aspectos da vinda do Senhor: nas duas primeiras semanas, o “Advento escatológico”, ou seja, sua vinda definitiva, e, nas duas últimas semanas, o “Advento Natalício”, sua primeira vinda, o Natal. “Abre as portas, deixa entrar o Rei da glória. É o tempo, ele vem orientar a nossa história”.
Com o profeta Isaías e com João Batista, acolhemos o apelo à conversão para que sejam superadas todas as formas de dominação, exclusão e miséria, para que se realize uma sociedade com liberdade e dignidade para todos. Com Maria, vivemos a alegria e a confiança. “A Virgem, Mãe será, um Filho, à luz dará. Seu nome, Emanuel: conosco Deus do céu; o mal desprezará, o bem acolherá”.
Com atenta vigilância, alegre expectativa e renovada esperança, vivamos o Tempo do Advento retomando o seguimento de Jesus, tornando-nos, como ele, discípulos missionários da vida e da paz, fazendo crescer em nós e em nossas comunidades a certeza de que ele continua vindo através de nós.

A esperança pessoal, coletiva e cósmica

Seríamos muito pobres se reduzíssemos o Advento, simplesmente, a um tempo de preparação para a festa do Natal. O Advento, tempo de espera, é baseado na exprectativa do Reino e a nossa atitude básica é acender e renovar em nós esse desejo e esse ânimo. Num tempo marcado pelo consumo, é preciso que afirmemos profeticamente a esperança.
No âmbito pessoal, intensificando o desejo do coração e retomando o sentido da vida. Mas as esperanças são também coletivas: é o sonho do povo por justiça e paz – “fundir suas espadas, para fazer bicos de arado, fundir suas lanças, para delas fazer foices” (Is 2,4). As esperanças são também cósmicas: “A criação geme e sofre em dores de parto até agora e nós também gememos em nosso íntimo esperando a libertação” (Rm 8, 18-23).
“O melhor da festa é esperar por ela”, diz um ditado popular. Do ponto de vista humano, a espera e a preparação de um acontecimento são tão importantes quanto o evento. Daí a necessidade de fazermos uma avaliação do que significa e de como vivenciamos o tempo do Advento em nossas comunidades. Que importância damos ao tempo do Advento?

“Deixem o Advento ser Advento”




“Atualmente, muitas comunidades eclesiais, influenciadas pela onda consumista por ocasião das festas natalinas e de final de ano, estão assumindo o costume de enfeitar suas igrejas já bem antes do Natal chegar. Em pleno tempo do Advento já ornamentam suas igrejas com flores, pisca-pisca, árvores de Natal e outros motivos natalinos, como se já fosse Natal. Não sejam tão apressadas, Não entrem na onda dos símbolos consumistas da nossa sociedade. Evitem enfeitar a igreja com motivos natalinos durante o Advento. Deixem o Advento ser Advento e o Natal ser Natal” . (5)
É preciso tomar cuidado de não abortar o Advento ou celebrá-lo superficialmente. Esse cuidado nos levará a não antecipar o Natal, fazendo celebrações natalinas antes do previsto, ou usando ritos e sinais próprios da festa. Mas também não podemos celebrar o Advento como se Cristo ainda não tivesse nascido. A longa noite da espera terminou. O mundo já foi redimido, embora a história da salvação continue…

(4) COLOMBO, Dom Sérgio Aparecido, PNE – QVJ, nº 42, Roteiros Homiléticos, CNBB, 2007, p.5-8. 

(5) SILVA, Frei José Ariovaldo da, Mundo e Missão, dezembro 2004


A COROA DO ADVENTO





Desde a sua origem a Coroa de Advento possui um sentido especificamente religioso e cristão: anunciar a chegada do Natal sobretudo às crianças, preparar-se para a celebração do Santo Natal, suscitar a oração em comum, mostrar que Jesus Cristo é a verdadeira luz, o Deus da Vida que nasce para a vida do mundo. O lugar mais natural para o seu uso é família.
Além da coroa como tal com as velas, é uso antigo pendurar uma coroa (guirlanda), neste caso sem velas, na porta da casa. Em geral laços vermelhos substituem as velas indicando os quatro pontos cardeais. Entrou também nas igrejas em formas e lugares diferentes, em geral junto ao ambão. Cada domingo do Advento se acende uma vela. Hoje está presente em escolas, hotéis, casas de comércio, nas ruas e nas praças. Tornou-se mesmo enfeite natalino. Já não se pode pensar em tempo de Advento sem a coroa com suas quatro velas.

Simbolismo da Coroa de Advento 

Pelo fato de se tratar de uma linguagem simbólica, a Coroa de Advento e seus elementos podem ser interpretados de diversas formas. Desde a sua origem ela possui um forte apelo de compromisso social, de promoção das pessoas pobres e marginalizadas. Trata-se de acolher e cuidar da vida onde quer que ela esteja ameaçada. Podemos dizer que a Coroa de Advento constitui um hino à natureza que se renova, à luz que vence as trevas, um hino a Cristo, a verdadeira luz, que vem para vencer as trevas do mal e da morte. É, sobretudo, um hino à vida que brota da verdadeira Vida.
A mensagem da Coroa de Advento é percebida a partir do simbolismo de cada um de seus elementos.

