Já o partido cristão fez oposição ferrenha à igualdade, porque, tipo, Adão e Ivo etc etc etc.
A história na Alemanha era bem parecida com a do Brasil: partidos
cristãos conservadores atravancavam há anos projetos de lei que
legalizariam o casamento homoafetivo. Até que na semana passada a
chanceler Angela Merkel decidiu fazer uma jogada política e deu
permissão para que os membros da coalizão que comanda no parlamento
alemão votassem como quisessem nesse projeto. A proposta avançou em
passos largos e na última sexta-feira o parlamento alemão aprovou o
casamento igualitário, com 393 votos a favor e 226 votos contra. Entre os votos favoráveis estavam seis parlamentares muçulmanos.
O Partido Verde alemão tem quatro membros muçulmanos, todos votaram
“sim”: Ekin Deligöz, Omid Nouripour, Cem Özdemir e Özcan Mutlu. O
Partido Social Democrata alemão, que já havia criticado Merkel por
“envergonhar” a Alemanha emperrando o casamento igualitário, tem outro
parlamentar muçulmano que votou em prol de LGBTs: Aydan Özoguz.
Até mesmo o partido da chanceler, a União Democrática Cristã (CDU) –
cristã! -, tem uma parlamentar muçulmana: Cemile Giousouf, a primeira
pessoa dessa religião a integrar a Bundestag, em 2013. E ela votou a
favor do casamento igualitário, apesar de seu partido oficialmente ser
contra.
Vamos explicitar aqui: esses parlamentares poderiam simplesmente
abster seu voto. Poderiam votar “não”. Mas pelo contrário, decidiram
deixar bem claro que apoiavam o casamento homoafetivo.
Enquanto isso, Merkel (casada pela segunda vez) votou contra o casamento igualitário.
E afirmou depois de votar: “para mim, o casamento sob a lei alemã é a
união entre um homem e uma mulher, e foi por isso que hoje eu não votei a
favor desse projeto de lei”.
Já estava pegando mal para a Alemanha, vista como estranhamente
retrógrada por seus vizinhos europeus no que tange os direitos LGBTs: no
continente o casamento igualitário já é realidade na Holanda, na
Bélgica, na Espanha, na Noruega, na Suécia, em Portugal, na Islândia, na
Dinamarca, na França e no Reino Unido. Casais homoafetivos alemães
podiam fazer um contrato de união civil desde 2001,
mas mesmo em termos práticos esses contratos não eram iguais ao
casamento: esses casais não podiam declarar imposto de renda em conjunto
nem adotar filhos como um casal, por exemplo.
Infelizmente para nós, brasileiros, já é surpreendente que um
parlamento tenha deputados muçulmanos – e ainda mais em um número
consideravelmente alto para um país de maioria cristã. Que esses
parlamentares religiosos sejam capazes de conciliar sua fé e a igualdade
de direitos é ainda mais espantoso para nossa cultura. É uma lição que
os deputados da bancada evangélica brasileira poderiam aprender com os
parlamentares muçulmanos alemães.
Disponível em: http://ladobi.uol.com.br/2017/07/parlamentar-muculmano-alemanha-casamento-igualitario/
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