O mito nada mais é que uma concepção imaginária, fabulosa, que criamos ao longo da história para sustentarmos nossa vida. Jair Messias Bolsonaro é por muitas e muitos considerado um “mito” por
que se enxergam nele, o colocam num patamar de divindade pois acreditam
fortemente que ele é tudo aquilo que no fundo sonham ser . Ocorre, no
entanto, que esse “mito” tem perna curta.
Em
um vídeo recente, no meio de sua mudança para o PEN — Partido Ecológico
Nacional [que terá sua sigla alterada para PATRIOTAS], Jair Bolsonaro afirmou que pretende ser um presidente honesto, cristão e patriota. E
não, este discurso não é novidade. Suas quase 3 décadas dentro da
política como deputado federal têm sido sustentadas por estes pilares.
Ou indo mais longe, a própria ditadura militar de 1964 usou destes “bordões” como base.
No
fim das contas, Bolsonaro e a ditadura militar são lados da mesma
moeda. Representantes da ignorância, do fascismo e da violência, que
tentam se mascarar usando esses apelos populares como a corrupção, a
religião e o amor ao país. E, pra variar, nos dois casos vemos que essas
mascaras não encaixam dentro da realidade.
Como pode um suposto “patriota” votar favorável para que petroleiras estrangeiras explorem nosso pré-sal?
Há
mais de século que o petróleo ganhou importância estratégica para as
nações — a exploração do mesmo é um instrumento de interesse nacional
que garante não só o desenvolvimento econômico do país mas também o
social, principalmente pelos royaltiesvindos de sua exploração (aplicados atualmente no Brasil[no caso do pré-sal] em saúde e educação). Bolsonaro foi a favor de entregar esta nossa riqueza para o estrangeiro.
Não só o petróleo, o deputado também é a favor que empresas de fora explorem a floresta Amazônica.
Numa visita recente em Manaus, o presidenciável criticou o uso da
Amazônia pelos indígenas, povos originários da mesma, ao mesmo tempo que
afirmava ser preciso buscar “parcerias” com países como os EUA para exploração das riquezas minerais da floresta. Onde está o patriotismo de Bolsonaro?
E
quando vamos ver o manto de honestidade cujo tenta se esconder, é
notável que não serve no mesmo. Bolsonaro já foi do PTB, do PP, agora é
do PSC e tá de namorico com o PR, todos partidos cobertos até a cabeça
por casos corrupção, e que repassam dinheiro do financiamento eleitoral
de grandes empresas para ele durante as campanhas; por exemplo, os 200 mil reais da JBS S/A, investigada na operação “Carne Fraca”, em 2014 – em entrevista na Jovem Pan ele explica que devolveu o dinheiro para o partido (que o mandou a mesma quantia logo depois).
Igualmente,
até hoje Jair Bolsonaro, acusado de receber 50 mil reais em propinas no
esquema de caixa-dois em Furnas, não conseguiu explicar seu nome
envolvido nessa maracutaia. Apesar de negarem, a “Lista de Furnas” teve autenticidade comprovada pela Polícia Federal, que concluiu “que
a lista não foi montada e que é autêntica a assinatura que aparece no
documento, de Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia de Furnas”.
Bem como, recentemente, o renomado fotógrafo Lula Marques conseguiu registrar uma misteriosa conversa do deputado com seu filho, também parlamentar, Eduardo Bolsonaro, no Whatsapp, onde na prosa Jair diz para o filho comprar ”merdas por ai”, mas que não iria o “visitar na Papuda” [prisão do Distrito Federal], e depois fala que se a imprensa descobrir o que ele estava fazendo iriam “comer o fígado” dos dois. Depois deste escândalo, o mesmo tentou justificar dizendo que o filho estava comprando armas na Austrália - historinha
muito mal contada e até engraçada por sinal: repentinamente o maior
defensor do armamentismo na Câmara dos Deputados iria dizer “compre
merdas por ai” por conta de seu filho, que é policial, estar comprando
armas? E por que a imprensa “comeria o fígado” de um ex-militar e um policial (agora parlamentares) por qualquer ligação com porte de armas? [Insira aqui aquele meme da Mônica no computador e no monitor escrito: ATA.]
Falando em armas, Jair Bolsonaro é autor de um decreto legislativo para proibir o uso de armas por fiscais ambientais - afinal, bandido bom é bandido morto, menos seus amigos latifundiários (muitos da bancada do boi)
que exploram madeira e criam gado em áreas de proteção ambiental,
caçadores, exportadores ilegais de animais silvestres ou multinacionais
farmacêuticas praticantes de biopirataria.
Criminoso mesmo é quem quer proteger o meio ambiente. Lembrando que o
mesmo já foi pego praticando pesca ilegal em Angra dos Reis, no litoral
do Rio de Janeiro, inclusive enfrentou processo no STF por conta disso (mas infelizmente não deu em nada pelo fato de ser um parlamentar).
Também, mais recentemente, descobriu-se que ele e seus filhos empregaram diversos familiares em cargos de gabinete na Câmara dos Deputados —-
o que pode ser lido pela justiça como nepotismo. Inclusive, a defesa da
família é um dos jargões do mesmo quando se trata de sua suposta moral
cristã. Mas como pode uma pessoa seguir os ensinamentos de Jesus Cristo e
agir como o deputado age?
Recentemente, o padre Julio Lancellotti falou em uma de suas pregações que não podemos aceitar Bolsonaro, pois “propõe
a violência, o assassinato e o extermínio dos gays [..] de que o homem é
melhor do que a mulher e que a mulher tem que ser submissa ao homem,
isso é inaceitável no tempo em que nós vivemos“
E
realmente, Jesus Cristo de Nazaré sempre pregou a palavra do amor, do
perdão e da empatia. Qualquer pessoa que siga seu evangelho sabe muito
bem disso, o famoso evangelho de João 8 que nos conta o caso da adúltera
que estava sendo apedrejada é uma amostra explícita sobre como posições
que Bolsonaro e tantos outros conservadores defendem vão totalmente
contra as pregações de Jesus.
Mas nada disso importa. Está tudo bem dizer que se visse dois homens se beijando na rua ela iria agredir, que as minorias têm que se curvar às maiorias ou então desaparecerem, que o erro da ditadura militar foi ter matado pouco, ou falar pra uma colega parlamentar duas vezes que só não a estupraria pois ela não merece - é
só se esconder atrás de uma falsa moral cristã, um discurso de
patriotismo e parecer cumprir nada mais nada menos que a obrigação de
não ser corrupta.
Já
deu para ver o antro de contradições que circunda Bolsonaro, mas,
infelizmente, sabemos que a maioria de seus apoios vem de muito mais
fundo dentro dessa cova e o combate contra a corrupção e a religião são
usados apenas de pretextos, mas enquanto tivermos voz seguiremos
denunciando: o mito será desmitificado.
Otávio Pereira é graduando em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2018/04/14/nem-patriota-nem-honesto-nem-cristao-desmitificando-jair-bolsonaro/
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