O Círculo

A coroa tem a forma de círculo, símbolo da eternidade, da unidade, do tempo que não tem início nem fim, de Cristo, Senhor do tempo e da história. O círculo indica o sol no seu ciclo anual, sua plenitude sem jamais se esgotar, gerando a vida. Para os cristãos este sol é símbolo de Cristo.
Desde a Antigüidade, a coroa é símbolo de vitória e do prêmio pela vitória. Lembremos a coroa de louros, a coroa de ramos de oliveira, com a qual são coroados os atletas vitoriosos nos jogos olímpicos.

Os ramos verdes


Os ramos verdes que enfeitam o círculo constumam ser de abeto ou de pinus, de ciprestes. É símbolo nórdico. Não perdem as folhas no inverno. É, pois, sinal de persistência, de esperança, de imortalidade, de vitória sobre a morte.

Para nós no Brasil este elemento é um tanto artificial e, por isso, problemático, menos significativo, visto que celebramos o Natal no início do verão e com isso não vivenciamos esta mudança da renovação da natureza. Por isso, a tendência de se substituir o verde por outros elementos ornamentais do círculo: frutos da terra, sementes, flores, raízes, nozes, espigas de trigo.
Para ornar a coroa usam-se também laços de fitas vermelhas ou rosas, símbolo do amor de Jesus Cristo que se torna homem, símbolo da sua vitória sobre a morte através da sua entrega por amor.
Deste modo, nas guirlandas penduradas nas portas das casas, os laços ocupam o lugar das velas.
Lembram os pontos cardeais, a cruz de Cristo, que irradia a luz da salvação ao mundo inteiro.

As velas





As quatro velas indicam as quatro semanas do Tempo do Advento, as quatro fases da História da Salvação preparando a vinda do Salvador, os quatro pontos cardeais, a Cruz de Cristo, o Sol da salvação, que ilumina o mundo envolto em trevas. O ato de acender gradativamente as velas significa a progressiva aproximação do Nascimento de Jesus, a progressiva vitória da luz sobre as trevas.Originariamente, a velas eram três de cor roxa e uma de cor rosa, as cores dos domingos do Advento.

O roxo, para indicar a penitência, a conversão a Deus e o rosa como sinal de alegria pelo próximo nascimento de Jesus, usada no 3º domingo do Advento, chamado de Domingo “Gaudete” (Alegrai-vos).


Existem diferentes tradições sobre os significados das velas. Uma bastante difundida:
  • a primeira vela é do profeta;
  • a segunda vela é de Belém;
  • a terceira vela é dos pastores;
  • a quarta vela é dos anjos.

Outra tradição vê nas quatro velas as grandes fases da História da Salvação até a chegada de Cristo. Assim:

  • - a primeira é a vela do perdão concedido a Adão e Eva, que de mortais se tornarão seres viventes em Deus;
  • - a segunda é a vela da fé dos patriarcas que crêem na promessa da Terra Prometida;
  • - a terceira é a vela da alegria de Davi pela sua descendência;
  • - a quarta é a vela do ensinamento dos profetas que anunciam a justiça e a paz.

Nesta perspectiva podemos ver nas quatro velas as vindas ou visitas de Deus na história, preparando sua visita ou vinda definitiva no seu Filho Encarnado, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo:
  • - o tempo da criação: de Adão e Eva até Noé;
  • - o tempo dos patriarcas;
  • - o tempo dos reis;
  • - o tempo dos profetas.

(6) BECKHÄUSER, Frei Alberto, Coroa de Advento – história, simbolismo e celebrações, Vozes, 2006.


