O cristianismo, resgatando suas fontes, na memória viva de Jesus, precisa assumir a diversidade como dom.
Deus é diversidade na unidade. (Divulgação)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Aceitar o diverso é uma coisa que, geralmente, custa-nos muito.
Movemo-nos a partir de nossos próprios ideais e o contato com aquilo que
nos é diferente, pode causar estranhamento a ponto de nos fecharmos em
nós mesmos, em posição de defesa. Quando o tema toca aquelas realidades
que dizem respeito aos nossos afetos, a situação se torna mais crítica,
ante o diverso. É o que acontece com a fé.
Para as religiões proselitistas, isto é, as que buscam a promoção de
sua fé, num convite de conversão, lidar com a diversidade é ainda mais
difícil. O próprio cristianismo, hoje multifacetado, tem se mostrado
pouco ou nada capaz de aceitar a própria diversidade interna. Essa
dificuldade se mostra bastante paradoxal, se levarmos em conta que o
cristianismo nascente era diverso, na unidade da fé.
Quando, no século IV, o cristianismo se torna religião permitida e,
ao fim do mesmo século, religião oficial do Império Romano, passa-se a
um processo de institucionalização mais acentuado e aquilo que nos
primórdios era um movimento dos seguidores de Jesus, vai ganhando ares
cada vez mais institucionalizados de religião. Esse processo tornará
possível o que chamamos de Cristandade.
Depois, no século XI, com o cisma entre as igrejas ocidental e
oriental, o processo de romanização da igreja ocidental se acentua, de
forma que a diversidade, definitivamente, passa a ser vista como ameaça.
Isso se torna claro, no século XVI, com a Reforma Protestante e a
resposta católica, eminentemente institucionalizante, com a
Contra-Reforma.
Com o Concílio Vaticano II, depois de longo processo de fechamento
institucional, a Igreja Católica se viu diante do mundo moderno,
interpelada a se posicionar diante de uma série de questões, entre as
quais, a diversidade religiosa. Se antes, o paradigma que a movia era a
concepção de que “fora da Igreja não há salvação”, agora, diante de um
novo cenário, ela precisou dialogar, ainda que timidamente, com o fato
de que a salvação não está restrita à pertença religiosa católica, pois
percebeu que os desígnios salvíficos de Deus extrapolam quaisquer muros
institucionais.
Hodiernamente, quando vivemos esses tempos pós-modernos, percebemos
que a pluridiversidade é um fato inconteste. O cristianismo, resgatando
suas fontes, na memória viva de Jesus, precisa assumir a diversidade
como dom, pois o próprio Deus ao qual se fia é diversidade na unidade.
Mais que ameaça, a diversidade religiosa é possibilidade sempre aberta,
de que a salvação alcance a todos e todas, indistintamente. Sem dúvidas,
esse caminho é de fiel atenção aos sinais dos tempos. É preciso não
deixar que passem despercebidos!
*Felipe Magalhães Francisco é doutorando em Ciências da
Religião, pela PUC-MG, e mestre e bacharel em Teologia, pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia. Articula a Editoria de Religião deste
portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
Disponível em: http://domtotal.com/noticia/1158212/2017/07/cristianismo-e-diversidade-religiosa-entraves-e-perspectivas/
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