O Advento de nós mesmos

Hoje ainda é Advento
Advento significa preparação para a vinda do Messias na carne quente e humana de Jesus Cristo na festa do Natal. Advento simboliza ainda a preparação da humanidade para a chegada do Salvador do Mundo. E Ele já veio. Por isso não deveria em si haver mais o tempo do advento. O tempo da espera e das trevas já passou e andamos à luz do Esperado que já irrompeu.
Porque então festejamos ainda o advento? Não é só um rito litúrgico e um tempo que prepara o Natal? Não. O advento é também o nosso tempo, depois da encarnação de Deus. É verdade que Deus veio de forma definitiva para dentro de nossa pequenez, mas, apesar disso, Ele é sempre aquele que ainda deve vir e continua chegando para cada um e para todo o mundo.
Cada um vive no Antigo Testamento de si mesmo porque vive na imperfeição e no pecado, no desejo da redenção e na ânsia do Libertador. Os tempos messiânicos foram inaugurados com o Messias Jesus, mas não se completaram ainda. Não é ainda verdade aquilo que Isaías sonhou para os tempos ridentes do Messias; o lobo ainda não é hóspede do cordeiro, a pantera não se deita ao pé do cabrito, nem o touro e o leão comem juntos; não é verdade ainda que a vaca e o urso se confraternizam e o leão come palha com o boi; não é ainda verdade que a criança de peito brinca à toca da serpente e o menino crescidinho mete a mão no buraco do escorpião (Is 11, 6-8).
Numa palavra: a reconciliação do homem com o outro homem e com a natureza é ainda um suspiro dolorido. Cremos que fomos libertados por Jesus Cristo, entretanto, nos sentimos tão pecadores como o homem pré-cristão. Não se realizou a profecia de Jeremias para o nosso tempo, de que Deus colocaria no nosso interior a sua lei santa e Ele mesmo a escreveria em nossos corações (Jr 31,33).
Toda esta situação nos convence: hoje é ainda advento. Temos que esperar a vinda de Deus que modificará o estado calamitoso deste mundo realizando os sonhos dos antigos profetas e as nossas próprias esperanças. Cada ser humano carrega dentro de si uma riqueza que não alcança ser mostrada durante nosso percurso terrestre. Não nos realizamos totalmente, por mais que nos esforcemos. Estamos sempre no advento de nós próprios.
Mas um dia, tudo florescerá em nós quando Deus mesmo se revelar a nós próprios; então não haverá mais advento; será Natal eterno; Deus terá nascido e se revelado definitivamente dentro de nosso coração. O advento cristão professa: em alguém, em Jesus, Deus se manifestou totalmente. Nele a espera expirou. Para nós, advento significa então: esperar e preparar-se para aquilo que se revelou em Cristo se revele também em nós. Enquanto isso não acontecer, suplicamos como os primeiros cristãos: Vem, Senhor Jesus! Vem! É o nosso advento cristão.
Leonardo Boff

A novidade na contínua vinda de Jesus

O ontem messiânico, o presente atual e esperançoso, o futuro profético
A vinda de Cristo é antiga e é nova.
É um fato passado que se atualiza na celebração litúrgica. A Igreja é antes de tudo a esposa de Cristo, único sumo sacerdote. Neste sentido, é a receptora dos sacramentos, mas não a produtora nem a criadora. A Igreja reelabora os sacramentos como colaboradora do esposo de quem recebe a vida e tudo para poder atuar.
Por isso o sentido e fim da celebração litúrgica é precisamente o de fazer participar a todas as gerações ativamente na obra da salvação de Cristo. No tempo de Advento a obra de salvação se expressa de maneira escatológica. Trata-se do Cristo Juiz, Senhor, Rei, que virá no final dos tempos. É o Cristo em Majestade dos grandes mosaicos das catedrais.
O mistério do culto litúrgico faz possível que a eternidade irrompa no tempo para que o mistério originário chegue a celebrar-se, e a salvação contida na ação salvífica passada alcance a cada geração.
Portanto a Escritura, a Liturgia e os Padres anunciam sempre a morte do Senhor, certamente como morte salvífica, como núcleo central do mistério do culto: «mortis Dominicae mysteria». A morte tem como conseqüência a vida de Cristo. Dirá o liturgista Odo Casel que à Jesus Cristo, chegamos através do Jesus histórico, assim também à Ressurreição chegamos pela morte.
A ação salvífica de Cristo nos conduz à sua Páscoa e nos faz, por seu Espírito, participar dela e ser transformados pela própria Páscoa de Cristo morto e ressuscitado, para passar assim à vida e à vida eterna. «Cristo atua verdadeiramente nos sacramentos como o sumo sacerdote de sua Igreja, que a liberta através de sua ação salvadora e a conduz à vida», dizia Odo Casel.
O tempo do Advento conduz a Igreja ao limiar de sua existência, daí que a grande característica do Advento deverá ser a esperança. Escutamo-lo neste primeiro domingo: «Deus vos chamou a participar na vida de seu Filho, Jesus Cristo, Senhor nosso». Somos chamados a realizar plenamente o plano de Deus sobre todos e cada um de nós. Recorda-nos o Advento que, no presente se nos apresenta o futuro.
O Advento é um tempo real e atual. Enquanto escutamos as profecias ainda não realizadas, vemos passar o mundo ante nossos olhos e ansiamos por esse mundo que virá e que já começamos a viver e a preparar no presente.
Enquanto esperamos o amanhã, feliz e desejado, trabalhamos no presente, atual e esperançoso e olhamos o passado (vindo na carne mortal de Cristo) e nos lembramos de ter tido o Messias entre nós, e tomamos força em nossa carne que foi a sua e que, portanto, está cheia da força salvífica que ele infundiu.
O Advento é um tempo real e presente que, ao ver o ontem messiânico, nos lança para o futuro profético. Em todo o processo está a Trindade Santa: o Pai que cria, o Filho que vem a este mundo a recriá-lo e o Espírito Santo que o santifica e o une no amor.
Pe. Juan Javier Flores Arcas, OSB

Reitor do Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo – Roma
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Disponível em:  http://www.franciscanos.org.br/?p=5865

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